sexta-feira, 5 de julho de 2019

A localização do Porto de Bergote: um mistério com mais de 700 anos



Os lugares que hoje conhecemos por um determinado topónimo nem sempre tiveram o mesmo nome. Nuns casos, o termo apenas sofreu a natural evolução, mas noutros há mesmo uma mudança radical de designação. Muitas vezes, quando lemos documentação antiga, encontramos nomes de lugares que nos são desconhecidos porque já não são usados na atualidade. Também temos casos desses em Melgaço. Por exemplo, em documentos muito antigos, é mencionada uma vila rústica, de nome Bergote, que, atualmente, não tem correspondência na toponímia local. Pelo que se depreende da leitura desses documentos, havia ali um porto de passagem de peregrinos e homens de negócios, para a Espanha, através do rio Minho. Depois de muito estudar, o Padre Manuel Bernardo Pintor alegou que Bergote poderia ter sido um nome primitivo de Paços ou o nome de uma vila medieval situada nesta freguesia.
Outras vilas rústicas, que viriam do tempo medieval, se não da época romana, são mencionadas em documentos do Cartulário de Fiães, como Acre, que dá origem ao nome do lugar Viladraque, ou ainda outros casos como o de Porto dos Cavaleiros, Ponte das Várzeas ou Porto dos Asnos, que hoje em dia estão em desuso ou então deixaram de se usar há séculos.
Como se disse acima, o Padre Bernardo Pintor julgava que a vila de Bergote, em tempos medievais se localizava em Paços, podendo até corresponder à atual sede de freguesia. Nesse sentido, refere na sua obra acerca de Paços em tempos medievais: “Movimento à localidade deve ter-lhe dado uma passagem que havia no rio Minho, por onde, em recuados tempos, passavam os peregrinos que demandavam o santuário jubilar de Santiago de Compostela, bem como pessoas que, das redondezas, se dirigiam para além Minho por motivo de seus negócios.
Era o Porto de Bergote. Tal devia ser a sua importância e o movimento da passagem que a localidade se chamava Bergote de cá e de lá, em ambas as margens do rio, como atesta um documento do mosteiro de Fiães do ano de 1223 pelo qual Toda Monis com os seus seis filhos e filhas de apelido Fernandes e mais os filhos de Marinho Fernandes, que, pelo apelido, se deve presumir ser irmão do marido, venderam uma herdade a Fernando Sanches. Aqui se declara: A mesma herdade está situada na vila que chamam Bergote. Vendemos-te quanto aí temos em uma parte do Minho e na outra.
Caso estranho é o facto de no fim do documento se mencionarem não as autoridades de Portugal mas, sim, as de Leão, entre o Senhor de Crecente, isto é, o governador, que era capelão régio, Pedro Fernandes.”
As Inquirições de D. Afonso III, em 1258, falam de Bergote, pertencente ao este concelho de Melgaço. Contudo, nas inquirições de D. Afonso III de 1288, refere-se que um tal Rui Pais de Valadares fora senhor da honra de Bergonte, no julgado de Melgaço, então na posse dos seus filhos e netos.
Todavia nas inquirições de D. Dinis, em 1290, referem Bregontim (não Bergote ou Bergonte), no julgado de Melgaço, antepondo-lhe, decerto por confusão, o qualificativo de freguesia. Nas Inquirições de 1307, já Bergote aparece sonegada aos direitos reais, desde há mais de seis anos. Nestas mesmas inquirições, refere-se o nome de Bergote a propósito dum fidalgo, de nome Pedro Fernandes de Castro que pretendia estabelecer uma honra na vila de Bergote. O inquiridor do rei, Aparício Gonçalves, não só não permitiu tal pretensão, como também aplicou uma coima pesada ao cavaleiro, a cobrar pelos juízes do concelho de Melgaço.
partir de inícios do século XIV, deixamos de ter referências a Bergote nos documentos que chegaram até nós. Não existem provas inequívocas (vestígios arqueológicas ou provas documentais) que provem a sua localização exata mas é consensual entre alguns autores que se localizaria entre Chaviães e Paços, neste concelho de Melgaço.
Deixo aqui uma possível pista em relação à localização do Porto de Bergote. Do lado da margem galega, existe em frente ao lugar dos Casais (Cristóval – Melgaço), um lugar chamado Borbote que pertence ao município de Crecente. Será que o Porto de Bergote se localizava entre este lugar e o dos Casais? Talvez um dia tenhamos a sorte de encontrar um primitivo documento que nos faça luz sobre o assunto.





Fontes consultadas:
- PINTOR, Manuel Bernardo (2005) – Obras Completas. Edição do Rotary Clube de Monção.

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