Cícero Cândido Solheiro foi um dos maiores empreendedores que Melgaço já conheceu. Este ilustre melgacense nasceu a 30 de Dezembro de 1878 e faleceu no Porto, na freguesia da Vitória a 24 de Setembro de 1947. Foi casado com Maria Angelina Augusta, natural de Picota, freguesia de Rouças.
Falamos de Cícero Solheiro porque neste mês de Maio se completam 113 anos da chegada a Melgaço do mais antigo autocarro. Entre outras ações em prol da terra por parte deste melgacense, destaca-se a criação da primeira empresa de camionagem em Melgaço, a Auto-Melgaço, e a mais antiga carreira de autocarro que ligava Melgaço a Valença. O primeiro autocarro para a Auto-Melgaço foi importado de França à casa Berliet e a carroçaria montada em Portugal. Na edição de 2 de Maio de 1912, o Jornal de Melgaço conta-nos que, por essa altura, os autocarros já se encontravam em Portugal e estavam em testes. Vamos ler a notícia: “Automóveis de carreira - Já chegaram a Lisboa, os dois magníficos automóveis que o sr. Cícero Cândido Solheiro, estimável cavalheiro da freguezia de Prado, mandou vir de França, para fazerem a carreira diária entre Valença e Melgaço.
Este importante melhoramento é de grande utilidade para o público e por isso é de esperar que todos contribuam para a sua sustentação.
O «Diário de Notícias, referindo-se a este assumpto, diz: Fizeram-se hontem pela tarde as experiências dum grande automóvel com a força de 22 cavallos, destinado a fazer as carreiras entre Melgaço e Valença. Esse elegante omnibus, que comporta 20 passageiros e 600 kilos de bagagem, medindo 5 metros e meio, foi construído nas oficinas de carruagens e «carrosseries» para automóveis, pertencente à firma Ferreira & Viegas.
A encommenda foi feita à importante casa Berliet, para o Sr. Cícero C. Solheiro e constitui um grande melhoramento para Melgaço. São dignos de todo o elogio os Srs. Ferreira & Viegas pelo seu grande emprehendimento, pois hontem vieram demonstrar o que se pode fazer no país, o que muito honra a indústria nacional.
As oficinas estão aptas a receberem encommendas das «carrosseries» que até aqui vinham do estrangeiro, e segundo o omnibus que nos transportou hontem por algumas ruas da cidade, tão perfeitas e mais económicas do que aquellas.
Aos seus proprietários, as nossas felicitações.”
Na semana seguinte, o autocarro já se encontrava em Melgaço para iniciar o serviço de carreira. No Jornal de Melgaço, na sua edição de 9 de Maio de 1912, podemos que “Auto omnibus - Já chegou a esta villa o magnifico auto-omnibus que o Sr. Cícero Candido Solheiro, respeitável cavalheiro e importante capitalista, adquiriu para serviço de transporte de passageiros entre Valença, Monsão e Melgaço.
O referido carro, que nos dizem ser um modelo de belleza e perfeição, brevemente dará princípio à carreira mencionada o que, para Melgaço, constitui um dos seus mais importantes melhoramentos.
Que aquelle nosso amigo veja coroada do melhor êxito a sua arrojada iniciativa, são os nossos mais ardentes desejos.”
O serviço da primeira carreira de autocarro que Melgaço conheceu iniciou-se a 24 de Maio desse ano de 1912. No dia anterior, na edição de 23 desse mês e ano, são publicados na imprensa local, os horários e os preços das viagens que para aqui transcrevemos (Jornal de Melgaço):
“Auto Melgaço
Serviço combinado e diário aos comboios expressos
«Inauguração publica a 24 do corrente»
HORÁRIOS
Melgaço, villa, sahida às 6h e 30
Melgaço, Pezo, sahida às 7h.
Monsão, chegada às 8h e 10.
Valença, chegada às 9h e 30.
VOLTA
Valença, sahida às 16h e 40.
Monsão, chegada às 17h e 50.
Melgaço, Pezo, chegada às 19h
Melgaço, villa, chegada às 19h e 40.
Estes horários, em 1 de Junho serão modificados, de conformidade com as alterações do expresso, Porto - Valença.
PREÇOS
Valença a Melgaço, 2 000 réis.
Valença a Monsão, 1$000 réis.
Valença, a Lapela, 500 réis.
Melgaço a Valença, 2$000 réis.
Melgaço a Valladares, 500 réis.
Melgaço a Monsão, 1$000 réis.
Monsão a Lapela ou Valladares, 500 réis.
Bagagens, 20 réis o kilo.
Pequenas malas até 15 kilos de peso, grátis.
Os srs. passageiros podem na villa de Melgaço, dirigir-se aos Srs. Aurélio d’Áraujo Azevedo & C.a, ou ao conductor do omnibus, na hora da partida.”
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