Quem
vem de Santo Cristo em direção à Escola Secundária de Melgaço,
descendo a Avenida Salgueiro Maia, encontra do lado direito uma
capela dedicada a Santo António, umas das poucas dedicadas a este
santo em Melgaço. Em tempos antigos, esta encontrava-se no interior
da Quinta de Galvão. Foi fundada por seis irmãs ainda em finais do
século XVII, ainda que só tenha sido concluída a sua construção já em pleno século
XVIII.
As
origens desta capela remontam a 1694. Nesse mesmo ano, a 28 Novembro
é lavrada uma escritura para a constituição da fábrica de uma
capela pelas seis filhas de António Lobato de Sousa e Castro (D.
Madalena Felgueiras Soares, D. Francisca de Cavedo Araque, D. Maria
Lobato de Castro, D. Jacinta Zores de Castro, D. Antónia Soares
Barbosa e D. Juliana Felgueiras), as quais viviam com o seu irmão D.
António de Castro de Sousa Lobato, capitão de cavalos, familiar do
Santo Ofício e cavaleiro da Ordem de Cristo, casado com D. Joana
Maria Menezes Cardoso. Na escritura, referem como encargos impostos
pela sua devoção e vontade duas missas anuais a
celebrar nesta capela:
uma no dia de Santo António e outra a 2 de Fevereiro, consagrada à
Purificação de Nossa Senhora.
Em
1703, a 16 Dezembro, concretiza-se a instituição do vínculo de
morgado por D. António e sua esposa, destinando para o mesmo os seus
terços das casas que os instituidores tinham começadas na Quinta do
Galvão que encostaram e uniram às que herdaram de seus seus pais.
As irmãs uniram todos os seus bens aos do irmão para constituição
do morgadio, de que faziam parte a Quinta de Galvão, com 432 varas
cada um de 10 palmas de comprimido, circundada a norte pelo rio que
ia para a Ponte Pedrinha e do sul com a estrada real que ia para a
vila de Melgaço, bem como outros bens que tinham em Corujeiras, no
Carvalho do Lobo, Rouças, Galvão de Baixo, Caneiro, Beatas,
Arrochal e várias pensões. Posteriormente, as seis
irmãs
aumentaram o número de missas anuais na capela para 13, que seriam
ditas a Nossa Senhora da Conceição, a Nossa Senhora, a Nossa
Senhora da Encarnação, a Nossa Senhora do Rosário, uma no dia de
Natal, duas a Santo António (uma
no seu dia e outra noutro
dia),
outra a Santa Maria Madalena, outra a São José, outra à Paixão do
Senhor, outra a São Francisco, outra a Santa Joana. As fundadoras da
capela escolheram como primeiro administrador, o irmão António de
Castro de Sousa Lobato, passando depois para os seus sucessores no
morgado.
No
ano de 1750, a 1 Julho, o visitador, o Dr. Domingos Fernandes Ramos,
reitor de São Pedro de Merufe, acha a
capela
necessitada de alfaias e obras.
Em
1754, a 4 Setembro, segundo o visitador, o Padre Marcelino Pereira
Cleto, era administrador da capela, Joaquim António de Castro.
Em
1758, a 24 Maio é referido nas Memórias Paroquiais pelo padre Bento
Lourenço de Nogueira que a capela era particular.
Em
1771, D. Margarida Matildes de Morais Sarmento, mulher do morgado de
Galvão, solicita autorização para ela e sua família se confessar
na sua capela, que já tinha confessionário feito na forma da
constituição.
A
capela de Santo António apresenta alguns aspetos de interesse
arquitetónico. Possui planta longitudinal, de corpo retangular, com
sacristia retangular, adossada a sudoeste. Apresenta volumes
escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas e uma
água.
As
fachadas são rebocadas e caiadas e em alvenaria de granito, sendo,
no corpo da capela, percorridas por cornija saliente, com pilastras
nos cunhais, sobrepujados por pináculos com esferas, e cruzes sobre
acrotério, no remate das empenas. A fachada principal, virada a
sudeste, termina em frontão triangular truncada por sineira, com
ventana de arco pleno, assente em pilastras, encimadas por cornija
recortada e coroada por cruz. É rasgada por duas janelas
retangulares, avivadas superiormente por cornija saliente,
enquadrando portal de verga reta, encimado por arquitrave. No
tímpano, e interrompendo a linha do entablamento, pedra de armas com
timbre e largo paquife.
A
fachada nordeste é rasgada por uma janela rectangular. A fachada
sudoeste, onde é visível o escalonamento dos corpos, é rasgada por
janela retangular na sacristia. A fachada posterior apresenta-se com
uma porta retangular na sacristia.
O
interior da capela é rebocado e caiado e com embasamento pintado,
com pavimento cimentado e lajeado e tendo teto de madeira, de 3
panos. O lado da Epístola possui uma pia de água benta, estriada, e
nicho de remate em arco pleno, com parapeito saliente sobre mísula
decorada com enrolamentos, e do lado do Evangelho apresenta porta de
verga reta e janela retangular, gradeada, comunicando com a
sacristia. Sobre supedâneo, com acesso por dois degraus, assenta
sobre pano de muro rebocado, retábulo-mor em talha policroma,
albergando, centralmente, uma imagem da Virgem. A sacristia é
rebocada e caiada e com embasamento pintado de azul, com teto em
madeira, tendo pavimento cimentado.
Informações extraídas de:
- ESTEVES, Augusto César, Obras Completas, vol. 1, tomo 1, Melgaço,
2003.
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