sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Histórias da RODA de Melgaço - séc. XVIII e XIX (parte III)


Não se tem conhecimento, nos registos da RODA de Melgaço, na época em causa, de nenhuma exposição que tivesse sido efectuada em locais completamente isolados ou de fraca acessibilidade. A terem acontecido, estes casos não deixariam de configurar um cenário de infanticídio. Poderia ser esse o caso de quem expôs uma menina na freguesia de Cristóval, concelho de Melgaço, no dia 26 de Agosto de 1862, tendo-a deixado debaixo de uma figueira, sobre um roço de silvas, a qual foi achada na madrugada desse dia, «quasi expirando por estar chovendo e sem agasalho». Esta menina estava «embrulhada em dois panos velhos de algodão que são inúteis e sem préstimo», assim como por um pequeno enxoval, constituído por uma camisa d’elefante e uma outra com as mangas sem pregar. Todavia, o facto de estar acompanhada por um pequeno enxoval, como vinha descrito no seu registo, afasta a hipótese de se tratar de uma forma de infanticídio deliberado, antes de uma negligência grosseira de quem se encarregou de a expor. Estes crimes seriam passíveis de punição, se fossem conhecidos e identificados os seus autores.

Este tipo de situações não passaram de casos isolados, como actos negligentes que terão sido gerados em contextos de extrema miséria ou em consequência de situações de desespero, estados de loucura ou irresponsabilidade dos condutores. Contudo, estes actos não terão passado despercebidos a uma sociedade atenta, sempre pronta a agir em favor dos mais carenciados. Essa intervenção poderia acontecer no momento do parto, ajudando as parturientes e expondo as crianças nas Rodas/Hospícios ou em locais onde pudessem ser recolhidas e tratadas.

Informações recolhidas em:

- PONTE, Teodoro Afonso (2004) - No limiar da honra e da pobreza - A infância desvalida e abandonada no Alto Minho (1698 - 1924). Tese de doutoramento; Universidade do Minho, Braga.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Histórias da RODA de Melgaço - séc. XVIII e XIX (parte II)


“Como primeira responsável pelo acolhimento e tratamento das crianças expostas,o desempenho da rodeira não deixaria de se reflectir directamente no bom ou mau funcionamento da instituição, pelo que a sua escolha e nomeação deveria revestir-se de cuidados particulares, por parte das administrações municipais.

A rodeira deveria estar em condições de amamentar as crianças expostas. A isso mesmo obrigava uma resolução da câmara de Ponte de Lima, aprovada no dia 29 de Julho de 1778, segundo a qual, a partir dessa data, não poderia ser “ama dos enjeitados” senão mulher que tivesse leite e lhes pudesse dar de mamar, para se evitar, como muitas vezes acontecia, que não aparecesse logo ama que os levasse para criar. Foi o que se verificou com um menino que foi exposto no concelho de Melgaço e que «chegou de tal forma desfesado que parecia estar expirando ou próximo disso». Como não apareceu nenhuma ama que quisesse aceitar «este inocente, em atenção ao estado que vinha», a câmara obrigou a rodeira a ficar com ele, «por estar de parto recente». Contudo, o menino acabou por falecer dez dias depois.

Uma situação idêntica foi vivida por dois meninos gémeos que foram expostos na freguesia de Penso, concelho de Melgaço, em 23 de Julho de 1878, acompanhados de um único bilhete, a pedir que pusessem à criança o nome de Gaspar Eduardo, provavelmente uma mensagem elaborada antes de se confirmar um parto duplo. O problema foi resolvido no momento do baptismo, com um deles a receber o nome solicitado de Gaspar Eduardo, enquanto o outro se passou a chamar Eduardo Gaspar.

Estes expostos eram prematuros e um deles estava quase moribundo, pelo que não apareceu nenhuma ama disposta a criá-los, ficando ao cuidado da ama do Hospício de Melgaço, tendo ambos falecido alguns dias depois.

Os primeiros regulamentos locais recomendavam que a rodeira deveria ser substituída, logo que deixasse de ter leite.”




Informações recolhidas em:

- PONTE, Teodoro Afonso (2004) - No limiar da honra e da pobreza - A infância desvalida e abandonada no Alto Minho (1698 - 1924). Tese de doutoramento; Universidade do Minho, Braga.

Necrópole Megalítica do Planalto de Castro Laboreiro (em vídeo)


Dos vários vestígios pré-históricos existentes em Castro Laboreiro, sem dúvida que o mais interessante é a Necrópole Megalítica do seu Planalto.
Aqui encontramos uma das maiores e mais importantes necrópoles megalíticas da Peneda-Gerês, estendendo-se por cerca de 50 km2, sendo visíveis cerca de 90 monumentos -- 36 dos quais já em território galego. É, aliás, a maior concentração de monumentos megalíticos da Península Ibérica e uma das maiores da Europa.
É graças à sua localização, a uma altitude superior a 1100 metros, que este interessante núcleo datado do Neolítico à Idade do Bronze se apresenta em tão boas condições de conservação. A maior parte das mamoas conserva ainda o dólmen megalítico.
Aproveite a elevada altitude para desfrutar das soberbas vistas panorâmicas ao redor.
 
 
Extraído de:
http://www.youtube.com/watch?v=0vKSuIqHvhk

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

António Carneiro (1872-1930) inspirou-se nas lindas paisagens de Melgaço para pintar alguns dos seus belos quadros...

 António Carneiro, Auto-retrato (1918)
António Teixeira Carneiro Júnior nasceu a 16 de Setembro de 1872 em S. Gonçalo de Amarante. Era filho de Francisca Rosa de Jesus, costureira, exposta da Roda, de S. Gonçalo, e de António Teixeira Carneiro.
Teve uma infância difícil. Aos sete anos foi abandonado pelo pai, ficando, pouco depois, órfão de mãe. Sozinho e desamparado, em 1879 foi encaminhado para o internato no Asilo do Barão de Nova Sintra, no Porto. Nesta instituição pertencente à secular Santa Casa da Misericórdia do Porto fez o ensino primário e começou a desenhar, copiando ilustrações de textos religiosos e de periódicos.
O seu talento foi notado de imediato. Por recomendação do professor Adrião Augusto de Sousa Carneiro e do Padre José Marques Dias, bacharel de Direito e director daquele estabelecimento, ingressou, em 1884, na Academia de Belas Artes do Porto, com o apoio da Santa Casa.
Na Academia, o "Mongezinho da Nova Sintra", como era conhecido, fez o curso de Desenho Histórico, entre 1884 e 1890, na qual foi discípulo do mestre
Marques de Oliveira.
Nesse ano de 1890 deixou o asilo e começou a frequentar o curso de Escultura, que veio a abandonar depois da morte de
Soares dos Reis, em 1889. Deste curso transferiu-se para o de Pintura, onde recebeu ensinamentos de João António Correia.
As letras ainda o inspiravam. Como o inspirariam sempre. Em 1891 editou uma plaquette de poemas. Dois anos depois, em 1893, casou com Rosa Carneiro. Desta união nasceram três filhos: Cláudio (1895-1963), Maria Josefina (1898-1925) e Carlos (1900-1971). O primeiro dos seus descendentes veio a notabilizar-se como músico e compositor, o segundo morreu ainda jovem, vítima de tuberculose, e o mais novo foi pintor.

Em 1895 reencontrou-se com o pai, recém-chegado do Brasil, com quem viajou até Amarante, cidade onde conheceu e fez amizade com o poeta Teixeira de Pascoaes, seu conterrâneo. No ano seguinte terminou o curso de Pintura de História, com a classificação final de dezoito valores.
Pouco depois, em 1897 partiu para Paris após a obtenção de uma bolsa patrocinada pelo Marquês de Praia e Monforte. Na capital francesa instalou-se com a esposa no Boulevard Arago e frequentou a Academia Julien, na qual foi aluno de Jean-Paul Laurens e de Benjamin Constant.
Quando regressou ao Porto foi convidado a leccionar na Academia de Belas Artes do Porto, em 1911, sendo investido na qualidade de Professor de Nomeação Definitiva, responsável pela Cadeira de Desenho de Figura. Corria o ano de 1918.
A par das suas actividades como pintor, professor e poeta, dirigiu a revista portuense Geração Nova e integrou a sociedade Renascença Portuguesa, instituída no Porto em 1911. Para este movimento, promotor da cultura nacional, desenhou o ex-libris, usado em todas as suas edições, nomeadamente na revista A Águia, publicação que dirigiu a partir de 1912 com Teixeira de Pascoaes, sendo o responsável pela coordenação literária e pelas ilustrações.
Durante a sua carreira profissional fez diversas viagens. No Verão de 1899 realizou uma visita de estudo a Itália; em 1912, na companhia da família, voltou a Paris; entre 1914 e 1915 fixou-se no Brasil, ficando hospedado na residência do casal de escritores Júlia e Filinto Lopes de Almeida. Ao Brasil regressaria ainda em 1929.
Em meados do século XX era frequentador das praias de Leça da Palmeira, em Matosinhos, e da Figueira da Foz, e também podia ser visto nas Termas de Melgaço, lugares que retratou exemplarmente em muitas das suas paisagens.



Quadro "Melgaço"
c. 1921, óleo sobre tela, 26 x 30 cm, Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
Nos anos que decorreram entre 1893 e 1929, expôs, individual ou colectivamente, em Portugal (no Centro Artístico Portuense, no Ateneu Comercial do Porto, na Santa Casa da Misericórdia do Porto, no Grémio Artístico de Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, na Photografia Guedes e Photografia União, nas sedes da Ilustração Portuguesa e da Renascença, etc.), no Brasil (na Galeria Jorge no Rio de Janeiro, no Prédio Glória em S. Paulo e na Associação Comercial do Panamá em Curitiba) e participou nas exposições universais de Paris (1900), de Saint Louis (1904) e na Exposição Internacional de Barcelona, de 1907.
Este pintor também aplicou a sua arte à ilustração de livros de autores como António Correia de Oliveira (Tentações de São Frei Gil e O Pinheiro Exilado, em 1907, A Minha Terra, em 1915, outras obras em 1916, Virtudes e Heroísmos Lusíadas com Estefânia Cabreira, em 1926, e Canções de Amor, em 1929), João de Deus (Poesias Religiosas, em 1912) e o Visconde de Vila Moura (Doentes da Beleza, em 1913).
Foi homenageado em Amarante com Teixeira de Pascoaes, em 1924, e no Palácio da Bolsa, no centro histórico do Porto, em 1925, ano em que inaugurou o seu atelier na Rua Barros Lima (actual Rua António Carneiro), na zona oriental da cidade, e lhe morreu a filha Josefina, um trágico acontecimento que teve fortes repercussões na sua obra.
Em 1929 foi nomeado director da Academia de Belas-Artes do Porto, cargo que não veio a exercer.
A 31 de Março de 1930 morreu no Porto o pintor, poeta, professor António Carneiro, consagrado como o precursor do Simbolismo, uma corrente artística sem continuadores em Portugal. Da sua vasta e singular obra são célebres os retratos de grande densidade psicológica, de companheiros, intelectuais e artistas, como Teixeira de Pascoaes, Correia de Oliveira, Antero de Quental ou Guilhermina Suggia, os múltiplos auto-retratos, realizados em diversos materiais e em diferentes fases da vida, as originais paisagens e as decorações produzidas, por exemplo, para a sala de leitura do Palácio da Bolsa do Porto, sede da Associação Comercial do Porto (Eco, Mensageiro da Linguagem Universal).
Poucos anos depois de morrer, em 1936, foi publicada a sua obra poética Solilóquios: sonetos póstumos, com introdução de Júlio Brandão.
António Carneiro está actualmente representado no Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante; na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão; no Museu Nacional de Soares dos Reis e na Casa-Oficina António Carneiro, ambos no Porto; na Quinta de Santiago, em Matosinhos; na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia; no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, da Fundação Calouste Gulbenkian e no Museu do Chiado (antigo Museu Nacional de Arte Contemporânea), em Lisboa, e em colecções particulares, como a do Dr. José Manuel Pina Cabral e Nuno Carneiro.
Extraído de:
http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=1000929

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Por Melgaço: Da vila ao rio Minho em imagens!


Esta é a melhor maneira de conhecer Melgaço e o Rio Minho! Um percurso que nos arrebata ao longo da marginal, mostrando-nos a beleza da paisagem de Melgaço. O trajecto inicia-se no centro da Vila, junto às Igrejas Matriz e da Misericórdia, templos que fascinam pela sua história e pela formosura dos elementos decorativos. Logo ao lado, o sublime Solar do Alvarinho, edifício seiscentista com a missão de promover e divulgar o vinho Alvarinho. De seguida, saímos do centro histórico, em direcção ao Centro de Estágios do Monte Prado. Trata-se de um esplêndido complexo com estádio, pista de atletismo, campos de ténis, um parque de merendas, um campo de mini golfe e uma deliciosa piscina com jactos de água, tudo locais abertos ao público em geral e que o farão parar por ali algum tempo. O percurso continua ao longo de uma levada até ao Monte Prado em si, um espaço soberbo com um hotel de quatro estrelas, um restaurante e uma pousada da juventude, tudo isto rodeado de vastos espaços florestais e já com o Rio Minho como companhia. Na marginal do rio encontramos várias pesqueiras, muros em pedra construídos perpendicularmente à corrente do rio -- um dos poucos locais onde se preservam as velhas tradições da arte da pesca, actualmente ainda utilizadas para se pescar sável e lampreia. O passeio termina na localidade de Peso, terra de águas termais há muito reconhecidas e apreciadas. Actualmente, estas termas estão a ser alvo de um projecto de recuperação. Todo o parque está envolto por antigo arvoredo que impressiona pela sua dimensão e por edifícios de importância arquitectónica: a Fonte Principal e a Fonte Nova, a Buvete, o Balneário, a Oficina de Engarrafamento e o antigo Hotel do Peso. Um cenário idílico ideal para terminar este percurso que, certamente, o fará ansiar por mais!
Vídeo e texto extraído de:
http://www.youtube.com/watch?v=gXnxapW6SA0

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A tragédia de Fiães (1841) contada no jornal "Revolução de Setembro"



Em 1841, o periódico "A Revolução de Setembro" terá sido a primeira publicação a noticiar a tragédia de Fiães, quase um mês depois do ocorrido.
Escreve o jornal que “O nosso correspondente de Vila Nova de Cerveira participa-nos com data de 25 do passado, o funesto acontecimento que abaixo transcrevemos. Sentimos ter que anunciar repetidas vezes estas cenas de desgraças que sobre nós se desencadeiam. Mas ao mesmo tempo é lisonjeiro\\ observar que nunca os sentimentos da generosidade e filantropia se desenvolveram em tão subido grau para minorar a triste situação das vítimas da desventura. Nós confiamos em que os nossos concidadãos não deixarão nesta ocasião de mostrar o mesmo interesse, que sempre os animou para valerem a seus irmãos perseguidos pela sorte.
 Eis aqui a relação do facto.
Um funesto acontecimento sofreram no dia 17 os habitantes do lugar de S. João, freguesia de Fiães, o qual não só estimula a nossa filantropia, mas também provoca as nossa lágrimas. Naquele dia, à uma hora da tarde desabou uma nuvem de água sobre o monte das Anturas, sobranceiro ao lugar de Portocarreiro, freguesia de Fiães, concelho de Melgaço. Abrindo parte do mesmo monte, despediu dele montruosos penhascos, que vieram rolar sobre o lugar de S. João, lançando por terra 15 casas, ficando debaixo de suas ruínas, 14 pessoas. Esta catástrofe além daquele lastimoso estrago, reduziu à miséria muitas mais famílias pela perda de gados de todas as classes, frutos colhidos e por colher, que a violência das águas e o desabamento da colina entulhou no vale. Esperamos da habitual beneficência dos nossos concidadãos, ver minorada por uma subscrição (já aberta) a pungente miséria a que ficou reduzida aquele infeliz povo”.

       
Ver post Fiães, 1841 - Uma aldeia inteira é varrida do mapa pela MÃE NATUREZA


Extraído de:

BATEIRA, Carlos; SOARES, Laura & GARCIA, João Carlos (1997) - O terramoto de S. João (Melgaço) em 1841: um percurso pela geomorfologia histórica. Instituto de Geografia. FLUP. Porto

sábado, 25 de agosto de 2012

MELGACENSES PARA A HISTÓRIA: Inácio Soares (jesuíta, nascido em Prado em 1712)

 
A inovação da introdução das matemáticas nos estudos filosóficos foi louvada por Inácio Soares (Prado, Melgaço, 1712 – Ruffinella, 12.10.1783). Este jesuíta entrou para a Companhia de Jesus em Coimbra a 20.3.1729, onde fez o noviciado e os estudos de Retórica (1731-1732), Filosofia (1732-1736), Matemática (1739-1741) e Teologia (1741-1745). Após ensinar Latim nos Colégios de Braga (1736-1738) e Portimão (1745-1746), foi prefeito dos estudos e lente de Teologia Moral no Colégio de Santarém. De 1751 a 1754 deu, em Braga, um curso de filosofia que ficou célebre quer pela orientação ecléctica quer pelo esplendor dos seus actos académicos e pela actualidade dos assuntos tratados. A GAZETA DE LISBOA (ano de 1754. pp. 191-192) referia-se nestes termos ao curso dado por Inácio Soares: As conclusões foram dedicadas a suas Magestades Fidelíssimas e a suas Altezas, e incluíam toda a Filosofia eclética, racional, natural e moral, ou da eleição das doutrinas de todos os autores antigos e modernos, assim filósofos como matemáticos, com maior vastidão que até agora se tem visto. Posteriormente, encontrando-se no Colégio de Jesus, onde ensinava Teologia Moral, Inácio Soares começou a dar mostras de desarranjo mental, facto que levou ao seu afastamento do ensino. Sebastião José de Carvalho, julgando-o ofendido e queixoso dos superiores, mandou chamá-lo a Lisboa. A atitude de Inácio Soares, ao afirmar perante o cardeal reformador Saldanha e Sebastião José de Carvalho, que iriam parar ao inferno se não desistissem da perseguição aos jesuítas, levou-o a oito anos e meio de prisão, na Junqueira e S. Julião da Barra. Foi preso em 11.1.1759, tendo sido depois exilado, foi para Itália a 6.9.1767. Das suas lições ficaram uma postila de Lógica, e a PHILOSOPHIAM UNIVERSAM ECLECTICAM, EX CUNCTIS PHILOSOPHORUM SECTIS METHODICE SELECTAM AC CONCINNATAM, defendida por António Neto da Fonseca (Coimbra 1754).

 
Extraído de:

htpp://nautilus.fis.uc.pt

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Capela da Senhora do Alívio (Pousafoles-Fiães)


Foto em http://coxo-melgaco.blogspot.com


Esta capela, localizada no lugar de Pousafoles da freguesia de Fiães, foi construída em 1867, segundo data inscrita numa cartela existente na fachada principal, sobre a porta de acesso. Sobre o óculo, outra cartela exibe a inscrição: ‘NA SA DO ALLIVIO’.
A sua edificação é atribuída ao pedreiro Manuel José Gomes, conhecido como o ‘Mestre do Regueiro’, natural e residente nesse lugar da freguesia de S. Paio. A origem desta capela remonta ao século XIX. Segundo a tradição, "durante as lutas civis com a Espanha, o P.e António que vivia no lugar havia guardado dinheiro a dois foragidos. Como não retornaram um ano volvido após pacificação das partes, terá solicitado ao Arcebispo autorização para edificar a capela e encomendou a obra ao Mestre de São Paio, do lugar vizinho que a fez demasiado singela para gosto do encomendante. O mestre canteiro prometeu então que singela não ficaria e decorou-a profusamente”.
A capela encontra-se inserida em meio rural e isolada, detentora de um pequeno adro murado fronteiro, esta capela, construída em alvenaria autoportante rebocada e pintada a branco excepto embasamento, cunhais, molduras, cimalhas, elementos decorativos e a meia parte superior do frontispício, apresenta planta rectangular, e cobertura de duas águas.
Na frontaria, voltada a sul, abre-se porta axial com padieira ligeiramente encurvada ladeada por dois óculos e, sobre esta, ao centro, um outro óculo. A fachada é rematada por cimalha angular com campanário e cruz latina no vértice e urnas nos extremos.
Contudo, o que mais distingue esta capela é a decoração da frontaria, esculpida no espaço entre a porta e a cimalha que a remata. Os ornatos, envoltos em molduras ou em entrelaçados, são variados privilegiando a temática geométrica e naturalista: losangos, quadrifólios, florais, estrela de oito pontas, coração, cordões, etc. Dir-se-ia que o escultor ‘bordou’ a fachada, dotando-a de uma espécie de‘cortina’ que cai sobre a porta e, além desta, como ‘pingente’.


Extraído de:
- DORDIO, Paulo/DGEMN – Capela da Senhora do Alívio, n.º IPA: PT011603070036, 1996.
www.monumentos.pt.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Parada do Monte (Melgaço) em imagens...


 
Partilho com vocês este vídeo que encontrei no Youtube dedicado a Parada do Monte que muito me encantou e acompanha-o respectivo texto que transcrevo na íntegra:

"Parada do Monte pertence ao concelho de Melgaço e é uma das mais encantadoras aldeias do Minho ou da chamada "raia minhota" com Galiza.
Situa-se nas encostas do Parque Nacional Peneda-Gerês, a caminho de Castro Laboreiro. Há muito para descobrir em Parada do Monte, a começar pelo Dialecto "galaico-português" característico destas paragens catalogado em 1902 pelo famoso Leite de Vasconcelos. Este video dá-nos uma pequena visão geral sobre Parada do Monte. Para recordar ao som de Luar na Lubre..."
Fonte: Youtube.com

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Aqueduto de Pontes (Castro Laboreiro)


Aqueduto de Pontes

Deve-se ao P.e Manuel Joaquim Rodrigues, natural de Pontes e pároco em Castro Laboreiro, a construção deste aqueduto, na década de 40 do século passado. cuja água era captada numa presa (ou ‘pantano’, na terminologia local) situada junto à ponte de Dornas (segundo depoimento de uma habitante local).
É constituído por um canal em pedra aparente, sem talhe e com junta seca, que parte dum maciço em alvenaria e depois percorre, elevado sobre pilares, uma distância aproximada de 60m formando vários tramos em ângulo recto.
No espaço natural em que se insere, o aqueduto sobrepõe-se transversalmente, no sentido nascente/poente, a um caminho de terra batida, definindo um pórtico. 
O cruzeiro-nicho, em pedra ‘à vista’, ladeia o aqueduto junto ao caminho referido e é de pouca altura, assentando numa base granítica quadrangular. Dispõe de pequeno parapeito e, sobre este, um maciço, também granítico e quadrangular, onde se aloja nicho escavado e se insere a cruz. 
As alminhas, localizadas do outro lado do aqueduto, foram lavradas num bloco em pedra aparente sobre base de um degrau e apresentam nicho com cruz relevada.

Aqueduto de Pontes e Alminhas


Extraído de:
- http://acer-pt.org
- DORDIO, Paulo/DGEMN – Aqueduto de Pontes, Cruzeiro e Alminhas, n.º IPA: PT011603020032, 1996. Disponível em WWW: <www.monumentos.pt>.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fiães, 1841 - Uma aldeia inteira é varrida do mapa pela MÃE NATUREZA

Portocarreiro (Fiães), próximo da localização da antiga aldeia de S. João

A 17 de Novembro de 1841, depois de dois meses de intenso mau tempo, com muita chuva, um terrível desmoronamento de terras destroi em momentos a povoação, morrendo soterrados muitos dos habitantes. Os prejuízos materiais revelam-se catastróficos para a pequena comunidade. Logo no dia seguinte, o regedor Manuel do Rego lança um apelo ao Administrador do Concelho, depois de relatar sumariamente o ocorrido ”Participo a vossa excelência que ontem pela uma hora da tarde rebentou uma parte do monte denominado Anteiro e veio ao lugar de S. João/Porto Carreiro e arrastou e levou 9 casas com muita gente e gado e foi uma desgraça muito grande. Ora é preciso que vossa excelência dê providências mandando vir gente do concelho para ajudar a desenterrar a gente e gados e frutos e aparatos que ficaram debaixo dos rochedos.”
A ajuda chegou principalmente dos lugares vizinhos, onde se recolheram os sobreviventes e donde partiram os grupos de homens a desenterrar os cadáveres e dar-lhes sepultura junto ao Mosteiro de Fiães. A grande torrente de pedras e lama atingira também Porto Carreiro, chegando mesmo ao leito do Trancoso. Na tradição oral, ao chegar à Igreja de Nossa Senhora da Vista, a torrente dividira-se em duas, salvando-se milagrosamente o templo, que ainda hoje se encontra soterrado. As consequências foram contudo destruidoras nos campos, que levarão muitos anos a limpar e reconstruir.
Um importante núcleo existia no lugar de S. João, muito próximo de Porto Carreiro, num lugar a meia vertente onde convergiam vários pequenos ribeiros mas todos com algum caudal. S. João cresceu como um tentáculo de Porto Carreiro, para cima ao longo da vertente, mas encaixado na apertada garganta do pequeno afluente do Trancoso. Uma das suas riquezas era essa força motriz que alimentava as suas azenhas: cinco num aglomerado de apenas cerca de duas dezenas de casas. Mas, uma das fortes razões da sua existência explicará o seu desaparecimento.
Quase um mês depois da catástrofe, o pároco fazia um relatório ao Administrador do Concelho, inventariando o desastre de S. João: 15 casas “com todos os seus aparatos”, 6 pontes, 5 moinhos, 16 cabeças de gado, 200 de gado miúdo, 10 porcos, 30 “carros de pão” (cereal), canstros de milho e “terras de lavradio que nuca mais tornam a dar pão, que tudo levou e desapareceu, foram louvados em 16.000 cruzados”. O total geral é avaliado em 45.000 cruzados. O número de mortos elevou-se a 14 pessoas, afetando 6 famílias, uma das quais perdeu 6 membros.
Organizava-se entretanto a ajuda às famílias atingidas. Primeiro é o Administrador Geral do Distrito de Viana do Castelo que propõe uma subscrição nos diferentes concelhos da sua jurisdição, depois a notícia chegou à capital. Em Lisboa, a Revolução de Setembro parece ter sido o primeiro periódico a divulgar o acontecimento, quase um mês depois, mas as providências por parte do Governo tardarão muito mais. Só em Março do ano seguinte, a rainha D. Maria II assina um documento encarregando as comissões de recolherem donativos a favor das vítimas de S. João. Em Dezembro de 1842, os donativos chegavam ainda a Melgaço.


Extraído de:

BATEIRA, Carlos; SOARES, Laura & GARCIA, João Carlos (1997) - O terramoto de S. João (Melgaço) em 1841: um percurso pela geomorfologia histórica. Instituto de Geografia. FLUP. Porto.

sábado, 18 de agosto de 2012

O rio Minho: origem do seu nome e local de nascimento (segundo as Memórias Paroquiais de 1758)


O rio Minho à passagem por Melgaço

O rio Minho assume-se como um símbolo geográfico e político para todo o Nororeste português e peninsular. O rio dá o nome à antiga província e eterna região que se prolonga para sul até ao Douro Litoral e que possui uma identidade paisagística singular. O nome deste rio vem-lhe, conforme o testemunho de 2 memorialistas, do nome da fonte chamada Minho, na Galiza, onde nasce (Memória de Vila Meã, Vila Nova Cerveira; vila de Monção). Pelo seu curso manso e aprazível há também quem o queira tomar pelo rio Lethes! (Memória de Vila Meã, Vila Nova Cerveira). Quando se trata de fixar o local, terra, bispado de nascimento do rio, os memorialistas fornecem informações variadas. E há múltiplas propostas, umas mais genéricas e imprecisas que outras: a Galiza, Montes de Leão, Astúrias, Castela, Bispado de Lugo, Bispado de Mondonhedo, Riba d’Ave ou Riba d’Avia e mais vezes, Castro d’El Rei, na Galiza. Em abono da referência geográfica, o lugar de «Castro de Rei», 4 léguas de Mondonhedo, cita o memorialista de Seixas (Caminha) o A. de Oliveira Freire na sua Descriçam corographica do reyno de Portugal (Lisboa, 1739). A Geografia Moderna fixa-lhe a serra de Meira (Galiza) como local de origem. O desconhecimento da geografia galega em geral e da geografia do território das origens do rio Minho em Espanha, era de facto, geral entre os párocos, que com dificuldade respondiam a este item, comum à descrição «genealógica» dos rios na Geografia Clássica, sobre o que também perguntavam os itens do Inquérito. É certo que alguns ainda se alargam na descrição do trajecto galego do rio Minho. E fizeram algum esforço de recolha de informação para poder responder o mais correctamente à matéria. Tal terá criado até alguma controvérsia, pelo que decorre da resposta do pároco da vila de Monção (concelho de Monção) que se sentiu na necessidade de esclarecer que a Fonte do Minho é no Bispado de Mondonhedo «e não no de Lugo como muitos tem dito e outros escrito….» (Memória respectiva). Entre outros referenciavam o nascimento do rio no Bispado de Lugo, os memorialistas de Chaviães e da vila de Melgaço, do concelho vizinho.


Extraído de:
- CAPELA, José Viriato (2005) - As freguesias do Distrito de Viana do Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758. Alto Minho: Memória, História e Património Casa Museu de Monção/Universidade do Minho.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Por altura da Guerra da Restauração III

MELGAÇO, Março de 1642

Aelber

"De Entre-Douro e Minho, no primeiro sábado deste mês, veio uma carta em que se avisa que um capitão de infantaria francês, tenen­te-coronel, enfadado da suspensão das armas e do grande ódio em que os soldados estavam na cidade de Braga, por causa do Inverno, deliberou sair em campanha e entrar por terras dos inimigos, ele só com a sua companhia, para o que foi com muito segredo, per­suadindo aos seus soldados (os quais eram todos portugueses que vieram da Flandres e da Catalunha; gastou oito ou nove dias em lhes dispor os ânimos e em prevenir pólvora, balas, corda e tudo o mais que era necessário para reduzir a acto esta generosa de­liberação. E um dia antes do amanhecer deu traça com ele, e os seus soldados saíram à desfilada e caminharam para Melgaço e daí foram marchando pela ponte das Varjas até que entraram na Galiza, destruindo e subvertendo e assolando tudo aquilo que com os olhos descobriam. Não ficou gado que não fizessem presa nem encontraram pelo caminho homem nenhum que não rendessem. Com esta bissaria foram avançando e metendo-se pela terra den­tro. Porém, acudiram os inimigos de várias partes e saíram-lhes ao encontro divididos em dois troços, uns pela vanguarda e outros pela retaguarda. Estes segundos se meteram pelos matos e, sem serem vistos, nem sentidos, lhes armaram uma cilada com que lhes cortaram o caminho por onde precisamente haviam de pas­sar quando tornassem. De modo que se marchavam para diante iam dar nas mãos dos que investiam pela vanguarda; se se retira­vam, era infalível a ruína, pois metiam-se entre os que cortando-lhes o caminho os esperavam na emboscada; e se faziam alto sem dúvida ambos os esquadrões os acometiam e seria irremediável a perdição. Vendo-se o francês neste tão horrível aperto, fez uma prática aos soldados, representando-lhes o perigo em que a for­tuna os havia posto e exortando-os a que deliberassem a perder antes a vida do que a honra. Não lhe deixaram os soldados acabar o discurso, porque todos unânimes e conformes se resolveram a romper aquele esquadrão, que emboscado pretendia tolher-lhes o passo antes que o outro (que já lhe tocava arma pela vanguarda) lho estorvasse. Passou o capitão para a retaguarda e logo viraram com muita destreza os soldados os rostos e foram marchando com tão boa ordem que quando chegaram â emboscada lhe descom­puseram a frente e com a primeira carga, a puras feridas e mortes, abriram caminho muito antes que chegasse o esquadrão que marchava em seu alcance. Pisando morto e pondo por terra a todos os que lhe serviam de embaraço, romperam, penetraram e saíram da filada até que se puseram a salvo com tanta galhardia e admiração dos inimigos que nem o outro esquadrão, que já estava perto, se atreveu a segui-los. E o maior assombro que houve nesta heróica ousadia foi da nossa parte não ter morrido ninguém e somente um soldado saiu ferido com uma bala no braço esquerdo, o qual se veio curar à cidade de Braga, onde naquele tempo estava o general Dom Gastão Coutinho. E com este exemplo deliberaram todos sair em campanha e logo o coronel francês foi para as fronteiras do Minho."

Extraído de:

- SOUSA, Jorge Pedro (2011) – A Gazeta da Restauração: Primeiro periódico português – uma análise do discurso. Livros LabCom, Covilhã.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Por altura da Guerra da Restauração II

Melgaço,  Fevereiro de 1642


"Por carta escrita entre o Douro e o Minho, no dia 7 deste mês, avisa-se que o Marquês de Val Paraíso entrou com quatro mil infantes pela Ponta das Varjas, marchando por Lamas de Mouro, Mosteiro e Coito das Travas e que fez dano porque não havia força bastante para resistir a tanta gente. O relato ainda diz que quando chegou o aviso na praça de armas, se preveniram em Braga o General Dom Gastão Coutinho e o Coronel Francez, saindo ao encontro com a gente do presídio. De Melgasso vieram três companhias. O Marquês de Val Paraíso, vendo a multidão contra ele, não quis esperar e se retirou para Lamas de Mouro, alojando-se em um reduto que os portugueses haviam ganhado."



Extraído de:

- SOUSA, Jorge Pedro (2011) – A Gazeta da Restauração: Primeiro periódico português – uma análise do discurso. Livros LabCom, Covilhã.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Por altura da Guerra da Restauração I

Castro Laboreiro, Novembro de 1641



"Onze homens de Castro Laboreiro que estavam na trincheira viram no campo doze cavaleiros castelhanos que vinham em missão de reconhecimento e deram-lhes uma carga que mataram sete, aprisionando os restantes, tomando-lhes as armas e os cavalos, e mandaram-nos presos a Valença. Vinham atrás destes cavaleiros trezentos infantes e sem saberem o que tinha sucedido aos batedores atacaram a trincheira, mas os onze mosqueteiros lhes deram cargas com que mataram alguns, e os demais fugiram, (…) deixando mortos e (…) cativos (…) 31. Dos nossos, ninguém perigou."



 Extraído de:

- SOUSA, Jorge Pedro (2011) – A Gazeta da Restauração: Primeiro periódico português – uma análise do discurso. Livros LabCom, Covilhã.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Castro Laboreiro (Melgaço): a Noruega de Portugal (1791)

Castro Laboreiro em 1911


Castro Laboreiro, 26 de Setembro de 1791

"Escrevi (…) da Vila dos Arcos, agora faço-o de Castro Laboreiro (…).Que serras fragosíssimas; que caminhos, que desfiladeiros! O Lugar onde estou actualmente é a Noruega de Portugal: não se vêem senão rochas escarpadas e medonhas; árvores de frutos nem uma só; e até as outras são muito raras: não há milho, nem trigo nem hortaliça de casta alguma; apenas o grão do centeio.

Que lhe hei-de dizer da gente? Estão na sua primitiva simplicidade, sem que o luxo tenha feito aqui a mais leve alteração: homens, e mulheres com o seu respectivo uniforme, do qual nenhum se afasta.
Não há coisa mais feia que o (uniforme) do sexo feminino: uma manta de Saragoça dobrada na cabeça descendo da parte de diante até ao peito, muito cosida com o rosto, sendo que por traz chega quase até ao chão; um avental do mesmo tecido (…), polainas de pano branco, e uns tamancos muito altos, atados com diferentes correias; é assim o vestido geral de todas. As caras são de tapuias tostadas e disformes, contudo sabem os Mistérios da nossa Santa Religião; amam as coisas de Deus, e não me consta que haja no lugar escândalos grosseiros.
Ficaram contentíssimos de me ver na sua terra, aonde não ia nenhum prelado há cerca de um século; e desde que cheguei, sempre a igreja tem estado cheia de povo.
Queria dizer-lhe mais, pois há muito para contar; mas falta o tempo.»


Esta carta, escrita por Dom Frei Caetano Brandão, Arcebispo de Braga de 1790 a 1805, a quem Camilo Castelo Branco designou como «O mais glorioso vulto das cristandades lusitanas.» expressa o espanto e o assombramento com que o mencionado Arcebispo encarou Castro Laboreiro aquando da sua viagem em 1791 (portanto no Reinado de Dona Maria I -24/02/1777 a 20/03/1816).É desde logo curiosa a comparação que faz quando diz que «o Lugar onde estou actualmente é a Noruega de Portugal».

Também é interessante a descrição que faz sobre a indumentária (uniforme) das mulheres referindo-se à tradicional capa como sendo «(…) uma manta de Saragoça (…)», aos “calçons” como «(…) polainas de pano branco(…)» e aos “soques” como «(…) uns tamancos muito altos (…)atados com diferentes correias».

Depois passa para uma descrição da cara dos Castrejos utilizando uma comparação nada abonatória para os nossos longínquos antepassados. Diz ele que parecem «(…) tapuias tostadas e disformes (…)». Ora os tapuias eram, e ainda são, um grupo indígena que habita o noroeste do estado brasileiro de Goiás, que o Dom Frei Caetano conhecia por ter sido entre 1782 e 1790 Bispo de Belém do Pará. Claro que para um indivíduo habituado às peles lustrosas que frequentavam (como ainda frequentam) as cortes e os Paços episcopais, aquela pobre e sofrida gente que mourejava dia a dia sob as inclemências do clima da montanha com as consequências que daí advém para a pele do rosto, pareciam «tapuias disformes».

Apesar desta comparação nada feliz para os nativos de Castro Laboreiro, tem que ser dado o mérito ao Dom Frei Caetano de lá ter ido, pois isso revela-nos uma preocupação, pelo menos, com o bem estar espiritual daquelas pessoas, tanto que diz ele àquela terra «(…) não ia nenhum prelado há cerca de um século (…), embora não «(…) haja no lugar escândalos grosseiros» (presumo que o nosso Arcebispo se quis referir a incestos, concubinatos e escândalos do género).

_________________
[Transcrição em português actual da Carta de Dom Frei Caetano Brandão in AMARAL, António Caetano de. Memórias para a história da vida do venerável D. Frei Caetano Brandão. 2 vols. Lisboa, Na Impressão Régia, 1818. 2ª ed. Braga, Typografia dos Orphãos 1867, extracto publicado por Alice Duarte Geraldes in Brandas e Inverneiras – particularidades do sistema agro-pastoril crastejo, Cadernos Juríz Xurês n.º 2, 1996, págs. 13 e 14.]
Fonte: Blogue "Longe de Castro Laboreiro"

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Castelo de Castro Laboreiro: Posição estratégica para a preservação da nacionalidade I


Castro Laboreiro foi, desde os séculos centrais da Idade Média, sede de concelho, recebendo em 1513 foral novo dado pelo rei Manuel I. Região periférica e fronteiriça, ainda hoje conserva, apresentando embora um quadro territorial-administrativo distinto, uma forte identidade cultural. O seu castelo foi sempre garante e símbolo da manutenção das integridade territorial e soberania nacionais, tanto nos tempos medievais como no conturbado século XVII da "restauração". O castelo foi erguido no topo do escarpado monte que se eleva a menos de 500 metros a Sul da povoação, numa implantação que pode considerar-se paisagisticamente espectacular. Embora algumas referências documentais permitam sustentar que existiria um castelo anterior, a fortificação que actualmente aí se conserva data da segunda metade do século XIII, sendo a sua edificação geralmente atribuída ao rei D. Dinis. No primeiro quartel do século XVI foi desenhado por Duarte Darmas, que registou com pormenor as planta e vistas laterais da fortificação. Ao centro da alcáçova, na tradição poliocértica românica, emergia dominante uma poderosa torre de menagem, já desaparecida. Esta e a cisterna eram defendidas por uma primeira cerca, de planta sub-rectangular e pequeno perímetro, ao interior da qual se acedia quer pela porta da traição, chamada do Sapo, no lado Norte, quer pela porta meridional, a do Sol, por onde se passava ao segundo e mais amplo recinto muralhado, que serviria fundamentalmente para abrigar gados e bens em períodos de conflito, sendo certo que também poderia ter correspondido a um projecto inicial de aí implantar a povoação, projecto não concretizado. A planta castelar revela padrões já góticos , bem patentes na integração de cubelos e pequenos torreões nos panos da muralha da alcáçova. O aparelho construtivo é cuidado. Arruinado e parcialmente desmontado no século XIX, conheceu já na segunda metade deste século uma pequena intervenção de limpeza e conservação, podendo considerar-se que as ruínas se conservam em bom estado. À época do desenho de Duarte Darmas, um pequeno aglomerado habitacional implantava-se no exterior da fortaleza, na banda Norte - conforme relato de 1527, o aglomerado que deu lugar à actual vila era então uma "branda" pois os seus 100 moradores, no Inverno, iam "viver fora por ser terra fria". Nessa época parece que ainda não existia a pequena ponte que hoje cruza o rio Laboreiro no extremo Norte da povoação. De tradição arquitectónica medieval, com tabuleiro estreito e cavalete pouco pronunciado, vence um triedro com mais de 5 metros de altura por 6 metros de comprimento. Conhecida por "Ponte Velha" ou "Ponte dos Mouros", esta ponte servia as antigas ligações que saíam de Castro Laboreiro para Norte, nascente e Sul. A igreja desenhada por Duarte Darmas também já não é a mesma. A actual igreja paroquial é reconstrução de época moderna, conservando apenas dos tempos medievais uma interessante pia baptismal com decoração insculturada de tradição românica.
Desenho de Duarte D'Armas


Extraído de: http://www.geira.pt/arqueo/html/sitio78.html

domingo, 12 de agosto de 2012

A Fonte de S. João: caraterísticas e referências históricas


A Fonte de S. João
(Foto de Vitor Oliveira)


A Fonte de S. João possui espaldar de planta rectangular e corpo de cantaria, inferiormente marcando embasamento, sendo definido por pilastras toscanas, ostentando pequena inscrição no topo, coroadas por pináculos tipo pinha assentes em acrotérios alteados e adelgaçados, que enquadram o remate em empena, com friso e cornija, sobrepujado por pináculo. O espaldar é decorado inferiormente por bica carranca, com rosto antropomórfico, de cabelos ondulados lateralmente, contendo torneira, ladeada por duas serpentes com cabeça de dragão, encimada por cartela ovalada, côncava, albergando a representação do Agnus Dei, tendo na moldura a inscrição "ECCE AGNUS DEI", envolvolvida por elementos fitomórficos volutados e concha. A cartela é ladeada por lápides inscritas, figurando na do lado esquerdo texto em latim e na do lado direito texto em português, contendo ambas a data de construção, "1780" e possuindo os ângulos curvos. Superiormente, surge ao centro nicho em arco de volta perfeita, interiormente definido por duas colunas coríntias e com o arco sobrepujado de concheados, e albergando a representação escultórica de São João baptizando Cristo. Enquadra o nicho duas outras lápides, também de ângulos curvos, inscritas, e encima-o brasão com as armas de Portugal, envolto em concheados e sobrepujado por coronel e concha. No alinhamento da bica, surge no embasamento bacia rectangular de perfil curvo.

A lápide do plano inferior, do lado esquerdo tem a inscrição: MARIA I LUSITANORUM RE..NAE.. GRATIA JOANNE PETRO SA.. PUBIEIDO IN HOC MELGA..NSI OPPIDO FORMSI IU DICE SE NATUS PRESIDE CONDE FORA... QUE TAN..UAM IN CA.. TREITORII CONSTITUTE .. COND..UN HOC FUET EDICTO ..DUSTIMAQUE HUIUS MAGISTRATUR ANA MDCCLXXX; do lado direito, tem a seguinte inscrição em português: ESTA OBRA MANDOV FAZER O DOVTOR JOÃO PEDRO DE SALES CAVALEIRO JUIS DE FORA COMP..CAMENTO DE CA.... DE COMARCA NESTA NOTAVEL VILA DE MELGAÇO À SUA CUSTA E DA NOBREZA ... As lápides superiores têm as inscrições: NOM MUNDATUR AQUIS SED AQUA ... HIC MUNDAT.... ; TINGE RUE NON ICITUR DOMINUM BAPTISTA RECUSE... CRIMINIBUS NOS ...QUE..ZAVA .. RA PARAT.
Diga-se ainda que se trata de uma fonte coroada por pináculos adelgaçados bastante elegantes e espaldar muito decorado por elementos relevados e cartelas inscritas, alusivas à água e à sua construção. Inferiormente possui serpes com cabeça de dragão e bica carranca antropomórfica e, num plano superior, nicho central com representação do baptismo de Cristo por João Baptista e cartela com o Agnus Dei.
A Fonte de S. João foi construída no ano de 1780 e foi custeada pelo Doutor João Pedro de Sá, Juiz de Fora na Vila de Melgaço, do lugar da Assadura, e pela nobreza da vila. Em 1903, dá-se a transferência da fonte para a Praça da República. Sabe-se que no início do séc. XX por meio de uma fotografia do início do século mostram a praça da República pontuada de árvores, tendo no topo (oposto ao castelo) a antiga Escola Conde de Ferreira e, ao lado esquerdo da mesma, a Fonte de João João. Em 1970, em Maio, por despacho ministerial foi aprovado o estudo referente à mudança da fonte localizada a E. da Praça da República para Nordeste da mesma praça. No ano de 1971,no mês de Dezembro, segundo ofício da DGEMN ao Director Geral do Ensino Superior e das Belas Artes, a fonte já havia sido transferida de local, conforme o projecto. Todavia, além de ter sido alterada a localização da escada de ligação do miradouro no caminho a N., não tinha ainda sido executado o tratamento das juntas das cantarias da fonte e a sua ligação do abastecimento de água. No projecto, previa-se o ajardinamento do espaço, limitação das cantarias e tratamento do pavimento de acesso púbico; achando que a localização da escada dificultava o arranjo previsto, considerava-se que se devia solicitar elementos à Câmara Municipal acerca da conclusão dos trabalhos.


Informações recolhidas de:
- http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3470

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O primeiro foral outorgado a Melgaço por D. Afonso Henriques



D. Afonso Henriques, para além de ter beneficiado particulares e instituições eclesiásticas, também concedeu a Melgaço carta de foral. Documento que elevou esta povoação à dignidade de município ou concelho.

Em relação a esta carta foralenga, convém recordar que a data, expressa de forma anormal, se costuma ler 1181, mas a crítica, conferindo as datas dos cargos exercidos pelos magnates que o subscrevem, inclina-se para o ano de 1183.

Fosse de um ou de outro ano, pelo dito foral vê-se que Melgaço era uma unidade territorial antiga, talvez uma vila romana ou castro atendendo à configuração do terreno em que a vila se implantou, vila que deve ter sucedido a uma póvoa ou pobra, isto é, povoação anterior.

Trata-se de uma terra que já tinha sido delimitada anteriormente, pelo que D. Afonso Henriques a concedeu aos seus moradores com uma certa independência administrativa e judicial, outorgando-lhe um foral igual ao modelo de Ribadávia, na Galiza, como lhe tinha sido pedido por eles. Expressamente o rei diz que lhes concede a terra “... cum suis terminis et locis antiquis...” por onde os pudessem descobrir ou reclamar.

O património concelhio foi-lhes ainda aumentado com a metade indivisa de Chaviães, que era do rei, impondo como condição, nesta concessão, que edifiquem a povoação e nela residam. Poderia tratarse tanto de uma reconstrução como de um repovoamento.

Este modelo de foral constituiu no seu conjunto a forma mais adequada, encontrada pelos moradores de Melgaço e apoiada pelo rei, para organizar o território, para o povoar, para incrementar o seu desenvolvimento económico e para o defender, dado que se encontrava em zona fronteiriça.

Para alcançar esses objectivos orientavam-se certas disposições, exaradas na respectiva carta de foral, referentes aos foros, tributos e penas que incidiam sobre a vida dos moradores e também sobre pessoas estranhas ao concelho, de que salientamos apenas alguns aspectos:

– A relativa leveza da carga fiscal a pagar ao rei pelos moradores, já que, apenas teriam de lhe pagar, anualmente, por suas casas, um soldo, e os carniceiros dois, sendo metade paga depois do Natal e a outra metade três dias após a Assunção de Sta. Maria e seis dinheiros de colheita. De tudo o cultivado, comprado ou vendido apenas pagariam a dizima à igreja, com vista à defesa da agricultura e aumento do comércio.

– O incremento e protecção concedida ao comércio local, pois os mercadores da vila beneficiavam de certas regalias em relação aos mercadores “estranhos” – leia-se aqui galegos. Enquanto estes de tudo o que vendessem tinham de pagar ao rei ou seu representante determinada quantia, estipulada numa pauta, aqueles perante ninguém teriam de dar satisfação. Por outro lado, tenta-se também pôr cobro à utilização de medidas falsas através da aplicação de coimas: “De falso cubito et de tota medida... pro falsitate V soldos reddat”.

– A luta contra os delitos e infracções cometidas, através de adequadas penas. Entre esses podemos apontar: homicídio, roubo, violação do domicílio, agressão em recinto público, injúria, penhora indevida, etc. O produto das coimas aplicadas revertia tanto em favor da vítima e do poder régio, como do concelho.

A instituição do concelho assentava então, numa carta de foral, diploma que regulava a administração, as relações sociais e os direitos e encargos dos moradores.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Festa da Cultura de Melgaço celebra 30 anos


A Festa da Cultura de Melgaço celebra, entre os dias 10 e 12 de Agosto, a sua trigésima edição, um marco na celebração da cultura, história, tradição e património do concelho que, este ano, dá especial enfoque às fontes patrimoniais, retratadas no cartaz do evento e no pavilhão do Município.

A Festa, que durante três dias convida locais e visitantes a circular em redor do Centro Histórico, onde encontrarão espaços diferenciados, dedicados aos livros, ao artesanato, ao Vinho Alvarinho, e ainda a associações e instituições diversas, tem muitas outras actividades previstas.

A abertura do evento, marcada para as 11h00 do dia 10, segue-se o concurso de Vinho Alvarinho, que escolherá as melhores colheitas de 2011. Da programação destaca-se ainda outras iniciativas, como as actividades de desporto aventura, a apresentação da peça de teatro Solar, a exibição e a III Corrida de carrinhos de rolamentos e a animação musical. O encerramento, na noite do dia 12, conta com a actuação do fadista Camané, num concerto gratuito seguido de um monumental fogo de artifício.

In: http://www.cm-melgaco.pt/portal/page/melgaco/portal_municipal

Plano Diretor Municipal encontra-se em discussão pública



Porque é do interesse de todos os melgacenses...

"António Rui Esteves Solheiro, presidente da Câmara Municipal de Melgaço, torna público, nos termos do artigo 77.º, n.º 3, do Decreto -Lei n.º 380/99, e por deliberação de Câmara Municipal de 27 de julho de 2012, a abertura do período de discussão pública da proposta do Plano Diretor Municipal de Melgaço, pelo período de 30 dias úteis a contar do 5.º dia posterior à publicação do presente aviso no Diário da República.
O processo de revisão do PDM bem como a proposta de alteração do Plano Municipal de Defesa da Floresta contra Incêndios, encontram -se disponíveis para consulta na secretaria da DPGU, sita no edifício sede do Município, podendo ainda ser consultado na sua página eletrónica www.cm -melgaco.pt. Estará igualmente disponível, nos referidos locais, um formulário para os interessados apresentarem as suas reclamações, observações ou sugestões. Será realizada uma sessão pública no salão nobre do edifício sede do Município às 10:30 Horas do dia 10 de agosto."
(in: http://www.cm-melgaco.pt/portal/page/melgaco/portal_municipal)