No livro "O Minho Pitoresco", publicado em 1886, o autor, não termina o longo capítulo dedicado a Melgaço sem nos deixar um retrato do concelho em termos estatísticos na época. Podemos ler que "Neste
ponto, cumpre parar e lançar uma vista retrospetiva sobre todas as
manifestações,pelas quais se revela povoação culta o primeiro
concelho norte do país.
Serão
ainda umas estatísticas curiosas, que tu apreciarás, leitor,sejas
ou não filho desta terra, porque elas, por assim dizer, compendiam o
movimento civilizador do teu país.
A
escola e a imprensa são dois polos da vida intelectual. A segunda
não existe em Melgaço, a primeira ramifica a sua luz segundo a
distribuição seguinte: tem 8 escolas primárias do sexo masculino,
1 do feminino e 1 mista.
O
numero de alunos que frequentou o ano letivo de 1883 – 1884 foi de
559 rapazes e 182 meninas. As escolas são nas seguintes freguesias :
Cristoval (mista), Castro Laboreiro, Fiães, Melgaço (duas, uma do
sexo masculino e outra do sexo feminino), Paderne, Paços, Parada de
Monte, Penso e Remoães.
Como
demonstração de moralidade, temos a estatística criminal, referida
ao ano de 1880, a ultima publicada. Na comarca foram nesse ano
julgados 35 réus, sendo 10 absolvidos e 23 condenados a penas
correcionais. Os crimes eram 25, quatro dos quais classificados como
atentados contra a ordem e 21 contra pessoas.
De
entre os 35 criminosos, 27 eram homens e 8 mulheres e sabiam ler 20,
sendo os outros 15 analfabetos. De entre os 35, 2 eram de fora da
comarca e 2 estrangeiros.
Do
trabalho, na sua tríplice ramificação de comércio, industria e
agricultura, pode dizer-se quanto ao primeiro que existe um pouco
florescente, atenta a riqueza do concelho, fazendo-se bastantes
transações com a Galiza, e exportando para todo o país os celebres
presuntos e para os concelhos próximos algum vinho, lãs, cereais e
castanha.
A
agricultura é a atividade predominante; reduzida, porém, quase ao
período pastoril e de criação nas freguesias serranas, onde se
apresenta a raça bovina cruzada de barrosã e galega, as ovelhas, e
alguns péssimos exemplares de gado equino, asinino e muar, mal
alimentados e vivendo pelas pastagens da serra. Nas freguesias da
Ribeira Minho, o vinho, os cereais, as frutas, principalmente a
castanha, têm já uma larga produção e tornam o concelho bastante
fértil. O vinho verde é bastante ácido e taninoso, e usa-se a
cultura da vinha pelas pequenas ramadas de arjoeiro, latadas e poucas
uveiras. As freguesias mais produtoras são as de Penso, Parada,
Passos, Cristoval e Chaviães.
O
preço médio é de 26$000 réis por pipa. As castas vulgares são: o
espadeiro, o cainho, o pical, e a tinta, vulgarmente chamada
espadeiro de Basto.
As
vindimas principiam ordinariamente a 20 de setembro. As uvas, sem
escolha nem seleção, são lançadas nos lagares de cantaria ou em
dornas de madeira. Pisadas logo, ficam em fermentação pelo espaço
de 48 a 72 horas, no fim das quais o vinho é envasilhado, sendo em
Abril trasfegado para outras vasilhas.
Fazem
vinho branco e tinto, e destes distinguem uma qualidade melhor por
ser fabricado com uvas de melhores castas, mais sazonadas e
escolhidas. A duração do vinho não excede um ano.
O
ultimo recenseamento dos gados feito em 1872 dá para o concelho um
valor médio de 51.761 $ 810 réis, o que deve considerar-se abaixo
da verdade.
As
espécies pecuárias são assim divididas:
A
vida económica é ainda fácil no concelho. A propriedade rural
rende 3 por cento em média e no mercado, abundante de hortaliças,
frutas, legumes e aves de criação, os preços regulam pela seguinte
tabela:
As
feiras efetuam-se nos dias 9 e 22, sendo porém de minguada
concorrência esta ultima.
Na
página que segue encontra o leitor o mapa elucidativo da população
do concelho e do numero de fogos de cada freguesia, tal como o
determina o censo de 1878, o ultimo elaborado no nosso país, e bem
assim a enumeração dos principais lugares pertencentes a cada uma
das paroquias. O leitor compreende, que não podem atingir a verdade
rigorosa e exata os elementos de estatística que temos a honra de
lhe apresentar.
Que
muitas causas não houvesse para essa inexatidão, bastava atender a
uma importantíssima,que todos os que se encarregam de trabalhos
desta natureza, encontram na sua frente — a ignorância do povo,
que nestes trabalhos vê sempre um agravamento do imposto."
- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria de António Maria Pereira-Editor, Lisboa.
Escola de Remoaes foi a que meu pai frequentou em1888 falou-me muitas vezes da caminhada dos lourencos a Remoaes I
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