Capela da Senhora da Orada |
Um livro publicado há
cerca de 300 anos fala-nos dos milagres da Senhora da Orada num tempo em que à
sua capela em Melgaço acorriam muitos peregrinos para a sua romaria. Ora leia: “Um
tiro de mosquete pouco mais ou menos de distância da Praça de Melgaço se vê
situado o Santuário e Casa de Nossa Senhora da Orada. Foi edificada sobre o
mais alto de um monte eminente ao rio Minho que lhe fica da parte do norte, em
igual distância do arrabalde da dita praça e vila de Melgaço de onde vem uma
estrada pública que vai para o Reino de Galiza e Castela que passa junto ao
átrio da capela. E desta até à vila se vê a estrada povoada e pomares, que tudo
suaviza e recreia muito a vista a todos os que passam e também aos devotos da Senhora
da Orada quando a vão buscar e venerar, tudo isto é um passeio.
É este templo de
excelente estrutura, porque é fabricado de boa cantaria e é da jurisdição e
administração dos Monges de Santa Maria de Fiães. Porque dele lhe fez doação
El-Rei D. Sancho I deste reino, como coisa sua, pelo ter herdado de seu pai, o
rei D. Afonso Henriques, que foi o que o reedificou depois da restauração de
Espanha. De onde se colhe, que houve um templo mais antigo do que este, pois
este foi reedificado sem dúvida ou porque o primeiro ameaçava ruína, ou estava
já arruinado. Tudo isto consta de uma escritura de doação feita pelo referido
rei D. Sancho em Santarém aos 3 dos idos de Setembro do anos de 1207 que
assinou o mesmo rei com todos os seus filhos e prelados do reino que ali se
achavam como era costume naqueles tempos. Esta escritura está no Livro das Datas
do mesmo Mosteiro de Fiães o qual se conserva no cartório do referido mosteiro
e assim se verifica ser este templo da Senhora da Orada antiquíssimo, como
também o título da Senhora. Também daqui se colhe a particular devoção dos reis,
fundadores deste reino. Como foi informado o padre António Carvalho da Costa,
em dizer que este templo da Senhora da Orada era da Condessa Fronilla. A Quinta
de Cavaleiros podia ser sua e fazer dela doação ao Convento de Fiães no ano de
1166 mas a Casa da Senhora da Orada não. !
A imagem da Senhora
antiga com o decurso dos anos se desfez e a que existe é muito devota. É de
perfeitíssima escultura, tem ao Menino Deus sobre o braço esquerdo e tem cinco
palmos de estatura. É de madeira com as roupas estofadas de ouro. É muito
milagrosa e como tal é buscada e invocada da devoção dos fiéis, os quais por
sua intercessão, alcançam de seu Santíssimo Filho, o que justamente pretendem.
A este santuário, desde o dia da ascensão do Senhor até à festa do Espírito
Santo, vão em romaria as mães das freguesias da vila de Monção e do seu termo,
a oferecer o resíduo do Círio Pascal e vai acompanhar a procissão ao menos uma
pessoa de cada paróquia, com os seus párocos e isto por voto que antigamente
fizeram em tempo de uma grande peste, de que ficou preservada a mesma vila e as
freguesias do seu termo, as quais fizeram o referido voto e também muitas
freguesias do termo de Valadares e todas as do termo de Melgaço. As gentes vão
em procissão à Senhora da Orada e no mesmo tempo, umas por devoção e muitas por
voto, com clamores e procissão no mesmo santuário, para implorar da Senhora os
favores do Céu. E também em tempo que se necessita de sol, ou de chuva, vão
muitas freguesias em procissão com ladainhas a pedir à Senhora os seus favores.
O que com evidência experimentam, porque esta misericordiosa Senhora lhes
alcança logo os bons despachos de tudo o que pedem.
É tradição antiga, que
por favor e intercessão desta milagrosa Senhora se livraram muitos cativos, que
estavam em prisões em terras de Mouros e que milagrosamente ou por ministério
dos Anjos, apareceram às portas do templo da Senhora da Orada com os grilhões e
correntes com que estavam presos. Os quais invocando o favor da Senhora da
Orada, ela compadecida do seu trabalho e os aliviava e trazia à sua Casa.
Infinitos são os milagres que obra e tem obrado a Senhora, e o querer fazer
deles relação, não haveria papel que os comprendesse.
O autor da Corografia, o
Padre Carvalho, também confirma a grande devoção de todos aqueles povos para
com esta Senhora mas queixa-se de que a devoção daqueles Monges de Fiães já
hoje estava muito tíbia, tendo antigamente muito fervorosa e que esta indevoção
se ia já pegando muito. Porque não só já hoje a gente é menos, mas a Casa da
Senhora se via menos asseada e que temia que viesse a padecer ruína. Porque
como os arcebispos primazes não se podem ali intrometer, também os não podem obrigar
a que reparem a Casa da Senhora da Orada para que se não arruine de todo e
extinga totalmente aquela grande e antiga devoção que todos aqueles povos
tinham com aquela milagrosa e prodigiosa imagem da Senhora da Orada. Nem eu
posso crer de religiosos tão solícitos da sua religião tenham tão grande
descuido em uma matéria que merece tanto cuidado e atenção."
Extraído de: SANTA
MARIA, Frei Agostinho de (1712) – Santuário Mariano e História das imagens
milagrosas de Nossa Senhora. Tomo IV; Oficinas de António Pedrozo Galram;
Lisboa.
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