Em
Novembro de 1807, iniciava-se a primeira invasão francesa a
Portugal, comandada pelo general Junot. Rapidamente, as tropas de
Napoleão ocupam o país, contando com a preciosa ajuda de tropas
espanholas, sem encontrar qualquer tipo de resistência por parte das
nossas tropas. Durante a ocupação, o nossa país foi saqueado,
tendo inclusivamente os franceses exigido a Portugal uma contribuição
de guerra de 100 milhões de francos. Não satisfeitos, ordenaram
a entrega das peças de ouro e prata das igrejas, capelas e
confrarias.
De
Melgaço, terão saído também algumas peças valiosas como parte
dessa pesada contribuição de guerra, ainda que sejam muito
escassas
as
provas documentais da entrega desses artigos. Um dos poucos documentos
que atestam tais factos é um termo lavrado em Março de 1808, pertencente à velhinha Confraria
do Espírito Santo, da vila de Melgaço, fundada no século XVI mas
desaparecida há muito tempo. Esse velho manuscrito é citado por
Augusto C. Esteves num livro publicado há quase 70 anos, “Melgaço
e as Invasões Francesas”, onde o autor nos fala da entrega de um conjunto
de artigos de prata da citada confraria, com vista a serem entregues
aos franceses.
No
dito livro, podemos ler: “Se
por qualquer capricho da Fortuna, não ficou no Porto para os
espanhóis, naqueles primeiros carros, como lembranças de Melgaço,
lá ia também alguma coisa, afim de ser conduzida para França, no
fim da campanha, graças à malfadada Convenção de Sintra.
E
isto se escreve apesar de ninguém saber onde param os termos de
entrega das pratas das igrejas, capelas, confrarias e irmandades do
nosso concelho, termos lavrados na primeira quinzena do mês de Março
[de 1808] , ao abrigo das instruções publicadas no dia 27 do mês
anterior na casa do tesoureiro da décima, onde os culturais foram
obrigados a levar aqueles bens igrejários confiados à sua guarda
para serem relacionados e pesados na frente do Juiz de Fora da
comarca, e isto se escreve e isto se afirma, porque na falta de tais
documentos, guarda-se na minha casa memória de outra espécie.
Com
toda a simplicidade, mas a reacender tanto limpeza de mãos como
receio das consequências susceptíveis de surgirem num futuro
incerto, ainda e sempre possível naqueles tempos de invasão
estrangeira, se acaso não representa somente o simples protesto
contra a forçada entrega ao invasor das coisas de Deus, di-lo um
velho Livro de Actas duma velha confraria da Vila – a do Espírito
Santo, fundada aí por 1578 e há muito desaparecida para os actos do
Culto.
Ouçamos
a voz longínqua:
"Aos
seis dias do mês de Março de mil oitocentos e oito annos por Ordem
do Governo deste nosso Reino se remeteu para a Cabeça da Comarca a
prata desta confraria que foi a Cruz com sua haste, o Caldeiro com
seu hezope, humas galhetas com seu prato, hum turibulo com sua
naveta, e a vara do Reverendo Prior, que tudo pezou doze arrateis e
meio, e meia quarta digo e meio, e hua quarta. E determinamos que
para o transporte da dita prata visto as ordens determinarem ser à
custa da Confraria, o Thezouro desta satisfará e enporte do seu
transporte que se lhe levará em conta. E para constar se fez este
termo que assynamos. Em meza do dia, mês, anno ut supra.
O
Prior, Pedro da Ribeira Araújo Castro
O
Padre Francisco António da Cunha
O
Eleito, o Padre João Manuel Durães
O
Prometor, Padre Manuel Alvarez Torres
O
Procurador, Padre José Lopes”
E
isto sabia-se aqui na terra, era público e era notório.
Comentava-se. Havia más vontades...”
Em
Melgaço, não há provas que atestem que tropas napoleónicas tenham
passado por aqui. Sabemos que as autoridades melgacenses, ao
contrário das ordens dos franceses no sentido de destruírem todas
as armas reais nos edifícios públicos, mandaram colocar argamassa
sobre as mesmas. Esse procedimento foi seguido, por exemplo, na Fonte
da Vila ou na Câmara Municipal.
Os
franceses foram expulsos de Portugal em 1808 mas voltariam mais duas
vezes…
Fontes
consultadas:
-
ESTEVES, Augusto César (1952) – Melgaço e as Invasões Francesas.
Tipografia Melgacense, Melgaço.
-
SILVA, João Paulo Ferreira (2015) – Primeira Invasão Francesa –
1807 – 1808 – A invasão de Junot e a revolta popular. Academia
das Ciências de Lisboa, Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário