Não
se tem conhecimento, nos registos da RODA de Melgaço, na época em causa, de nenhuma
exposição que tivesse sido efectuada em locais completamente isolados ou de
fraca acessibilidade. A terem acontecido, estes casos não deixariam de
configurar um cenário de infanticídio. Poderia ser esse o caso de quem expôs
uma menina na freguesia de Cristóval, concelho de Melgaço, no dia 26 de Agosto
de 1862, tendo-a deixado debaixo de uma figueira, sobre um roço de silvas, a qual
foi achada na madrugada desse dia, «quasi expirando por estar chovendo e sem
agasalho». Esta menina estava «embrulhada em dois panos velhos de
algodão que são inúteis e sem préstimo», assim como por um pequeno enxoval,
constituído por uma camisa d’elefante e uma outra com as mangas sem pregar. Todavia,
o facto de estar acompanhada por um pequeno enxoval, como vinha descrito no seu
registo, afasta a hipótese de se tratar de uma forma de infanticídio deliberado,
antes de uma negligência grosseira de quem se encarregou de a expor. Estes crimes
seriam passíveis de punição, se fossem conhecidos e identificados os seus autores.
Este
tipo de situações não passaram de casos isolados, como actos negligentes que
terão sido gerados em contextos de extrema miséria ou em consequência de
situações de desespero, estados de loucura ou irresponsabilidade dos
condutores. Contudo, estes actos não terão passado despercebidos a uma
sociedade atenta, sempre pronta a agir em favor dos mais carenciados. Essa
intervenção poderia acontecer no momento do parto, ajudando as parturientes e
expondo as crianças nas Rodas/Hospícios ou em locais onde pudessem ser
recolhidas e tratadas.
Informações recolhidas em:
- PONTE, Teodoro Afonso (2004) - No limiar da honra e da pobreza - A infância desvalida e abandonada no Alto Minho (1698 - 1924). Tese de doutoramento; Universidade do Minho, Braga.
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