sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O antigo solar e Quinta de S. Cibrão (Penso - Melgaço): algumas notas históricas


Solar da Quinta de S. Cibrão
(Foto em www.idealista.pt)

A Quinta de S. Cibrão situa-se na freguesia de Penso, no concelho de Melgaço, localizada entre a margem do rio Minho e a estrada nacional, no limite administrativo entre este concelho e Monção.  Hoje, creio ser conhecida como a Quinta da Casa Nova, e trata-se de uma propriedade com um antigo solar e capela no interior e que tem vários séculos de História, encontrando-se aqueles em processo de degradação. O nome da quinta é uma derivação de S. Cipriano, santo a quem tinha sido construída uma primitiva capela dentro da propriedade. De facto, há referências bibliográficas do século XIX que citam que no local onde se encontra atualmente a capela, existiu em tempos muito antigos um templo, de evocação a Júpiter, de origem romana. Contudo, creio não haver provas físicas da existência do mesmo sendo aludido até, como se pode ler adiante, que tal não passaria de um estória inventada para valorizar a quinta.
A Quinta de São Cibrão deve ter passado a pertencer a João de Araújo e Caldas e sua esposa Filipa de Sousa de Faria, por volta de anos 1620, já que alguns filhos deste casal nascerem na freguesia de Paderne e em 1640, estes ainda viviam nesta quinta de S. Cibrão. Posteriormente, foi senhor desta quinta o seu filho, o capitão-mor de Valadares Filipe de Araújo e Caldas, casado com Isabel de Sousa e Castro, e o irmão Manuel de Araújo e Caldas, veio viver para a quinta do Rosal em Valadares e foi sargento-mor. A Quinta de S. Cibrão foi destruída nos anos 1656 pelos Espanhóis, durante a Guerra da Restauração, pelo facto de o capitão Filipe de Araújo e Caldas ter destruído algumas aldeias na Galiza. A quinta depois passou, sucessivamente, para o filho de Filipe Caldas, Luís de Azevedo Araújo que era casado com Maria Teresa de Araújo, seu neto João de Araújo Azevedo casado com Maria Lima de Melo, seu bisneto Manuel Giraldo de Sousa Azevedo "Sottomaior" casado com uma terceira ou quarta prima da quinta do Rosal, Mariana de Araújo Azevedo Sottomaior.
O Padre Carvalho da Costa no seu livro “Corografia Portuguesa”, publicado em 1706, menciona que o nome da Quinta de S. Cibrão refere-se a uma capela dedicada ao dito santo que inclusivamente era, na época, destino de enfermos à procura de curas para certas maleitas. O autor refere acerca desta quinta que Aqui está a Quinta de S. Sybrão, que possui Felippe de Araújo de Caldas, Cavaleiro do Hábito de Cristo, Capitão-mor e Monteiro-mor de Valadares. Tomou este nome de uma capela antiga deste Santo Cipriano, que ali está; é tradição que foi templo da Gentilidade dedicado a Júpiter; o tio é fúnebre e desacomodado no meio de um campo com pouca veneração e menos o fora a não ser advogado das cézoens, ou maleitas, que muitos enfermos vem ali tremendo e voltam sãos”.
No livro “Portugal Antigo e Moderno”, volume VI, do professor Pinho Leal, publicado em 1875, menciona-se sobre a quinta que “É nesta freguesia a quinta de S. Cybrão, do Sr. Philippe d'Araújo Caldas. Segundo a tradição, no sítio onde está a capela desta quinta, houve um templo romano dedicado a Júpiter. Supõe-se que a existência do tal templo, foi uma fábula inventada para enobrecer esta propriedade, que, mesmo sem aquela circunstância, é notável, pela antiguidade e nobreza dos seus proprietários; e também porque produz óptimo vinho.”
No livro “O Minho Pittoresco”, José Augusto Vieira descrevia a freguesia de Penso, em 1886, como “uma vilota em miniatura” e confirma algumas informações já escritas pelo Padre Carvalho da Costa 180 anos antes. Replica também alguma informação já descrita pelo professor Pinho Leal: “Na quinta de S. Cibrião [Cipriano], é tradição que existiu um templo gentílico, dedicado a Júpiter, no ponto onde está hoje a capela. Há quem diga, porém, que essa tradição foi inventada com o fim de enobrecer a quinta, já de si notável pela família que possui e pelo bom vinho que produz.”

2 comentários:

  1. Sr. Valter Alves, é com grande espanto e interesse que me cruzo com o seu artigo no dia de hoje. Sou descendente da família que explorou a Quinta de S. Cibrão (Quinta da Carvalheira como sempre a conheci) antes de a mesma ser vendida e deixada em ruínas. Conhecer este bocadinho da sua história é realmente um pequeno achado. Gostaria de saber se está interessado em partilhar mais algumas informações sobre esta propriedade tão bonita de Melgaço. O meu contacto é o seguinte: joana-pm@hotmail.com.
    Obrigada, Joana Meneses

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Joana, bom dia. Peço desculpa pela demora na merecida resposta.
      Deixo-lhe aqui alguns elementos (poucos) relativos aos antigos proprietários da quinta, nomeadamente os Figueiredos de São Cibrão. Pode aceder em https://drive.google.com/file/d/1jFomusZQM7Y9sk8N9KSKixbm3TE7gBY0/view?usp=sharing a partir da página 209 do pdf. Espero ter ajudado.

      Eliminar