Solar e Quinta do Reguengo (Paderne - Melgaço)
(Foto: SIPA)
(Foto: SIPA)
O nome "Reguengo" deriva do facto de outrora esta quinta e solar terem pertencido ao rei. A história desta quinta vem de longe e há muitos séculos que
ali se produzem os mais variados produtos agrícolas, entre os quais o vinho.
Tendo sido propriedade de vários senhores feudais, era ali que os habitantes de
Melgaço pagavam a dízima de tudo o que produziam. Daí a dimensão dos lagares e
dos canastros existentes na Quinta, bem acima do necessário para guardar e
transformar o que a Quinta produzia.
O solar da Quinta foi mandado construir pela
Rainha D. Leonor, no Séc. XVI tendo desde então estado na posse de diversos
proprietários. O solar encontra-se localizado nos terrenos onde existiu em tempos a ‘Quinta da
Várzea’, que pertenceu aos Castros, alcaides-mores de Melgaço e Castro
Laboreiro. Estas autoridades exerceram um domínio despótico sobre os seus
súbditos. Entre eles destacou-se Pero de Castro a quem o rei D. Manuel I retirou
poder quando concedeu a Melgaço o Foral Novo de 3 de Novembro de 1513 pelo qual
a Quinta da Várzea é considerada reguenga ou seja do património régio. “E na
freguysia da Varzea tem ora o dito Pero de Castro a qyntãa da Varzea que he
reguenga. E asy as vinhas e herdades della que soyam seer dous casaes
reguengos. E quando se der a lavradores fiquara obrigada ao direito de reguengo
e dar se a a prazaer das partes por aquyllo que se concertarem sem ficar a dita
quintãa posta em outra obrigaçam da paga do reguengo por seer fora dos
reguengueeyros della”.
“Em 24 de Março de 1606, Inácio de Araújo, regressado da Índia, celebrou em
Lisboa um contrato de compra da Quinta do Reguengo, parte de terras livres e
parte constituída em morgado. Comprou-a na sua totalidade estando ela
já aforada a Fernando de Castro e esposa D. Ana de Meneses, mordomos de D.
Catarina, mulher de D. João VI, Duque de Bragança. Uma parte da propriedade
pertencia ao filho Jerónimo de Castro o qual levou a tribunal a questão da
propriedade. Inácio de Araújo acabou por legar a Quinta à Santa Casa da
Misericórdia encarregando esta de continuar a questão contra Jerónimo de
Castro. Porém, acabaram por perder a questão. Jerónimo de Castro recebeu uma
indemnização de quatro mil reis. Mas a casa ficou no acervo dos bens da Santa
Casa da Misericórdia, que a foi trabalhando pelos seus caseiros e a vendeu em
1675 ao capitão Agostinho Soares de Castro por 520$000r reis”.
O solar encontra-se inserido em meio rural, e enquadrado
por grandes vinhedos e precedido de portal com vãos abertos, estando o central
ladeado de jambas pilastradas sobre as quais assentam dois leões esculpidos.
É construído em cantaria de granito rebocada e pintada a
branco, excepto cunhais, cornijas, molduras e ornamentos, sacadas, galeria e
escadaria que apresentam pedra ‘à vista’.
Planta em U composta por corpos rectangulares com a mesma
cércea, correspondente a dois pisos, abre-se para sul e constitui o centro da
quinta onde predomina o cultivo do vinho alvarinho. Perpendicularmente, a meio
da fachada interior do corpo central, ergue-se a ampla escadaria, de parapeitos
fechados, que conduz ao segundo piso onde se abre uma galeria assente em
colunata toscana.
Coberturas diferenciadas com telhados de três e quatro
águas de abas pouco pronunciadas e cunhais pilastrados terminados por urnas com
fogaréus.
Os corpos laterais são fenestrados, nas fachadas
exteriores do U, por janela de sacada e janelete e por janelas de guilhotina e
portas de serviço nas outras faces. Uma sineira vazia coroa a cornija do corpo
da capela situado a nascente. Encimando os cunhais frontais de ambos os corpos
inserem-se duas pedras de armas sendo a do lado esquerdo representativa de
Soares (de Tangil), Castro, Barbosa e Rodrigues enquanto que a do lado direito,
dividido em seis quartéis, se pode ler como Abreu, Azevedo, Sá, Vasconcelos,
Sotto-Mayor e Araújo.
A quinta possui uma capela situada no interior do solar
(corpo do lado nascente). Apresenta um retábulo de desenho maneirista,
subdividido em três nichos delimitados por quatro colunas coríntias, rematado
por frontão interrompido alojando ao centro tábua pintada representando S.
Roque. A decoração entalhada é exuberante em enrolamentos, ornatos
vegetalistas, predominando o tema da folha do acanto, bustos de anjos alados,
etc. O revestimento foi feito por douramento e pinturas polícromas havendo
ainda as de imitação marmórea.
Nesta quinta encontramos ainda a Fonte da Casa do
Reguengo. Localizada entre o solar e outras construções secundárias, a
nascente, apresenta espaldar marginado por pilastras que sustentam cornija em
cortina ladeada de urnas e tendo ao centro, sobre uma peanha, a escultura de um
canídeo. Dentro de nicho com arco de volta inteira aloja-se uma carranca de
onde irrompe a bica jorrando água para uma bacia circular de onde é conduzida
por caneiro a um tanque rectangular.
Esta fonte é ainda decorada com vários motivos esculpidos
sendo de destacar a concha estilizada sobre a carranca e os ornatos florais. A
sua autoria está atribuída a Manuel José Gomes (conhecido como Mestre do
Regueiro por ter sido morador neste lugar da freguesia de S. Paio), que a
executou em 1875 conforme data inscrita em cartela sobre o nicho.
Atualmente, o solar constitui-se como um agradável hotel rural.
Extraído de:
- ACER (Antero Leite e Susana Ferraz, 2007);
- Reguengo de Melgaço, Outubro 2005. Disponível em <http://www.hoteldoreguengo.pt>;
- Reguengo de Melgaço, Julho de 2014. Disponível em <http://www.reguengodemelgaco.pt>;
- VAZ, Júlio - P.e Júlio Vaz apresenta Mário, Edição do Autor, Melgaço, 1996.
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