Planta
longitudinal orientada, composta por uma só nave e ábside quadrada. Volumes
articulados com cobertura de telha a duas águas. Fachada principal enquadrado
lateral e frontalmente por contrafortes e terminado em empena encimada por cruz
foliculada sobre dorso de carneiro. Portal de três arquivoltas com
enxaquetados, motivos vegetalistas, molduras e besantes, sobre imposta corrida
e esculpida assente em colunas com capitéis vegetalistas. Encima-o cornija
sobre cachorrada e fresta com colunelos, capitéis lisos, arquivolta e frisos
envolventes de motivos vegetalistas e geométricos. Fachadas laterais corridas
por friso e vários modilhões de apoio a dependências, fresta central, cornija
sobre cachorros esculpidos e portal lateral; o do N. de arco de volta perfeita,
e nós de Salomão gravados nas aduelas, sobre impostas zoomórficas; tímpano com
árvore da vida ladeado por harpia e outro animal. Ábside com cornija besantada
sobre cachorros esculpidos e fresta na parede testeira, abrindo para fora em
arco quebrado. Interior com cobertura de madeira; de ambos os lados corre soco;
arco cruzeiro quebrado, de duas arquivoltas: a exterior com friso esculpido
sobre imposta e a interior sobre colunas com capitéis quadrangulares; ladeia-o
dois nichos estreitos de arco quebrado e encima-o fresta. Na parede da Epístola
inscrição. Capela-mor com pavimento mais alto, fresta da parede testeira
abrindo também para o interior e dois nichos laterais, de arco quebrado.
Algumas referências históricas...
Em 1166,
verifica-se a doação do senhorio de Orada ao mosteiro de Fiães pela Condessa
Froila; 1170 - integrava-se no couto que D. Afonso Henriques outorgou ao mesmo
mosteiro; por se encontrar em ruínas, D. Afonso Henriques manda-o reedificar,
segundo escritura de doação feita por D. Sancho I em 11 Setembro 1204; 1189 -
D. Sancho I deu aos frades de Fiães os quatro casais e meio de Figueiredo pela
remissão dos seus pecados e pela herdade de Santa Maria da Orada que seu pai D.
Afonso, lhes deu; 1211 - D. Afonso II teve algumas questões com as Infantas
suas irmãs por causa dos bens que D. Sancho I lhes legou; 1218 - o senhorio da
capela e seus bens estavam em dívida, e durante o século Portugal manteve pleitos
mais ou menos declarados com Espanha por causa dela; 1220 - documento refere a
capela como eremitério; 1245 - data inscrita junto ao arco triunfal assinalando
a reconstrução da igreja, provavelmente substituindo a primitiva, possivelmente
um eremitério dos frades de Fiães; a capela era administrada pelo Convento de
Fiães; 1258 - Inquirições referem que foi usurpada ao património real e dado a
um convento, sem o vigário da terra ter escrito no rol o consagrado -
"Perdit Dominus Rex illud" - perdendo-o assim o rei; 1303, 5 Maio -
Lourenço Gonçalves Raposo, morador na Bouça, doa trinta soldos à ermida de
Santa Maria de Orada pela leira que tinha e fazia "Corredoira" de
Orada, mandando que a sua geração dê anualmente à ermida os trinta soldos; posteriormente
os frades deixaram de ali ter o seu eremitério, levando as chaves da capela
para Fiães, passando assim a estar fechada grande parte do tempo; 1567 -
construção do cruzeiro com imagem de Cristo crucificado em frente da capela da
Orada, durante um período da peste, como agradecimento por Melgaço ter sido
poupada ou a pedir por aqueles que morreram; 1652, 13 Fevereiro - testamento de
Catarina Rodrigues, da freguesia de São João de Sá, termo de Valadares,
recomendando uma Avé Maria do Rosário de Nossa Senhora da Orada à imagem da
capela; 1691 - data inscrita numa pedra lavrada posta a descoberto nas obras de
restauro dos anos 40; séc. 17 / 18 - substituição do antigo arco cruzeiro,
feitura do púlpito, coro e outros melhoramentos; 1737 / 1738 - Marta Rilva foi
a Fiães levar uma carta e pedir licença aos frades para se recolher na Orada a
procissão e pedir-lhe a chave da grade, como era costume, e para trazer o
Senhor caído; 1758, 24 Maio - segundo o padre Bento Lourenço de Nogueira nas
Memórias Paroquiais, a capela de Nossa Senhora da Orada tinha sido fundação dos
Templários, pertencia aos monges de São Bernardo do Mosteiro de Fiães e ficava
junto à estrada que ia para a raia seca, que dividia Portugal da Galiza; 1834,
até - pertencia ao mosteiro de Fiães, altura em que devido à extinção das
ordens religiosas, foi entregue às autoridades concelhias; 1888, 1 Janeiro - D.
Albina Olímpia de Sousa e Castro, sendo então fabriqueira da capela, oferece um
campo na zona da capela, para criar um terreiro frontal à mesma; 1898, 15
Fevereiro - aquando da abertura da estrada nacional de Melgaço para São
Gregório, a Junta de Freguesia deliberou colocar o Cruzeiro da Orada no centro
do pequeno recinto, à margem da estrada, na confluência das freguesias de Santa
Maria da Porta e Santa Maria Madalena de Chaviães, porque até ali estava junto
à parede de suporte do terreno da capela; destruição da galilé da capela.
Algumas caraterísticas particulares
Trata-se de
uma igreja de fábrica muito cuidada e custosa em relação ao local de
implantação, ainda hoje isolada, revelando assim grande devoção. A maior
concentração de motivos de carácter apotropaicos gravados no portal N. revela
seguir a tendência da região em temer os espíritos virem do N.. Nos cachorros
observamos temas tradicionais e populares, como o nó de Salomão, suástica
flamejante, roseta, etc. e outros mais modernos, como cabeças - rei coroado -,
objectos e geometrizados, de escultura bastante cuidada. O portal axial, sem
tímpano, e de arco quebrado, pelas bases de plinto bastante alto, reduzido
tamanho dos seus capitéis de folhagem e sem volutas, pela modinatura e
organização das arquivoltas e do pé-direito, bem como pelos temas, quase
heráldicos, que as decoram, deve ser considerada já como protogótico, embora
nele se possam ver ainda aves afrontadas, um friso enxaquetado e as malgas,
típicas do portal lateral de Paderne. A decoração do tímpano do portal lateral
N., com a árvore da vida, constitui uma composição escultural única em
Portugal, de grande carácter simbólico.
Informações
recolhidas em:
VIEIRA,
José Augusto, O Minho Pittoresco, vol. 1, Lisboa, 1886; DGEMN, Boletim nº 19,
Porto, 1940; MONTEIRO, Manuel, A Igreja da Senhora da Orada in Boletim da
Academia Nacional de Belas Artes, vol. 8, Lisboa, 1941, pp. 22 - 28; ALMEIDA,
Carlos Alberto Ferreira de, Primeiras impressões sobre a Arquitectura Românica
Portuguesa in Revista da Faculdade de Letras, vol. 2, Porto, 1971, pp. 65 -
116; PINTOR, Pe. M. A. Bernardo, Antiguidades Melgacenses. A Capela da Orada in
Voz de Melgaço, Melgaço, 15 Jan. 1975; idem, Melgaço Medieval, Braga, 1975;
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Arquitectura Românica de Entre Douro e
Minho (Dissertação de Doutoramento em História de Arte), vol. 2, Porto, 1978;
idem, O Românico in História da Arte em Potugal, vol. 3, Lisboa, 1986; ibidem,
Alto Minho, Lisboa, 1987; ALVES, Lourenço, Arquitectura Religiosa do Alto
Minho, Viana de castelo, 1987; FERREIRA, João Palma, Nossa Senhora da Orada tem
Elementos Orientais in A Capital, Lisboa, 2 Maio 1988; Relatório dos Trabalhos
de Acompanhamento Realizados pela Unidade de Arqueologia da Universidade do
Minho, ao Abrigo dos Protocolos com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais (1997 - 1999) (2001 - 2002), (Universidade do Minho), Braga, 2002;
ESTEVES, Augusto César, Obras completas nas páginas do Notícias de Melgaço,
vol. 1, tomo 2, Melgaço, 2003; http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3498
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