sexta-feira, 26 de julho de 2019

A capela de Santo António (Melgaço): um pouco de História




Quem vem de Santo Cristo em direção à Escola Secundária de Melgaço, descendo a Avenida Salgueiro Maia, encontra do lado direito uma capela dedicada a Santo António, umas das poucas dedicadas a este santo em Melgaço. Em tempos antigos, esta encontrava-se no interior da Quinta de Galvão. Foi fundada por seis irmãs ainda em finais do século XVII, ainda que só tenha sido concluída a sua construção já em pleno século XVIII.
As origens desta capela remontam a 1694. Nesse mesmo ano, a 28 Novembro é lavrada uma escritura para a constituição da fábrica de uma capela pelas seis filhas de António Lobato de Sousa e Castro (D. Madalena Felgueiras Soares, D. Francisca de Cavedo Araque, D. Maria Lobato de Castro, D. Jacinta Zores de Castro, D. Antónia Soares Barbosa e D. Juliana Felgueiras), as quais viviam com o seu irmão D. António de Castro de Sousa Lobato, capitão de cavalos, familiar do Santo Ofício e cavaleiro da Ordem de Cristo, casado com D. Joana Maria Menezes Cardoso. Na escritura, referem como encargos impostos pela sua devoção e vontade duas missas anuais a celebrar nesta capela: uma no dia de Santo António e outra a 2 de Fevereiro, consagrada à Purificação de Nossa Senhora.
Em 1703, a 16 Dezembro, concretiza-se a instituição do vínculo de morgado por D. António e sua esposa, destinando para o mesmo os seus terços das casas que os instituidores tinham começadas na Quinta do Galvão que encostaram e uniram às que herdaram de seus seus pais. As irmãs uniram todos os seus bens aos do irmão para constituição do morgadio, de que faziam parte a Quinta de Galvão, com 432 varas cada um de 10 palmas de comprimido, circundada a norte pelo rio que ia para a Ponte Pedrinha e do sul com a estrada real que ia para a vila de Melgaço, bem como outros bens que tinham em Corujeiras, no Carvalho do Lobo, Rouças, Galvão de Baixo, Caneiro, Beatas, Arrochal e várias pensões. Posteriormente, as seis irmãs aumentaram o número de missas anuais na capela para 13, que seriam ditas a Nossa Senhora da Conceição, a Nossa Senhora, a Nossa Senhora da Encarnação, a Nossa Senhora do Rosário, uma no dia de Natal, duas a Santo António (uma no seu dia e outra noutro dia), outra a Santa Maria Madalena, outra a São José, outra à Paixão do Senhor, outra a São Francisco, outra a Santa Joana. As fundadoras da capela escolheram como primeiro administrador, o irmão António de Castro de Sousa Lobato, passando depois para os seus sucessores no morgado.
No ano de 1750, a 1 Julho, o visitador, o Dr. Domingos Fernandes Ramos, reitor de São Pedro de Merufe, acha a capela necessitada de alfaias e obras.
Em 1754, a 4 Setembro, segundo o visitador, o Padre Marcelino Pereira Cleto, era administrador da capela, Joaquim António de Castro.
Em 1758, a 24 Maio é referido nas Memórias Paroquiais pelo padre Bento Lourenço de Nogueira que a capela era particular.
Em 1771, D. Margarida Matildes de Morais Sarmento, mulher do morgado de Galvão, solicita autorização para ela e sua família se confessar na sua capela, que já tinha confessionário feito na forma da constituição.
A capela de Santo António apresenta alguns aspetos de interesse arquitetónico. Possui planta longitudinal, de corpo retangular, com sacristia retangular, adossada a sudoeste. Apresenta volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas e uma água.
As fachadas são rebocadas e caiadas e em alvenaria de granito, sendo, no corpo da capela, percorridas por cornija saliente, com pilastras nos cunhais, sobrepujados por pináculos com esferas, e cruzes sobre acrotério, no remate das empenas. A fachada principal, virada a sudeste, termina em frontão triangular truncada por sineira, com ventana de arco pleno, assente em pilastras, encimadas por cornija recortada e coroada por cruz. É rasgada por duas janelas retangulares, avivadas superiormente por cornija saliente, enquadrando portal de verga reta, encimado por arquitrave. No tímpano, e interrompendo a linha do entablamento, pedra de armas com timbre e largo paquife.
A fachada nordeste é rasgada por uma janela rectangular. A fachada sudoeste, onde é visível o escalonamento dos corpos, é rasgada por janela retangular na sacristia. A fachada posterior apresenta-se com uma porta retangular na sacristia.
O interior da capela é rebocado e caiado e com embasamento pintado, com pavimento cimentado e lajeado e tendo teto de madeira, de 3 panos. O lado da Epístola possui uma pia de água benta, estriada, e nicho de remate em arco pleno, com parapeito saliente sobre mísula decorada com enrolamentos, e do lado do Evangelho apresenta porta de verga reta e janela retangular, gradeada, comunicando com a sacristia. Sobre supedâneo, com acesso por dois degraus, assenta sobre pano de muro rebocado, retábulo-mor em talha policroma, albergando, centralmente, uma imagem da Virgem. A sacristia é rebocada e caiada e com embasamento pintado de azul, com teto em madeira, tendo pavimento cimentado.


Informações extraídas de:
ESTEVES, Augusto César, Obras Completas, vol. 1, tomo 1, Melgaço, 2003.


sábado, 20 de julho de 2019

Casas comerciais melgacenses de antigamente em artigos publicitários




No artigo de hoje, partilho uma pequena coleção de artigos e anúncios publicitários alusivos a casas comerciais melgacenses de outros tempos. Neste conjunto, encontramos desde recortes de jornais e revista até postais de época e cédulas fiduciárias que se estendem desde finais do século XIX até à segunda metade do século XX. Muitas destas casas comerciais já nem existem, de algumas ainda temos uma boa memória e muito poucas ainda existem.
Viaje no tempo!...

Finais do século XIX



Fonte: "Restaurante melgacenses" in Jornal "A Espada do Norte" (1892)



Primeira metade do século XX

Cédula Fiduciária (1920)


Cédula Fiduciária (1920)

Cédula Fiduciária (1920)


Postal circulado de início do século XX

Postal circulado de início do século XX

Postal circulado de início do século XX


Postal circulado de início do século XX



Anúncio de início do século XX


Fonte: Jornal "A Neve" (1920)


Postal circulado de 1912


Segunda Metade do século XX

Anúncio publicitário da 2ª metade do século XX (data incerta)


Anúncio publicitário da 2ª metade do século XX (data incerta)


Anúncio publicitário da 2ª metade do século XX (data incerta)


Anúncio publicitário da 2ª metade do século XX (data incerta)


Anúncio publicitário da 2ª metade do século XX (data incerta)

Anúncio publicitário da 2ª metade do século XX (data incerta)


Anúncio publicitário da 2ª metade do século XX (data incerta)

Fonte: Revista "Flama" (1967)

Fonte: Revista "Flama" (1967)

Fonte: Jornal "El Pueblo Gallego" (1965)

Fonte: Jornal "El Pueblo Gallego" (1965)


Fonte: Jornal "El Pueblo Gallego" (1965)

Fonte: Jornal "El Pueblo Gallego" (1965)



Fonte: Revista "Flama" (1967)


Fonte: Revista "Flama" (1967)

Fonte: Revista "Flama" (1967)



sexta-feira, 12 de julho de 2019

Uma crónica sobre as Termas do Peso (Melgaço) em 1939




Há 80 anos atrás, as Águas de Melgaço continuavam a ser muito procuradas para os problemas de saúde dos visitantes enquanto estes procuravam desfrutar, durante a sua estadia, de tudo de bom o que a terra tinha para lhes oferecer. Numa crónica publicada no Diário do Minho de 12 de Julho de 1939, podemos ler: "Durante o mês de Junho findo foi sensivelmente diminuta a inscrição dos aquistas na Estância Termal. Atribuía-se este facto estranho à circunstância de os jornais terem propalado o boato da cheia caudalosa e destruidora, que tantos estragos deixou na sua passagem.
Os aquistas, apavorados, convenceram-se naturalmente de que a cheia havia levado consigo as fontes minerais. Mas isso correspondia a crer que uma grande inundação afogara os peixes. Não é verdade?
As circunstâncias, é claro foram outras. O boato só podia ter foros de viabilidade em cérebros avariados ou doentios. O tempo esteve igualmente variável no mês consagrado a Juno, e os doentes aguardavam dias quentes, que chegaram, de uma temperatura constante.
E agora eis que as camionetas de carreiras todos os dias, de manhã e de tarde, vomitam para os grandes hotéis e pensões centenas de hóspedes, que vêm a esta bela estância minhota, encontrar as afamadas águas, alívio e esperança de restabelecimento para os seus sofrimentos.
Nesta semana passada nada houve a registar. Pic-nics, excursões, passeios… nada disso. Está-se a haurir do repouso tónico alento para a distração. Daqui a dias, reina o turismo. Os carros passam para S. Gregório com excursionistas da estância. Passeios recreativos a Monção e à Brejoeira. O salão de jogos do café-bar oscila com o peso dos aquistas. O Martins de Lisboa inicia no Parque do Grande Hotel das Águas (Ranhada) as distrações populares. O Avelino do acordeão não tem pano para mangas na azafama dos concertos musicais. Começaram as rifas e os leilões de quinquilharias da firma acreditada no César & Monteiro. Vêm as cantadeiras de Lisboa ferir nota alacre dos fados e canções portuguesas.
Enfim, começa a vida viva da pitoresca Estância Termal. O sangue dos diabéticos corre por todas as artérias. Vêm estilizar-se da sangria as lavadeiras, as leiteiras, as vendedeiras de fruta, as vendedeiras ambulantes de chocolate, de latas de compota ou conserva de maracoton, as mulheres de recados, os almocreves que transportam nas muares, excursionistas para Fiães ou Castro Laboreiro, o Pires do Cinema, os carros ligeiros de aluguer, as levas numerosas de mendigos, etc., etc. Até a fábrica do Moreira da Silva é uma artéria lautamente beneficiada.
Temos no Peso (Melgaço) duas massas admiráveis: as fontes minero-terapéuticas e a manteiga do Moreira da Silva, cuja obesidade natural e face de cor do presunto de Chaves é um reclame eclatante do produto maravilhoso da sua fábrica.
Vamos adiante. Não vá o público supor que o cronista adiposo de grande diâmetro abdominal, engorda também à custa da Fábrica, por motivo de ali todas as tardes tomar o aromático café ao lado do amável e benquisto fabricante.
Pois é assim, Por enquanto, o espírito sedento de digressões e expansões recreativas deriva a sono solto. Mas breve sai por aí fora muito mexido, ofegante e folgozão.
Damos a seguir as entradas de hóspedes ilustres nos grandes hotéis e pensões:
- No Grande Hotel das Águas (Ranhada)
José Pereira Pimenta de Castro; Comandante José Cunha Santos; Capitão Morais Rosa Salvador Braga, Redactor do “Jornal de Notícias”; Dr. Vitor Viana, médico militar; tenentes coronel Bártolo Simões; Vitoriano Lopes Sampaio, Condessa de Sabrosa e Afonso Vieira Dionísio.

- No Hotel Rocha
Álvaro Lucena; Padre Teófilo de Andrade; D. Maria da Conceição de Lemos Magalhães e D. Margarida de Lemos Magalhães; D. Tereza Furtado da Antas de Figueiredo; Sebastião e Irmão, conscienciosos industriais de Vila Nova de Gaia.

- No Grande Hotel do Peso
Raul Marçal Brandão e esposa; Dr. José Joaquim Machado Guimarães; Elias da Cunha Pinto; Dr. Manuel de Oliveira Campos, médico; D. Mirita Abecassis e sua gentil filhinha D. Cecília; Avelino Vieira Braga e esposa do Porto; Leonardo Palhinha, abastado proprietário de Montemor-o-Novo.

- Na Pensão Boavista
Dr. Manuel Ribeiro da Costa, médico e esposa; Dr. Mexia; capitão César Pina; capitão José Augusto Marçal, esposa e galante filhinha.
Até para a semana.




In: Diário do Minho de 12 de Julho de 1939; republicada em "A Voz de Melgaço", de 1 de Julho de 2019.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

A localização do Porto de Bergote: um mistério com mais de 700 anos



Os lugares que hoje conhecemos por um determinado topónimo nem sempre tiveram o mesmo nome. Nuns casos, o termo apenas sofreu a natural evolução, mas noutros há mesmo uma mudança radical de designação. Muitas vezes, quando lemos documentação antiga, encontramos nomes de lugares que nos são desconhecidos porque já não são usados na atualidade. Também temos casos desses em Melgaço. Por exemplo, em documentos muito antigos, é mencionada uma vila rústica, de nome Bergote, que, atualmente, não tem correspondência na toponímia local. Pelo que se depreende da leitura desses documentos, havia ali um porto de passagem de peregrinos e homens de negócios, para a Espanha, através do rio Minho. Depois de muito estudar, o Padre Manuel Bernardo Pintor alegou que Bergote poderia ter sido um nome primitivo de Paços ou o nome de uma vila medieval situada nesta freguesia.
Outras vilas rústicas, que viriam do tempo medieval, se não da época romana, são mencionadas em documentos do Cartulário de Fiães, como Acre, que dá origem ao nome do lugar Viladraque, ou ainda outros casos como o de Porto dos Cavaleiros, Ponte das Várzeas ou Porto dos Asnos, que hoje em dia estão em desuso ou então deixaram de se usar há séculos.
Como se disse acima, o Padre Bernardo Pintor julgava que a vila de Bergote, em tempos medievais se localizava em Paços, podendo até corresponder à atual sede de freguesia. Nesse sentido, refere na sua obra acerca de Paços em tempos medievais: “Movimento à localidade deve ter-lhe dado uma passagem que havia no rio Minho, por onde, em recuados tempos, passavam os peregrinos que demandavam o santuário jubilar de Santiago de Compostela, bem como pessoas que, das redondezas, se dirigiam para além Minho por motivo de seus negócios.
Era o Porto de Bergote. Tal devia ser a sua importância e o movimento da passagem que a localidade se chamava Bergote de cá e de lá, em ambas as margens do rio, como atesta um documento do mosteiro de Fiães do ano de 1223 pelo qual Toda Monis com os seus seis filhos e filhas de apelido Fernandes e mais os filhos de Marinho Fernandes, que, pelo apelido, se deve presumir ser irmão do marido, venderam uma herdade a Fernando Sanches. Aqui se declara: A mesma herdade está situada na vila que chamam Bergote. Vendemos-te quanto aí temos em uma parte do Minho e na outra.
Caso estranho é o facto de no fim do documento se mencionarem não as autoridades de Portugal mas, sim, as de Leão, entre o Senhor de Crecente, isto é, o governador, que era capelão régio, Pedro Fernandes.”
As Inquirições de D. Afonso III, em 1258, falam de Bergote, pertencente ao este concelho de Melgaço. Contudo, nas inquirições de D. Afonso III de 1288, refere-se que um tal Rui Pais de Valadares fora senhor da honra de Bergonte, no julgado de Melgaço, então na posse dos seus filhos e netos.
Todavia nas inquirições de D. Dinis, em 1290, referem Bregontim (não Bergote ou Bergonte), no julgado de Melgaço, antepondo-lhe, decerto por confusão, o qualificativo de freguesia. Nas Inquirições de 1307, já Bergote aparece sonegada aos direitos reais, desde há mais de seis anos. Nestas mesmas inquirições, refere-se o nome de Bergote a propósito dum fidalgo, de nome Pedro Fernandes de Castro que pretendia estabelecer uma honra na vila de Bergote. O inquiridor do rei, Aparício Gonçalves, não só não permitiu tal pretensão, como também aplicou uma coima pesada ao cavaleiro, a cobrar pelos juízes do concelho de Melgaço.
partir de inícios do século XIV, deixamos de ter referências a Bergote nos documentos que chegaram até nós. Não existem provas inequívocas (vestígios arqueológicas ou provas documentais) que provem a sua localização exata mas é consensual entre alguns autores que se localizaria entre Chaviães e Paços, neste concelho de Melgaço.
Deixo aqui uma possível pista em relação à localização do Porto de Bergote. Do lado da margem galega, existe em frente ao lugar dos Casais (Cristóval – Melgaço), um lugar chamado Borbote que pertence ao município de Crecente. Será que o Porto de Bergote se localizava entre este lugar e o dos Casais? Talvez um dia tenhamos a sorte de encontrar um primitivo documento que nos faça luz sobre o assunto.





Fontes consultadas:
- PINTOR, Manuel Bernardo (2005) – Obras Completas. Edição do Rotary Clube de Monção.