sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Um retrato do concelho de Melgaço no último quarto do século XIX





No livro "O Minho Pitoresco", publicado em 1886, o autor, não termina o longo capítulo dedicado a Melgaço sem nos deixar um retrato do concelho em termos estatísticos na época. Podemos ler que "Neste ponto, cumpre parar e lançar uma vista retrospetiva sobre todas as manifestações,pelas quais se revela povoação culta o primeiro concelho norte do país.
Serão ainda umas estatísticas curiosas, que tu apreciarás, leitor,sejas ou não filho desta terra, porque elas, por assim dizer, compendiam o movimento civilizador do teu país.
A escola e a imprensa são dois polos da vida intelectual. A segunda não existe em Melgaço, a primeira ramifica a sua luz segundo a distribuição seguinte: tem 8 escolas primárias do sexo masculino, 1 do feminino e 1 mista.
O numero de alunos que frequentou o ano letivo de 1883 – 1884 foi de 559 rapazes e 182 meninas. As escolas são nas seguintes freguesias : Cristoval (mista), Castro Laboreiro, Fiães, Melgaço (duas, uma do sexo masculino e outra do sexo feminino), Paderne, Paços, Parada de Monte, Penso e Remoães.
Como demonstração de moralidade, temos a estatística criminal, referida ao ano de 1880, a ultima publicada. Na comarca foram nesse ano julgados 35 réus, sendo 10 absolvidos e 23 condenados a penas correcionais. Os crimes eram 25, quatro dos quais classificados como atentados contra a ordem e 21 contra pessoas.
De entre os 35 criminosos, 27 eram homens e 8 mulheres e sabiam ler 20, sendo os outros 15 analfabetos. De entre os 35, 2 eram de fora da comarca e 2 estrangeiros.
Do trabalho, na sua tríplice ramificação de comércio, industria e agricultura, pode dizer-se quanto ao primeiro que existe um pouco florescente, atenta a riqueza do concelho, fazendo-se bastantes transações com a Galiza, e exportando para todo o país os celebres presuntos e para os concelhos próximos algum vinho, lãs, cereais e castanha.
A agricultura é a atividade predominante; reduzida, porém, quase ao período pastoril e de criação nas freguesias serranas, onde se apresenta a raça bovina cruzada de barrosã e galega, as ovelhas, e alguns péssimos exemplares de gado equino, asinino e muar, mal alimentados e vivendo pelas pastagens da serra. Nas freguesias da Ribeira Minho, o vinho, os cereais, as frutas, principalmente a castanha, têm já uma larga produção e tornam o concelho bastante fértil. O vinho verde é bastante ácido e taninoso, e usa-se a cultura da vinha pelas pequenas ramadas de arjoeiro, latadas e poucas uveiras. As freguesias mais produtoras são as de Penso, Parada, Passos, Cristoval e Chaviães.
O preço médio é de 26$000 réis por pipa. As castas vulgares são: o espadeiro, o cainho, o pical, e a tinta, vulgarmente chamada espadeiro de Basto.
As vindimas principiam ordinariamente a 20 de setembro. As uvas, sem escolha nem seleção, são lançadas nos lagares de cantaria ou em dornas de madeira. Pisadas logo, ficam em fermentação pelo espaço de 48 a 72 horas, no fim das quais o vinho é envasilhado, sendo em Abril trasfegado para outras vasilhas.
Fazem vinho branco e tinto, e destes distinguem uma qualidade melhor por ser fabricado com uvas de melhores castas, mais sazonadas e escolhidas. A duração do vinho não excede um ano.
O ultimo recenseamento dos gados feito em 1872 dá para o concelho um valor médio de 51.761 $ 810 réis, o que deve considerar-se abaixo da verdade.
As espécies pecuárias são assim divididas:


A vida económica é ainda fácil no concelho. A propriedade rural rende 3 por cento em média e no mercado, abundante de hortaliças, frutas, legumes e aves de criação, os preços regulam pela seguinte tabela:


As feiras efetuam-se nos dias 9 e 22, sendo porém de minguada concorrência esta ultima.
Na página que segue encontra o leitor o mapa elucidativo da população do concelho e do numero de fogos de cada freguesia, tal como o determina o censo de 1878, o ultimo elaborado no nosso país, e bem assim a enumeração dos principais lugares pertencentes a cada uma das paroquias. O leitor compreende, que não podem atingir a verdade rigorosa e exata os elementos de estatística que temos a honra de lhe apresentar.
Que muitas causas não houvesse para essa inexatidão, bastava atender a uma importantíssima,que todos os que se encarregam de trabalhos desta natureza, encontram na sua frente — a ignorância do povo, que nestes trabalhos vê sempre um agravamento do imposto."


- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria de António Maria Pereira-Editor, Lisboa.



1 comentário:

  1. Escola de Remoaes foi a que meu pai frequentou em1888 falou-me muitas vezes da caminhada dos lourencos a Remoaes I

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