Castro Laboreiro: a pegureira, o rebanho e o cão (Foto de Ramon Blanco) |
“Castro Laboreiro, 1984 -
Oração aos cães
Cheguei a Castro Laboreiro morto de frio. E assim fiquei
durante os 8 dias que durou aquele trabalho. O frio, de rachar, contrariou-se
com aguardente. De hora a hora, lá ia um copinho… aquilo a que hoje
chamaríamos “shot”. Bebi muitos, como é bom de ver. Em Dezembro, lá no alto da
montanha, repito, o frio é de morrer…
A aldeia fascinou-me. Pedregosa, mergulhada em neve, gelo e nevoeiro. Era um ambiente em tons de cinzento. Só tinha mulheres, baixinhas, sempre vestidas de negro, saíam à rua com um manto que lhes envolvia a cabeça e protegia o corpo do frio. Não havia mulher que não trouxesse um cão à ilharga. O cão de Castro Laboreiro é um bicho grande, escuro, de olhos amarelos. Mete medo. Talvez por isso as mulheres não dispensavam a companhia do seu, naqueles dias em que a aldeia foi invadida por um grupo de estranhos, que filmavam e fotografavam sem sentido aparente.
Pois, o que me levou até lá foram, precisamente, aqueles cães. Fiz uma reportagem sobre cães de raça portuguesa e o cão de Castro Laboreiro é um dos mais emblemáticos. É uma raça muito antiga, morfologicamente próxima do lobo. Os olhos amarelos e os dedos das patas virados para a frente não enganam… contudo, revela-se um animal meigo, pelo menos para os donos. As gentes de Castro Laboreiro usam o cão para guardar o gado. No Inverno, o cão encarrega-se disso sem necessidade de companhia humana. O rebanho de cabras fica-lhe entregue. Penso que será o único cão de guarda que faz este trabalho assim, sem ajuda do homem.
Na aldeia, durante a semana, só havia mulheres. Os homens trabalhavam longe e, quanto muito, iam a casa ao fim-de-semana. Mas a maioria nem isso. Muitos andavam pela França. O único homem que ficava era o padre Aníbal. Este padre tinha um forte sentido de protecção em relação à sua aldeia e à paróquia. Era um amante da arqueologia local. Não se cansou de nos levar a ver as pontes romanas, o castelo do século XII, os dólmenes, as pinturas rupestres. De facto, Castro Laboreiro é um sítio fascinante. Mas defendia, acima de tudo, a arqueologia viva que é o cão de Castro Laboreiro. Cheguei a ver o padre a apedrejar cães vadios, abandonados pelos caçadores, que se refugiavam na aldeia durante o Inverno à procura de calor e comida. O problema desses cães é que montavam as cadelas de Castro Laboreiro e, assim, abastardavam a raça. Por esse pecado, eram apedrejados impiedosamente…”
A aldeia fascinou-me. Pedregosa, mergulhada em neve, gelo e nevoeiro. Era um ambiente em tons de cinzento. Só tinha mulheres, baixinhas, sempre vestidas de negro, saíam à rua com um manto que lhes envolvia a cabeça e protegia o corpo do frio. Não havia mulher que não trouxesse um cão à ilharga. O cão de Castro Laboreiro é um bicho grande, escuro, de olhos amarelos. Mete medo. Talvez por isso as mulheres não dispensavam a companhia do seu, naqueles dias em que a aldeia foi invadida por um grupo de estranhos, que filmavam e fotografavam sem sentido aparente.
Pois, o que me levou até lá foram, precisamente, aqueles cães. Fiz uma reportagem sobre cães de raça portuguesa e o cão de Castro Laboreiro é um dos mais emblemáticos. É uma raça muito antiga, morfologicamente próxima do lobo. Os olhos amarelos e os dedos das patas virados para a frente não enganam… contudo, revela-se um animal meigo, pelo menos para os donos. As gentes de Castro Laboreiro usam o cão para guardar o gado. No Inverno, o cão encarrega-se disso sem necessidade de companhia humana. O rebanho de cabras fica-lhe entregue. Penso que será o único cão de guarda que faz este trabalho assim, sem ajuda do homem.
Na aldeia, durante a semana, só havia mulheres. Os homens trabalhavam longe e, quanto muito, iam a casa ao fim-de-semana. Mas a maioria nem isso. Muitos andavam pela França. O único homem que ficava era o padre Aníbal. Este padre tinha um forte sentido de protecção em relação à sua aldeia e à paróquia. Era um amante da arqueologia local. Não se cansou de nos levar a ver as pontes romanas, o castelo do século XII, os dólmenes, as pinturas rupestres. De facto, Castro Laboreiro é um sítio fascinante. Mas defendia, acima de tudo, a arqueologia viva que é o cão de Castro Laboreiro. Cheguei a ver o padre a apedrejar cães vadios, abandonados pelos caçadores, que se refugiavam na aldeia durante o Inverno à procura de calor e comida. O problema desses cães é que montavam as cadelas de Castro Laboreiro e, assim, abastardavam a raça. Por esse pecado, eram apedrejados impiedosamente…”
Extraído de: http://blogda-se.blogspot.pt/2006/01/castro-laboreiro-1984-orao-aos-ces.html
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