Estamos em 1881, no último quarto do século XIX. Melgaço atravessava uma grave e longa crise que flagelou o concelho durante a quase totalidade dessa centúria. Para piorar o já delicado estado de coisas, em 27 de Janeiro desse dito ano de 1881, Melgaço é afetado por um episódio meteorológico extremo devastador e os estragos são imensos. Tal facto é contado, na primeira pessoa, numa notícia do jornal "O Valenciano": "Chegado de Melgaço, vou dar-lhe notícias daquela
vila que parece separada completamente do país e como esquecida. Não faltaram
ali sustos alaridos motivados pelo violento temporal do dia 27 do mês findo
(27/1/1881), das 8 para as 9 da manhã daquele dia. O vento fortíssimo que então
soprava levantou telhados, claraboias, chaminés, quebrando árvores e arrancando
outras; foi pequena a sua duração, de contrário deixaria muitas casas apenas
com as paredes. Em uma janela da casa onde se acha a repartição telégrafo-postal
daquela vila, quebrou vidros e caixilhos, sendo para lamentar que ainda esteja
sem eles e assim continue se o digno director da estação não pedir providências
porque, segundo dizem, o dono do prédio esmera-se tanto com as casas que tem
alugadas como se esmera com a sua; é como aqueles que estragam na farinha e
poupam no farelo. O tempo de rigoroso inverno que ali tem havido, muito tem
prejudicado os povos daquele concelho, que estará dentro em pouco a braços com
a miséria se mão divina não melhorar o tempo e mão humana não puser termo aos
actos de perfeita insensatez praticados pela municipalidade daquele concelho,
que secunda a intempérie do tempo com a rigorosa inflexibilidade com que lhe
exige o que ao tempo consegue escapar. A Câmara Municipal, para que os
habitantes daquele pobríssimo concelho, onde só prospera a calúnia, a vingança
e a miséria, não sintam tanto os males que a maior parte deles sofreram,
exige-lhes mais de quatro contos de réis, derrama de cinquenta por cento! A
medida não é má e pouco incomodativa. A criação de uma barca de passagem no rio
Minho, em frente à estação do caminho-de-ferro (Arbo, Galiza), disso não trata,
porque dá trabalho, e o rendimento da exploração é mais sólido e não fere os
interesses dos compadres. Todos os meios indirectos de aumentar a receita são
postos de parte para só os conseguir directamente, da algibeira dos
contribuintes, que não podem, se não mal, adquirir meios de subsistência. Em
outros concelhos recorre-se sempre, em último caso, àquele extremo e isto é não
só conforme com a justiça como com a lei. Mas a lei suprema daquela corporação
é o querer e poder; aquele meio directo, é o mais produtivo e o menos
incomodativo. Pague o povo e não bufe! Não tenha estradas, nem melhoramentos,
nem regalias algumas das que são concedidas aos outros povos, mas pague, como
eles ou mais do que eles! Melgaço, na escala das povoações, é sem dúvida a
última; conhece a civilização por ouvir falar nela; sabe que há estradas,
caminhos-de-ferro, todos os elementos de prosperidade, enfim, porque o ouve
dizer. Quanto a possuir, nem um desses elementos: ignorante e apática, os seus
deputados, em vez de a ligarem com o resto do país pela civilização e pelo
progresso, ligam-na pelo sofrimento e pelos sacrifícios!”
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