sexta-feira, 27 de setembro de 2019

As belezas de Melgaço no programa "Viagens sem Data" da RTP (1991)



Vamos visitar a nossa terra no início dos anos 90. Há mais de 30 anos, a RTP emitiu um dos programas "Viagens sem Data" dedicado especialmente a Melgaço e à região envolvente. No vídeo, podemos apreciar algumas das maravilhas mais belas deste concelho desde a ribeira até ao monte, desde Castro Laboreiro e Lamas de Mouro até Fiães, Alcobaça, S. Gregório, passando pela vila ou pelas termas. Das belezas naturais à gastronomia...
Tanto para ver, tanto para apreciar e tudo condensado num vídeo onde poderá recordar outros tempos de que certamente terá saudades...
Viaje no tempo e recorde Melgaço de há umas décadas atrás...



sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Um retrato do concelho de Melgaço no último quarto do século XIX





No livro "O Minho Pitoresco", publicado em 1886, o autor, não termina o longo capítulo dedicado a Melgaço sem nos deixar um retrato do concelho em termos estatísticos na época. Podemos ler que "Neste ponto, cumpre parar e lançar uma vista retrospetiva sobre todas as manifestações,pelas quais se revela povoação culta o primeiro concelho norte do país.
Serão ainda umas estatísticas curiosas, que tu apreciarás, leitor,sejas ou não filho desta terra, porque elas, por assim dizer, compendiam o movimento civilizador do teu país.
A escola e a imprensa são dois polos da vida intelectual. A segunda não existe em Melgaço, a primeira ramifica a sua luz segundo a distribuição seguinte: tem 8 escolas primárias do sexo masculino, 1 do feminino e 1 mista.
O numero de alunos que frequentou o ano letivo de 1883 – 1884 foi de 559 rapazes e 182 meninas. As escolas são nas seguintes freguesias : Cristoval (mista), Castro Laboreiro, Fiães, Melgaço (duas, uma do sexo masculino e outra do sexo feminino), Paderne, Paços, Parada de Monte, Penso e Remoães.
Como demonstração de moralidade, temos a estatística criminal, referida ao ano de 1880, a ultima publicada. Na comarca foram nesse ano julgados 35 réus, sendo 10 absolvidos e 23 condenados a penas correcionais. Os crimes eram 25, quatro dos quais classificados como atentados contra a ordem e 21 contra pessoas.
De entre os 35 criminosos, 27 eram homens e 8 mulheres e sabiam ler 20, sendo os outros 15 analfabetos. De entre os 35, 2 eram de fora da comarca e 2 estrangeiros.
Do trabalho, na sua tríplice ramificação de comércio, industria e agricultura, pode dizer-se quanto ao primeiro que existe um pouco florescente, atenta a riqueza do concelho, fazendo-se bastantes transações com a Galiza, e exportando para todo o país os celebres presuntos e para os concelhos próximos algum vinho, lãs, cereais e castanha.
A agricultura é a atividade predominante; reduzida, porém, quase ao período pastoril e de criação nas freguesias serranas, onde se apresenta a raça bovina cruzada de barrosã e galega, as ovelhas, e alguns péssimos exemplares de gado equino, asinino e muar, mal alimentados e vivendo pelas pastagens da serra. Nas freguesias da Ribeira Minho, o vinho, os cereais, as frutas, principalmente a castanha, têm já uma larga produção e tornam o concelho bastante fértil. O vinho verde é bastante ácido e taninoso, e usa-se a cultura da vinha pelas pequenas ramadas de arjoeiro, latadas e poucas uveiras. As freguesias mais produtoras são as de Penso, Parada, Passos, Cristoval e Chaviães.
O preço médio é de 26$000 réis por pipa. As castas vulgares são: o espadeiro, o cainho, o pical, e a tinta, vulgarmente chamada espadeiro de Basto.
As vindimas principiam ordinariamente a 20 de setembro. As uvas, sem escolha nem seleção, são lançadas nos lagares de cantaria ou em dornas de madeira. Pisadas logo, ficam em fermentação pelo espaço de 48 a 72 horas, no fim das quais o vinho é envasilhado, sendo em Abril trasfegado para outras vasilhas.
Fazem vinho branco e tinto, e destes distinguem uma qualidade melhor por ser fabricado com uvas de melhores castas, mais sazonadas e escolhidas. A duração do vinho não excede um ano.
O ultimo recenseamento dos gados feito em 1872 dá para o concelho um valor médio de 51.761 $ 810 réis, o que deve considerar-se abaixo da verdade.
As espécies pecuárias são assim divididas:


A vida económica é ainda fácil no concelho. A propriedade rural rende 3 por cento em média e no mercado, abundante de hortaliças, frutas, legumes e aves de criação, os preços regulam pela seguinte tabela:


As feiras efetuam-se nos dias 9 e 22, sendo porém de minguada concorrência esta ultima.
Na página que segue encontra o leitor o mapa elucidativo da população do concelho e do numero de fogos de cada freguesia, tal como o determina o censo de 1878, o ultimo elaborado no nosso país, e bem assim a enumeração dos principais lugares pertencentes a cada uma das paroquias. O leitor compreende, que não podem atingir a verdade rigorosa e exata os elementos de estatística que temos a honra de lhe apresentar.
Que muitas causas não houvesse para essa inexatidão, bastava atender a uma importantíssima,que todos os que se encarregam de trabalhos desta natureza, encontram na sua frente — a ignorância do povo, que nestes trabalhos vê sempre um agravamento do imposto."


- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria de António Maria Pereira-Editor, Lisboa.



sábado, 14 de setembro de 2019

Melgaço, 1956 - Reportagem vídeo sobre a rodagem do filme "Orgulho e Paixão", nas margens do Minho



Há mais de 60, mais concretamente em 1956, decorriam em Melgaço, nas margens do Minho, trabalhos de preparação para a gravação de exteriores do filme "Orgulho e Paixão" do realizador norte-americano Stanley Kramer. 
O filme contava no seu elenco atores célebres como Sophia Loren, Cary Grant ou Frank Sinatra. Na época, tal facto é noticiado em diversos meios de comunicação social. Por exemplo, no jornal brasileiro Correio da Manhã (periódico do Rio de Janeiro), podemos ler a seguinte notícia "Sofia Loren, Cary Grant e Frank Sinatra devem chegar dentro de dias a Portugal para filmar nos arredores de Melgaço os exteriores da película "Orgulho e Paixão", de Stanley Kramer. Uma ponte de barcas está a ser preparada no rio Minho, pois o filme decorre durante as invasões napoleónicas" (edição de 9 de Setembro de de 1956). Boa parte dos exteriores, foram gravadas nas margens do Minho em Arbo, do outro lado do rio.
Fica aqui partilhada uma pequena reportagem em vídeo da época acerca da preparação de exteriores nas margens do Minho, em Melgaço.








sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A lenda da Inês Negra contada a crianças pelo escritor José Jorge Letria




A lenda da Inês Negra tem como pano de fundo um facto histórico ocorrido em 1388 durante o cerco à praça-forte de Melgaço. O cronista Fernão Lopes deixou relatado que “nesse dia escaramuçaram duas mulheres bravas, uma da villa, e outra do arraial”. Apenas já durante a segunda metade do século XIX é que a heroína aparece em alguma bibliografia com o nome de Inês Negra e são deste período as primeiras versões escritas da lenda, nomeadamente a contada pelo professor Pinho Leal no seu livro “Portugal Antigo e Moderno".
Já no primeiro terço do século XX aparecem a versão do Conde de Sabugosa no seu livro “Neves de Antanho” e a lenda contada por Júlio Dantas. Recentemente, apareceu publicada em livro infantil, a lenda da Inês Negra contada pelo escritor José Jorge Letria. A história é contada nestes termos:

"UM DUELO POR PORTUGAL

A História de Inês Negra

Tudo aconteceu no ano de 1388, quando D. João I, o Mestre de Avis, lutava para defender as fronteiras portuguesas dos constantes ataques dos castelhanos, que não desistiam de nos subjugar.
Quando os castelhanos ocuparam Melgaço, no norte de Portugal, Inês, uma mulher do povo que ficou conhecida na História como Inês Negra, abandonou essa praça-forte, mas fez uma jura:
Eu hei de voltar, e há de ser para ajudar a expulsar o inimigo.
E cumpriu a promessa. Quando as tropas portuguesas avançaram para a reconquista de Melgaço, Inês juntou-se a elas, disposta a tudo para ver o invasor derrotado. A batalha final entre os dois exércitos, segundo reza a lenda, acabou por nunca acontecer, já que o seu lugar foi ocupado por duas mulheres apenas.
Inês, do lado português, e a Arrenegada, do lado dos castelhanos. Embora sendo portuguesa, esta defendia-os com unhas e dentes. Foi ela que do alto das muralhas do castelo desafiou Inês Negra para um combate corpo a corpo. Inês logo aceitou o repto, empunhando uma espada e contando com o apoio caloroso dos soldados do Mestre de Avis. A Arrenegada, com um golpe certeiro, conseguiu arrancar a espada das mãos de Inês, mas esta serviu-se de uma forquilha, tentando atingir a adversária nas pernas. Seguiram-se alguns golpes certeiros e outros falhados, e muitos gritos e ameaças.
Depois de ser golpeada nas costas com um varapau, Inês Negra, já sem arma para se defender, atirou-se à Arrenegada com tamanha fúria, que esta, já muito mal tratada, correu a refugiar-se dentro do castelo, enquanto as tropas portuguesas apertavam o cerco ao invasor. Só não ouviu quem não quis a valente Inês a gritar:
- Assim como eu te venci, ó Arrenegada, assim as tropas do Mestre de Avis hão de vencer os castelhanos!
E foi o que acabou por acontecer, mesmo sem ali se travar uma batalha. Percebendo que o cerco iria ser longo e sem saída, os castelhanos acabaram por abandonar aquela praça-forte, entregando-a às tropas portuguesas. Assim se evitou um confronto sangrento.
- Como recompensa, dar-te-ei o que me pedires pelo feito que praticaste – anunciou o Mestre de Avis à brava Inês Negra.
Mas esta, altiva, respondeu ao seu rei:
- Senhor, ver o invasor vencido é a maior de todas as recompensas. Sou uma pobre mulher do povo e assim irei continuar, lutando sempre por aquilo em que acredito.
Haverá quem diga que toda esta história é fruto da imaginação de um povo que gosta de ser independente e soberano. Porém, existe na entrada de Melgaço uma estátua que faz perdurar a lenda e a memória da coragem de uma mulher portuguesa do século XIV: a Inês Negra."



Extraído de: LETRIA, José Jorge (2013) - Histórias Curiosas da Nossa História. Oficina do Livro.