Há 80 anos atrás, as Águas de Melgaço continuavam a ser muito procuradas para os problemas de saúde dos visitantes enquanto estes procuravam desfrutar, durante a sua estadia, de tudo de bom o que a terra tinha para lhes oferecer. Numa crónica publicada no Diário do Minho de 12 de Julho de 1939, podemos ler: "Durante
o mês de Junho findo foi sensivelmente diminuta a inscrição dos
aquistas na Estância Termal. Atribuía-se este facto estranho à
circunstância de os jornais terem propalado o boato da cheia
caudalosa e destruidora, que tantos estragos deixou na sua passagem.
Os
aquistas, apavorados, convenceram-se naturalmente de que a cheia
havia levado consigo as fontes minerais. Mas isso correspondia a crer
que uma grande inundação afogara os peixes. Não é verdade?
As
circunstâncias, é claro foram outras. O boato só podia ter foros
de viabilidade em cérebros avariados ou doentios. O tempo esteve
igualmente variável no mês consagrado a Juno, e os doentes
aguardavam dias quentes, que chegaram, de uma temperatura constante.
E
agora eis que as camionetas de carreiras todos os dias, de manhã e
de tarde, vomitam para os grandes hotéis e pensões centenas de
hóspedes, que vêm a esta bela estância minhota, encontrar as
afamadas águas, alívio e esperança de restabelecimento para os
seus sofrimentos.
Nesta
semana passada nada houve a registar. Pic-nics, excursões, passeios…
nada disso. Está-se a haurir do repouso tónico alento para a
distração. Daqui a dias, reina o turismo. Os carros passam para S.
Gregório com excursionistas da estância. Passeios recreativos a
Monção e à Brejoeira. O salão de jogos do café-bar oscila com o
peso dos aquistas. O Martins de Lisboa inicia no Parque do Grande
Hotel das Águas (Ranhada) as distrações populares. O Avelino do
acordeão não tem pano para mangas na azafama dos concertos
musicais. Começaram as rifas e os leilões de quinquilharias da
firma acreditada no César & Monteiro. Vêm as cantadeiras de
Lisboa ferir nota alacre dos fados e canções portuguesas.
Enfim,
começa a vida viva da pitoresca Estância Termal. O sangue dos
diabéticos corre por todas as artérias. Vêm estilizar-se da
sangria as lavadeiras, as leiteiras, as vendedeiras de fruta, as
vendedeiras ambulantes de chocolate, de latas de compota ou conserva
de maracoton, as mulheres de recados, os almocreves que transportam
nas muares, excursionistas para Fiães ou Castro Laboreiro, o Pires
do Cinema, os carros ligeiros de aluguer, as levas numerosas de
mendigos, etc., etc. Até a fábrica do Moreira da Silva é uma
artéria lautamente beneficiada.
Temos
no Peso (Melgaço) duas massas admiráveis: as fontes
minero-terapéuticas e a manteiga do Moreira da Silva, cuja obesidade
natural e face de cor do presunto de Chaves é um reclame eclatante
do produto maravilhoso da sua fábrica.
Vamos
adiante. Não vá o público supor que o cronista adiposo de grande
diâmetro abdominal, engorda também à custa da Fábrica, por motivo
de ali todas as tardes tomar o aromático café ao lado do amável e
benquisto fabricante.
Pois
é assim, Por enquanto, o espírito sedento de digressões e
expansões recreativas deriva a sono solto. Mas breve sai por aí
fora muito mexido, ofegante e folgozão.
Damos
a seguir as entradas de hóspedes ilustres nos grandes hotéis e
pensões:
-
No Grande Hotel das Águas (Ranhada)
José
Pereira Pimenta de Castro; Comandante José Cunha Santos; Capitão
Morais Rosa Salvador Braga, Redactor do “Jornal de Notícias”;
Dr. Vitor Viana, médico militar; tenentes coronel Bártolo Simões;
Vitoriano Lopes Sampaio, Condessa de Sabrosa e Afonso Vieira
Dionísio.
-
No Hotel Rocha
Álvaro
Lucena; Padre Teófilo de Andrade; D. Maria da Conceição de Lemos
Magalhães e D. Margarida de Lemos Magalhães; D. Tereza Furtado da
Antas de Figueiredo; Sebastião e Irmão, conscienciosos industriais
de Vila Nova de Gaia.
-
No Grande Hotel do Peso
Raul
Marçal Brandão e esposa; Dr. José Joaquim Machado Guimarães;
Elias da Cunha Pinto; Dr. Manuel de Oliveira Campos, médico; D.
Mirita Abecassis e sua gentil filhinha D. Cecília; Avelino Vieira
Braga e esposa do Porto; Leonardo Palhinha, abastado proprietário de
Montemor-o-Novo.
-
Na Pensão Boavista
Dr.
Manuel Ribeiro da Costa, médico e esposa; Dr. Mexia; capitão César
Pina; capitão José Augusto Marçal, esposa e galante filhinha.
Até
para a semana.
In: Diário do Minho de 12 de Julho de 1939; republicada em "A Voz de Melgaço", de 1 de Julho de 2019.
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