sábado, 22 de julho de 2023

Sobre o lugar do Louridal (Melgaço): um pouco da sua História

 


O Louridal é um lugar que se situa a norte da vila de Melgaço, na proximidade do rio Minho. A origem do topónimo está relacionada com aquilo que existiria este sítio em tempos antigos. Louridal é o mesmo que loureiral, ou seja, uma mata de loureiros. Em tempos medievais, encontramos as primeiras referências a este sítio. Com efeito, no Cartulário de Fiães, encontramos uma escritura, de meados do século XIII, que apresenta o título “Hoc est pactum inter abbatem et conventum et domnum Petrus Martini prelatum et clericos de Chavaes”, em que o abade do Mosteiro de Fiães e Pedro Martins, pároco de Chaviães, celebram um acordo que põe termo à contenda sobre diversos bens e direitos, em que intervieram o bispo de Tui e o Papa. O dito documento foi lavrado em Junho de 1246, onde é citada uma herdade no Louridal, tal como se pode ler: “...Mandavimus abbati et conventui, pro bona pacis etut ecclesia supradicta non ledatur de his que diximus, ut daret eidem ecclesie in recompensantionem im perpetuum possidendam totam hereditatem quam habent in Cernadas et in Louredal cum directura sua.” Note-se que o topónimo aparece escrito numa forma muito próxima daquela que é usada na atualidade. 

Houve aqui um vínculo de morgado, que foi instituído no primeiro quarto do século XVIII pelo Capitão Frei Domingos Gomes de Abreu. De facto, em 19 de Março de 1724 em Melgaço e nas suas casas de morada junto à igreja da Misericórdia, Frei Domingos e sua mulher D. Isabel de Faria, mandou lavrar a escritura da fábrica da capela da Senhora da Pastoriza nomeando-lhe e hipotecando-lhe, entre outros bens, a sua quinta chamada “o Louridal”, aqui localizada e composta de vinte campos e lameiros e soutos, dízima a Deus, sem foro nem pensão, que levará de semeadura cem alqueires de centeio. Assim, o primeiro administrador do vínculo do Louridal e da Capela da Pastoriza foi Lourenço José Gomes de Abreu Coelho de Novais, filho do capitão Domingos Gomes de Abreu, nascido a 10 de Junho de 1711 e falecido em 1776. Este “...foi cavaleiro professo da Ordem de Cristo, pagador geral das tropas da província do Minho desde 1757 a 1764, proprietário do ofício de meirinho geral da vila de Monção e capitão de infantaria.” (ESTEVES, 1989) 

A este sucedeu Francisco Xavier Gomes de Abreu, filho daquele, na administração do vínculo do Louridal e capela da Pastoriza. Nasceu em 15 de Julho de 1745. Segundo ESTEVES (1989), este, por alvará de D. Maria I de 12 de Fevereiro de 1778 confirmado por carta de 19 de Agosto do mesmo ano foi nomeado proprietário da vara de meirinho-mor da vila de Monção, cargo que já pai e avô haviam exercido e de que tomou posse em 7 de Janeiro de 1780. 

O terceiro administrador do vínculo foi António Xavier Marinho Gomes de Abreu, filho de Francisco Xavier, anteriormente citado. Morou na Rua das Rosas em Viana da Foz do Lima, hoje Viana do Castelo. 

O quarto administrador do vínculo do Louridal e da Pastoriza foi António Marinho Gomes de Abreu. Este nasceu a 30 de Dezembro de 1853 e foi senhor da Casa do Reguengo, em Jolda, e do vínculo do Louridal e capela da Senhora da Pastoriza em Melgaço. Casou com D. Joana Pereira Pimenta de Castro, da Casa da Prova nos Arcos de Valdevez. Por óbito de António Marinho foi arrematada em hasta pública por José Joaquim Durães, de Melgaço, a capela da Senhora da Pastoriza no dia 2 de Julho de 1893. Tinha falecido sem geração.  

Entretanto, pela lei de 1863, o vínculo do Louridal e da Pastoriza foi extinto. 

Posteriormente, um tal António Máximo Gomes de Abreu, filho de Tomás Gomes de Abreu e esposa D. Constança Teresa, nascido em 10 de Setembro de 1806, chegou a ser proprietário de algumas das terras do vínculo do Louridal. Desde criança, foi criado e educado por seus tios maternos Francisco José Pereira e mulher Ana Maria de Araújo, que tinham loja aberta no Campo da Feira de Fora e por morte o deixaram favorecido em bens. Já na fase final da sua vida, fez-se proprietário comprando as tais terras do extinto vínculo do Louridal. (ESTEVES, 1989) 

Já nas Memórias Paroquiais de Santa Maria da Porta, redigidas em 24 de Maio de 1758, o padre da freguesia cita o Lugar do Louridal como um dos lugares habitados da freguesia. 

Aos 12 de Fevereiro de 1765, no tempo do fidalgo da Casa da Calçada, Jerónimo José Gomes de Abreu Magalhães, que foi instituído um morgadio. Na dita escritura de instituição, podemos ler que, entre os bens vinculados, nos aparece: “Ittem vincullavão a metade dos folhateiros do Louridal 

ESTEVES (1989) faz referência à família fidalga “Ribeiro”, da vila de Melgaço, em que um dos ramos se estabeleceu aqui no lugar do Louridal em meados do século XVIII. O primeiro a morar neste lugar é um tal António José Ribeiro, que tinha casado na vila de Melgaço em 9 de Outubro de 1766 com Caetana Maria Salgado, filha de Gregório Teixeira e Mariana da Rosa, neta paterna do capitão Jerónimo Teixeira e Gregória Salgado e materna do Domingos Esteves e mulher Catarina da Rosa, todos moradores na vila. 

No assento de batismo de um dos filhos daquele António Ribeiro, batizado em Paderne, lemos um pormenor interessante: “Jerónimo José filho legítimo de António José Ribeiro e Caetana Maria Teixeira nasceo no lugar da Portela de Paderne aos coatro dias do mez de Agosto de mil setecentos oitenta e dois e batiseio solenemente e puz-lhe os Santos Oleos aos sete do mesmo mes e anno. Os Pais são do Louridal, subúrbios da Vila de Melgaço, que se acham refugiados no referido lugar por crime…” 

Sabemos ainda que o Padre Bento de Araújo, da Quinta do Carvalho do Lobo, sobranceira à vila de Melgaço, tinha propriedades aqui no Louridal ainda na primeira metade do século XVIII. Estas propriedades foram herdadas por uma sobrinha, uma tal Dona Guiomar Rosa de Abendanho Lira Sotomaior. Esta tinha casado  na vila de Melgaço em 12 de Maio de 1718 com José Caetano Teixeira Marinho da Afonseca, da freguesia de S. Martinho de Mancelos, no concelho de Amarante e moraram extramuros da vila de Melgaço. O tio de Dona Guiomar faleceu em 1748 e entre os bens que compunham a sua herança, lhe tocaram duas parcelas de souto sitos neste lugar do Louridale porque hera huma mulher e senhora e pessoa grave por cauza da Abzencia de seu marido possui nessessidades que precizava remediar para tratamento de sua pessoa e onestidade se via precizada a fazello dos ditos dois pedaços do souto”, vendeu-os a Domingos José da Costa, do Campo da Feira, por quarenta mil réis no dia 24 de Maio de 1767. 

Temos notícia também que em 22 de Maio de 1766 o Padre Manuel Nunes Araújo Teixeira, da família fidalga dos Araújos do Campo da Feira, comprou por dezasseis mil réis a seu tio Manuel Nunes Coelho uma leira de souto e carvalheira no Louridal, que lhe havia sido aformalada nas partilhas da herança de sua mãe Maria Rodrigues: “e mais o seu pedaço de carvalheira no Coto das heras do Louridal, arrabaldes desta villa” (ESTEVES, 1989) 

Neste lugar do Louridal, existiu também, em tempos recuados, “...um posto da Guarda Fiscal e uma barca de travessia  muito procurada pelos povos de Alveos, Cecliños e imediações, principalmente nos dias 9 e 24 de cada mês, dias em que se realizavam as feiras quinzenais em Melgaço.” (Voz de Melgaço, edição de 15 de Janeiro de 1962) 

Sabemos que a fixação de população no Louridal é antiga, e temos provas documentais que, desde o século XVII, o povoamento deste lugar é mais ou menos continuado. 

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