A freguesia de S. Paio é uma das mais antigas do concelho de
Melgaço. Existem referências a um antiquíssimo mosteiro que
aparece documentado até ao século XII e designado como de “S.
Pelagii de Paterni”, ainda que existam algumas dúvidas
acerca da sua existência, segundo alguns autores. A paróquia, nos
séculos seguintes, conserva-se com a denominação de “S. Payo de
Paderne” até ao século XIX, embora apareça desde o século
XVIII, por vezes, como “S. Paio de Melgaço” e as duas
designações coexistam durante algum tempo. Apenas, a partir de 1936
é que oficialmente passa a ter a atual designação de “S. Paio”.
A
igreja paroquial é dedicada ao mártir S. Paio, também conhecido
como Pelayo de Córdova, sobrinho do Bispo de Tui, tomado como refém
por um rei mouro, e degolado no ano de 825, em Córdova. A dita
igreja paroquial situa-se no lugar, atualmente designado, de
Cruzeiro. Contudo, nas Memórias Paroquiais de 1758, o Reverendo
Domingos Gomes, pároco à época, refere que entre os lugares que
compõem a freguesia se encontra “S. Payo em cujo lugar está
situada a igreja com seis vizinhos”. A designação de
“vizinhos” neste contexto não se refere ao número de residentes
no lugar mas antes ao número de fogos (casas de habitação).
A denominação de Cruzeiro é utilizada pela primeira vez numa assento de batismo em 1798, sendo que antes o lugar era chamado de S. Paio, conforme se comprova na citação. É curioso o lugar se chamar Cruzeiro, derivado da presença de um cruzeiro quinhentista que apresenta a data de construção esculpida na pedra, vários séculos mais recente do que a igreja paroquial. A mudança de nome poderá ter a ver com o crescimento do lugar no setor junto ao cruzeiro e ao longo do antigo caminho que ligava este lugar a Montrigo e aos Lourenços. Julgo que esse crescimento apenas se começa em finais do século XVIII. Até aqui, perto da igreja, apenas existiriam não mais do que seis casas e algo dispersas nas proximidades da mesma. Os lugares mais extensos da freguesia seriam os dos Lourenços, Regueiro, Cavaleiro Alvo e Sante, sendo este último meeiro com Paderne.
A denominação de Cruzeiro é utilizada pela primeira vez numa assento de batismo em 1798, sendo que antes o lugar era chamado de S. Paio, conforme se comprova na citação. É curioso o lugar se chamar Cruzeiro, derivado da presença de um cruzeiro quinhentista que apresenta a data de construção esculpida na pedra, vários séculos mais recente do que a igreja paroquial. A mudança de nome poderá ter a ver com o crescimento do lugar no setor junto ao cruzeiro e ao longo do antigo caminho que ligava este lugar a Montrigo e aos Lourenços. Julgo que esse crescimento apenas se começa em finais do século XVIII. Até aqui, perto da igreja, apenas existiriam não mais do que seis casas e algo dispersas nas proximidades da mesma. Os lugares mais extensos da freguesia seriam os dos Lourenços, Regueiro, Cavaleiro Alvo e Sante, sendo este último meeiro com Paderne.
Em
1758, o pároco de S. Paio dá-nos a lista de lugares que na época
existiam nesta paróquia designada de “S. Paio de Melgaço”. O
padre Domingos Gomes refere que a freguesia tem trinta e três
lugares. “Seus nomes são os seguintes: Cavaleiro Alvo, Fonte
Gonçalo, terra de montanha, Amial, Quangostas, Raza, Requeixo, Sto.
André, Cavencas, Paço, Ponte. Nogueiral, Veiga, Outeiro, Costa,
Carpinteira, Granja de Cima, Granja de Baixo, Carreira, Rial, Alote,
Gaya, Barral, Soutulho, Baratas, S. Payo (…), Rigueiro, Barreiros,
Carvalha Furada, Lagendo, Lourenços e Sante, meeiro com a freguesia
de Paderne em qual entra a Verdelha (…) estes dois são da
alternativa de S. Payo ou Paderne e neste presente ano de 1758 até
ao S. João são da alternativa de Paderne”. Em relação aos
lugares meeiros Sante e Verdelha, o padre Domingos utiliza uma
linguagem algo confusa, querendo ele dizer que os lugares até ao S.
João pertenciam a uma das freguesias e depois do S. João até ao
fim do ano pertenciam à outra freguesia.
Conforme
se pode constatar, a generalidade dos lugares que conhecemos na
atualidade já existiam na época ainda que alguns apareçam escritos
de uma forma algo diferente da atual. Apenas, salientar que o atual lugar do
Granja é citado como dois, e não um lugar, com as designações
de “Granja de Cima e Granja de Baixo”. Por outro lado,
reparamos na existência de um lugar designado de Fonte Gonçalo que,
juntamente com Cavaleiro Alvo, é descrito como as "terras de
montanha" da freguesia. O mesmo lugar é mencionado até ao
primeiro quarto do século XIX e depois aparentemente desaparece dos
documentos. Tanto quanto me parece, este pequeno lugar parecia
situar-se nas proximidades de Cavaleiro Alvo e/ou Lobiô mas carece
de uma localização mais exata. Por último, saliente-se o facto de
o lugar do Pombal, entre outros, não ser referido ainda em meados do século XVIII,
presumindo-se que não existisse já que referências a nascimentos
de crianças neste lugar só se verificam já no início do século
XIX.
O
padre Domingos Gomes refere-se também aos limites naturais da
freguesia na sua parte mais altaneira. Menciona que “esta freguesia de S. Payo confina com
a serra de Pumidelo, Outeiro Escuro, Gavianceiras, montes ásperos,
que tem de comprido huma légoa e de largo duas légoas e meya.
Principia esta serra na freguesia de Rouças, Fiães e
Lamas de Mouro e finda em Cubalhão e Paderne”.
No
manuscrito da Memórias Paroquiais desta freguesia, o pároco faz
referência aos dois principais cursos de água que correm em S.
Paio. O mais curioso é reparar nos nomes utilizados na época. Em
relação à chamada Corga de S. Paio que atravessa quase toda a
freguesia em direção a Prado, diz-se o seguinte: “tem
esta freguesia a Corga e Rio de Montirigo que principia no alto da
Gavianceira e se recolhe entre as freguesias de Prado e
Paderne”. Montirigo é a forma
antiga de designar o lugar de Montrigo, localidade desabitada desde há mais de 30 anos e
onde apenas existiu, em tempos, uma ou duas casa de habitação. Havia aí dois moinhos
de águas comunitários que não funcionam há pelos menos 35 anos.
O
pároco faz ainda alusão à
corga que é
o limite natural da S. Paio com a freguesia de Rouças, citada
atualmente como a Ribeira de S. Lourenço. Há quase três séculos,
a designação usada é completamente diferente. Atentemos neste extrato: “tem mais o Rio de
Cantes que são limites desta freguesia e Rouças. Este tem seu
princípio na serra de Pumidelo (…) o peixe desse são algumas
trutas e anguias...”.
No
total, a paróquia, contava, em 1758, segundo o pároco,
com “vizinhos (fogos) duzentos e quarenta e nove e número de
pessoas, setecentas e treze”. Se analisarmos os cadernos da
paróquia de S. Paio entre os anos de 1758 a 1765, chegamos à
conclusão que, por esta altura, nasciam à volta de 20 a 30 crianças
por ano, estando a população da freguesia em franco crescimento, em
face dos constantes saldos fisiológicos positivos. Em termos do
número de óbitos, nesta época, os números situavam-se entre os 10 e os 20 óbitos anualmente, conforme se pode conferir nas
tabelas.
Tomemos
como exemplo o ano de 1765, em que nasceram 29 crianças na
freguesia, registando-se apenas 10 óbitos, distribuindo-se os mesmos por diferentes lugares conforme as tabelas seguintes:
Tendo
em conta os dados apresentados, entre 1758 e 1765, em menos de uma
década, a população de S. Paio passou de 713, segundo informação do pároco da época, para um universo
populacional aproximado de 800 habitantes. Podemos conferir esses dados na tabela seguinte:
Um
outro pormenor que importa salientar é a prova da presença de
população escrava na freguesia na época. Normalmente, os escravos
eram propriedades de famílias nobres e em S. Paio tínhamos a
“Quinta da Gaya” e a “Quinta da Lotta” (Alote) como exemplos
de propriedade de famílias fidalgas locais. Assim, se atentarmos num
assento de óbito lavrado em Janeiro de 1765, podemos ler o seguinte:
“Francisco, preto, escravo de Manuel Joaquim António Pereira de
Castro da Quinta da Gaya desta freguesia de São Payo. Se faleceo
desta vida presente com todos os sacramentos e se lhe fez hum offício
de sete sacerdotes… aos dezasseis dias de Fevereiro de mil
setecentos e sassenta e sinco annos”.
Muito
provavelmente este escravo pertencente ao senhor da Quinta da Gaia
dedicar-se-ia a trabalhos agrícolas. Obviamente, a freguesia
vivia essencialmente da agricultura como a generalidade do país. O
pároco escreve em 1758 que, na época, em S. Paio de Melgaço se colhiam
“frutos, milhão, centeio, trigo e milho alvo em abundância”
bem como “vinho em abundância”.
Em
1758, o abade Domingos Gomes fala-nos ainda da igreja paroquial e das capelas existentes na freguesia. A igreja de S. Paio, tinha três
naves, uma com três arcos, e cinco altares: o do orago S. Paio, onde
estava o Santíssimo Sacramento; o da Senhora do Rosário; o da
Senhora do Carmo; o do Santo Cristo e o das Almas.
As
capelas que atualmente existem na paróquia, à exceção da do lugar
do Regueiro, já existiam pelo menos há cerca de 300 anos. Em meados
do século XVIII, existem referências à presença de quatro capelas
nesta freguesia: a de Santo André, a de Nossa Senhora do Amparo, a
de Nossa Senhora do Bom Despacho e a de S. Paio, no lugar de
Cavaleiro Alvo. Em relação a esta última, no livro “Diccionário
Geográfico” de 1751, o autor refere que já nessa época existia
no dito lugar “uma ermida com a invocação de S. Payo”.
Sabemos que em 1758, a administração desta capela pertencia ao povo
desse lugar.
Além
desta ermida, havia nesta freguesia de S. Paio, em meados do século
XVIII, a capela de Nossa Senhora do Bom Despacho, no lugar de Barata.
A mesma era administrada por um tal Manuel Fernandes, da freguesia de
Rouças. Sabe-se que em 1913, já existia no lugar de Barata uma
capela de invocação a S. Bento. Não sabemos se se trata da mesma
capela antes citada da Nossa Senhora do Bom Despacho ou uma outra.
Em
meados do século XVIII, já existia na freguesia de S. Paio, como se
disse antes, uma capela dedicada a Santo André. A mesma capela era
administrada pelo abade da paróquia, à época, o Reverendo Domingos
Gomes que era natural do lugar da Rasa.
Falta
fazer referência à capela de Nossa Senhora do Amparo, no lugar do
Barral. A mesma já existia em meados do século XVIII, sendo
referida nas Memórias Paroquiais de 1758. Na época era administrada
por Manuel Gonçalves, morador no lugar do Barral, juntamente com o
Doutor Miguel Gomes de Abreu, da freguesia de Paderne, Diogo Álvares,
residente no lugar do Granjão (Paderne) e Domingos Álvares, morador
no Barral.
Apesar da escassez de fontes de estudo, ficamos com um retrato possível da freguesia de S. Paio numa época em que, segundo o seu pároco, atravessava uma época relativamente próspera que talvez ajude a explicar o franco crescimento populacional. Neste sentido, o pároco escreve, em 1758, "nesta freguesia se colhe vinho com abundância e em toda ella, excepto os dous lugares que estão no monte, Cavaleiro Alvo e Fonte Gonçalo, dá abundante pam para seu sustento de frutas peras e maçãs, alguns pêssegos e ortaliças e alfaceas, tudo isto se dá nesta freguesia e algumas castanhas...".
Fontes
consultadas:
-
Arquivo Distrital de Viana do Castelo – Paróquia de S. Paio
(Melgaço) – Livro de Assentos de Batismos (1721-07-02/1768-07-04).
-
Arquivo Distrital de Viana do Castelo – Paróquia de S. Paio
(Melgaço) – Livro de Assentos de Óbitos (1727-07-01/1803-06-08).
-
Arquivo Nacional da Torre do Tombo - “Memórias paroquiais da
freguesia de S. Paio (Melgaço)”, in Dicionário Geográfico de
Portugal, volume 27, nº 25, p. 149 a 152.
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