Os
singulares costumes e tradições das gentes de Castro Laboreiro
davam um longo compêndio. Um dos costumes ímpares nesta terra é o
ato de cozer o típico pão castrejo, normalmente em forno
comunitário. A importância e a qualidade deste pão desde tempos
muito antigos comprova-se pelo facto de ser mencionado no
foral, citado pelo Padre
Bernardo Pintor, que
D.
Sancho I
concedeu foral a Castro Laboreiro há
cerca de 800 anos:
«... quando fosse a Castro Laboreiro, o Rei recebia de cada casa 2
pães...».
Em
tempos mais recentes, a
investigadora
Maria
Lamas, no
seu livro “As mulheres do meu país”,
aludindo
ao pão de Castro Laboreiro,
acrescenta
que é «...
o mesmo pão negro e grande como a roda de um carro, cozido no forno
comum, uma vez por mês, e conservado fora do alcance dos ratos nas
prateleiras da "camboeira", suspenso do teto, a um lado da
cozinha». O
pão de Castro Laboreiro também é referido na obra da autora
francesa
Mouette Barboff na sua obra “O pão das
mulheres”, por serem estas que geralmente o confecionavam.
O
ato de cozer o pão em Castro Laboreiro, assim como noutros pontos do
nosso concelho e do país, está repleto de rezas e crenças, umas de
raiz religiosa e outras de raiz pagã as
quais são consideradas pelas gentes
castrejas
como fundamentais. Localmente, a preparação do pão é assim
descrita de
forma muito sucinta:
«Peneirar a farinha centeia. Peneirar a farinha milha ou triga.
Misturar as farinhas e
juntar
água, sal e
o fermento. Mexer com a mão. Amassar e dobrar a massa (palhada).»
Como fermento, usa-se massa preparada anteriormente e deixada a
levedar durante 12 Horas. Diz a lenda que «a água ou orvalho de S.
Pedro quando usada para fazer o fermento não deixa o pão azedar».
Pronta a massa, esta é colocada a levedar, durante 4 horas,
coberta com um lençol de linho e uma manta de lã, fazendo-se a
seguinte reza:
“S.
Vicente te acrescente
S.
Mamede te levede
Imaculada
Conceição
Faça
de ti bom pão.”
Esta
reza tem algumas
variações.
Por vezes, também se reza com
os
seguintes dizeres:
“São
Mamede te levede
São
Vicente te acrescente
São
João te faça pão
O
Senhor te ponha a Sua mão.”
Ou
ainda
“São
Vicente t’acrescente
São
João te faça pão
Nossa
Divina Senhora
Te
ponha a sua mão”.
Enquanto
o pão leveda, aquece-se o forno comunitário
usando-se em especial a lenha de urze. Quando o forno está bem
quente, retiram-se as brasas e com estas na pá fazem-se cruzes
dizendo:
«Cresça
o pão no forno
O
Bem de Deus pelo mundo todo
P'rás
feiticeiras um corno
E
p'rá parranheira do forno”,
e atiram-se as brasas para o chão.
Ao
colocar cada broa de pão na pá, para de seguida enfornar,
abençoava-se fazendo-se uma cruz sobre a sua carapaça, com um
punhado de cinza retirado da fornalha.
No
momento de colocar
o pão no forno,
dizia-se:
“Cresça
o pão no forno
E
o bem de Deus pelo mundo todo
Saúde
aos trabalhadores e aos bem feitores
Bruxas
de Zangões vão para a
borralheira
comer os carvões.”
Tradicionalmente
a porta do forno é
selada com estrume de bovino para evitar as perdas de calor. O tempo
de cozedura é de 2 h aproximadamente,
após o que o pão é armazenado na «camboeira».
A
“tenda” era o primeiro pão a sair do forno e a ser consumido no
interior da estrutura. Diz-se que só se podia “apartar” (partir)
a “tenda” com as mãos, e se alguém passasse a lâmina do
“cuitelo” (faca) pela “tenda”, as broas que estivessem dentro
da “forneca” não coziam bem (CARVALHO, Diana, 2015).
-
CARVALHO, Diana (2015) – Castro Laboreiro – do pão da terra aos
fornos comunitários. Dissertação de Mestrado. FLUP, Porto.
-
LAMAS, Maria (1948) – Mulheres do meu país. Editorial Caminho,
Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário