sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

A Cruzada de S. Gregório (Melgaço) em tempos da Guerra Civil




A primeira metade do século XIX pelas bandas de Melgaço e no Alto Minho em geral é quase anárquica. ESTEVES, A (2006) conta-nos, no seu trabalho que “em 1818, as povoações ribeirinhas do rio Minho, quer do lado português, quer da Galiza, eram constantemente atacadas por bandos de salteadores encapuzados, que não só roubavam como invadiam as aldeias, intimidando as populações com tiros e ocupando tabernas e vendas. Alguns destes bandos tinham motivações políticas e contavam, inclusive, com a conivência do poder judicial”. Em Melgaço, o mais célebre era o bando do Tomás das Quingostas, que chefiava um bando de salteadores que no entanto tinha uma conotação política traduzida na lealdade a D. Miguel e à causa absolutista. Além deste, no nosso concelho, existia desde 1827, um outro bando numeroso conhecido na época como a “Cruzada de S. Gregório”, por se encontrar supostamente sediada no dito lugar da freguesia de Cristóval, concelho de Melgaço. Era formado, segundo registo documental, por cerca de 120 homens, entre soldados de infantaria, provavelmente desertores, e voluntários da terra. Tem a particularidade de quase a quase totalidade dos seus efetivos serem naturais de Cristóval e um número significativo de S. Gregório conforme se pode comprovar nos documentos mostrados abaixo. O seu objetivo era defender na região os interesses de D. Miguel na sua pretensão ao trono, antecipando uma possível guerra civil que se veio a concretizar.
Qual a origem destes bandos com conotação política? Temos que recuar ao momento da morte do rei D. João VI em 1826. O herdeiro do trono seria o seu filho D. Pedro, imperador do Brasil que não poderia suceder a seu pai por ocupar o trono do Brasil. Assim, D. Pedro abdica do trono português em favor de sua filha D. Maria da Glória que contava à época com apenas 7 anos e por isso ficou D. Miguel como regente até D. Maria atingir a maioridade e assumir o trono. Entretanto, D. Miguel tinha ordenado a criação de grupos de milícias populares a que chamou “Companhias de Voluntários Realistas” para defender a sua causa nas diferentes regiões do reino. Entre 1826 e 1828, encontrava-se estacionada em S. Gregório a “Primeira Companhia de Voluntários Realistas de S. Gregório na Província do Minho que defenderam os Direitos de El-Rey Senhor D. Miguel I”. Era formada por alguns militares de carreira e por uma maioria de voluntários oriundos de Cristóval, sendo boa parte de S. Gregório, entre outras freguesias de Melgaço. Esta milícia seria dissolvida em Julho de 1828.
Em 1828, D. Miguel acaba por proclamar-se rei absoluto, contando com importantes apoios na sociedade portuguesa. Mais tarde, D. Pedro abdica do trono brasileiro e regressaria a Portugal com vista a destronar D. Miguel. Começa em 1828 uma guerra civil entre absolutistas, partidários de D. Miguel, e liberais, apoiantes de D. Pedro que irá durar até 1834 com a vitória dos liberais e o exílio para D. Miguel.
A “Cruzada de S. Gregório”, além de manter uma ação de terror, à semelhança de outros grupos de operavam em terras melgacenses na época, participou em ações militares durante a Guerra Civil contra os liberais. Entretanto com o fim da guerra, em 1834 com a derrota da causa absolutista, a sua ação não terminou. Contudo, viria a ser desmantelado e os seus membros perseguidos pelas tropas liberais. A “Cruzada de S. Gregório” era liderado pelo Capitão Manuel Joaquim Veloso, natural de S. Gregório (Cristoval - Melgaço) sendo este capturado em quatro de Novembro de 1834 e julgado e condenado em Junho de 1836.
A não aceitação da vitória liberal por parte deste bandos afetos à causa absolutista, contribuiu para o desenvolvimento de uma política de guerrilha. Constituiu o primeiro passo para a continuação da atividade destes bandos organizados, que se dedicavam à prática de todo o tipo de atentados e se refugiavam nas terras altas de Melgaço como por exemplo Castro Laboreiro e por vezes até passavam a fronteira.
Apesar da detenção, no decurso do ano de 1835, de algumas das figuras destacadas da guerrilha, e, Janeiro de 1836 o provedor de Melgaço traçou um cenário desolador. Algumas estradas, nomeadamente a que ligava a freguesia de Penso a Valadares, estavam praticamente intransitáveis, devido ao clima de medo imposto por bandoleiros, sendo o mais conhecido o tal Tomás das Quingostas, que deambulavam por aquelas terras. Por outro lado, funcionários judiciais recusavam-se a entrar nas aldeias e afixar editais contra eles, com receio de perder a vida, imperando, por isso, um verdadeiro clima de medo e delação. (ESTEVES, A., 2006)
Nos tempos a seguir ao fim da Guerra Civil em 1834, em Melgaço,os bandos de criminosos prosseguiram com os atentados contra a propriedade pública e privada. Para a sua persistência contribuiu, decerto, a opulência de alguns e a miséria de muitos, o que servia para aguçar a cobiça dos mais pobres, lançando-os na pilhagem de bens que lhes eram inacessíveis devido à indigência em que estavam mergulhados. Por outro lado, a organização judicial era alvo de críticas, nomeadamente a instituição do júri, por ser considerado impreparado para o julgamento de crimes mais graves e permitir a soltura de alguns dos seus autores. Em 1836, quando decorria o julgamento de Manuel Joaquim Veloso, líder da quadrilha denominada “Cruzada de S. Gregório”, o administrador do concelho de Melgaço teve conhecimento de que os seus antigos apaniguados tinham subornado metade dos jurados. A situação foi resolvida atempadamente e o salteador foi condenado a degredo perpétuo” (ESTEVES, A. 2006).
Tomás das Quingostas apenas seria capturado em 1839 e morto em S. Paio, na Ponte de Alote pelos soldados supostamente por ter tentado escapar.






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