quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Histórias da RODA de Melgaço - séc. XVIII e XIX (parte II)


“Como primeira responsável pelo acolhimento e tratamento das crianças expostas,o desempenho da rodeira não deixaria de se reflectir directamente no bom ou mau funcionamento da instituição, pelo que a sua escolha e nomeação deveria revestir-se de cuidados particulares, por parte das administrações municipais.

A rodeira deveria estar em condições de amamentar as crianças expostas. A isso mesmo obrigava uma resolução da câmara de Ponte de Lima, aprovada no dia 29 de Julho de 1778, segundo a qual, a partir dessa data, não poderia ser “ama dos enjeitados” senão mulher que tivesse leite e lhes pudesse dar de mamar, para se evitar, como muitas vezes acontecia, que não aparecesse logo ama que os levasse para criar. Foi o que se verificou com um menino que foi exposto no concelho de Melgaço e que «chegou de tal forma desfesado que parecia estar expirando ou próximo disso». Como não apareceu nenhuma ama que quisesse aceitar «este inocente, em atenção ao estado que vinha», a câmara obrigou a rodeira a ficar com ele, «por estar de parto recente». Contudo, o menino acabou por falecer dez dias depois.

Uma situação idêntica foi vivida por dois meninos gémeos que foram expostos na freguesia de Penso, concelho de Melgaço, em 23 de Julho de 1878, acompanhados de um único bilhete, a pedir que pusessem à criança o nome de Gaspar Eduardo, provavelmente uma mensagem elaborada antes de se confirmar um parto duplo. O problema foi resolvido no momento do baptismo, com um deles a receber o nome solicitado de Gaspar Eduardo, enquanto o outro se passou a chamar Eduardo Gaspar.

Estes expostos eram prematuros e um deles estava quase moribundo, pelo que não apareceu nenhuma ama disposta a criá-los, ficando ao cuidado da ama do Hospício de Melgaço, tendo ambos falecido alguns dias depois.

Os primeiros regulamentos locais recomendavam que a rodeira deveria ser substituída, logo que deixasse de ter leite.”




Informações recolhidas em:

- PONTE, Teodoro Afonso (2004) - No limiar da honra e da pobreza - A infância desvalida e abandonada no Alto Minho (1698 - 1924). Tese de doutoramento; Universidade do Minho, Braga.

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