sexta-feira, 12 de julho de 2019

Uma crónica sobre as Termas do Peso (Melgaço) em 1939




Há 80 anos atrás, as Águas de Melgaço continuavam a ser muito procuradas para os problemas de saúde dos visitantes enquanto estes procuravam desfrutar, durante a sua estadia, de tudo de bom o que a terra tinha para lhes oferecer. Numa crónica publicada no Diário do Minho de 12 de Julho de 1939, podemos ler: "Durante o mês de Junho findo foi sensivelmente diminuta a inscrição dos aquistas na Estância Termal. Atribuía-se este facto estranho à circunstância de os jornais terem propalado o boato da cheia caudalosa e destruidora, que tantos estragos deixou na sua passagem.
Os aquistas, apavorados, convenceram-se naturalmente de que a cheia havia levado consigo as fontes minerais. Mas isso correspondia a crer que uma grande inundação afogara os peixes. Não é verdade?
As circunstâncias, é claro foram outras. O boato só podia ter foros de viabilidade em cérebros avariados ou doentios. O tempo esteve igualmente variável no mês consagrado a Juno, e os doentes aguardavam dias quentes, que chegaram, de uma temperatura constante.
E agora eis que as camionetas de carreiras todos os dias, de manhã e de tarde, vomitam para os grandes hotéis e pensões centenas de hóspedes, que vêm a esta bela estância minhota, encontrar as afamadas águas, alívio e esperança de restabelecimento para os seus sofrimentos.
Nesta semana passada nada houve a registar. Pic-nics, excursões, passeios… nada disso. Está-se a haurir do repouso tónico alento para a distração. Daqui a dias, reina o turismo. Os carros passam para S. Gregório com excursionistas da estância. Passeios recreativos a Monção e à Brejoeira. O salão de jogos do café-bar oscila com o peso dos aquistas. O Martins de Lisboa inicia no Parque do Grande Hotel das Águas (Ranhada) as distrações populares. O Avelino do acordeão não tem pano para mangas na azafama dos concertos musicais. Começaram as rifas e os leilões de quinquilharias da firma acreditada no César & Monteiro. Vêm as cantadeiras de Lisboa ferir nota alacre dos fados e canções portuguesas.
Enfim, começa a vida viva da pitoresca Estância Termal. O sangue dos diabéticos corre por todas as artérias. Vêm estilizar-se da sangria as lavadeiras, as leiteiras, as vendedeiras de fruta, as vendedeiras ambulantes de chocolate, de latas de compota ou conserva de maracoton, as mulheres de recados, os almocreves que transportam nas muares, excursionistas para Fiães ou Castro Laboreiro, o Pires do Cinema, os carros ligeiros de aluguer, as levas numerosas de mendigos, etc., etc. Até a fábrica do Moreira da Silva é uma artéria lautamente beneficiada.
Temos no Peso (Melgaço) duas massas admiráveis: as fontes minero-terapéuticas e a manteiga do Moreira da Silva, cuja obesidade natural e face de cor do presunto de Chaves é um reclame eclatante do produto maravilhoso da sua fábrica.
Vamos adiante. Não vá o público supor que o cronista adiposo de grande diâmetro abdominal, engorda também à custa da Fábrica, por motivo de ali todas as tardes tomar o aromático café ao lado do amável e benquisto fabricante.
Pois é assim, Por enquanto, o espírito sedento de digressões e expansões recreativas deriva a sono solto. Mas breve sai por aí fora muito mexido, ofegante e folgozão.
Damos a seguir as entradas de hóspedes ilustres nos grandes hotéis e pensões:
- No Grande Hotel das Águas (Ranhada)
José Pereira Pimenta de Castro; Comandante José Cunha Santos; Capitão Morais Rosa Salvador Braga, Redactor do “Jornal de Notícias”; Dr. Vitor Viana, médico militar; tenentes coronel Bártolo Simões; Vitoriano Lopes Sampaio, Condessa de Sabrosa e Afonso Vieira Dionísio.

- No Hotel Rocha
Álvaro Lucena; Padre Teófilo de Andrade; D. Maria da Conceição de Lemos Magalhães e D. Margarida de Lemos Magalhães; D. Tereza Furtado da Antas de Figueiredo; Sebastião e Irmão, conscienciosos industriais de Vila Nova de Gaia.

- No Grande Hotel do Peso
Raul Marçal Brandão e esposa; Dr. José Joaquim Machado Guimarães; Elias da Cunha Pinto; Dr. Manuel de Oliveira Campos, médico; D. Mirita Abecassis e sua gentil filhinha D. Cecília; Avelino Vieira Braga e esposa do Porto; Leonardo Palhinha, abastado proprietário de Montemor-o-Novo.

- Na Pensão Boavista
Dr. Manuel Ribeiro da Costa, médico e esposa; Dr. Mexia; capitão César Pina; capitão José Augusto Marçal, esposa e galante filhinha.
Até para a semana.




In: Diário do Minho de 12 de Julho de 1939; republicada em "A Voz de Melgaço", de 1 de Julho de 2019.

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