sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A Guerra da Restauração nas fronteiras de Melgaço (Parte III)

Vista para a vila de Castro Laboreiro (Melgaço)
Nas fronteiras de Melgaço, as operações militares durante a Guerra da Restauração, fazem-se sobretudo na raia seca. O Minho constituía um importante obstáculo natural que dificultava quaisquer tipo de incursões quer para os portugueses, do lado de Melgaço, quer para os galegos, em território estrangeiro. No vale do rio Trancoso e em Castro Laboreiro foram muitas as aldeias saqueadas e incendiadas na sequência das incursões dos combatentes espanhóis. No texto de hoje, descreve-se como, durante este conflito, em 1644, os portugueses foram incendiar várias aldeias em Crespos (Padrenda - Galiza), vingando alguns ataques sofridos por parte dos espanhóis. Em resposta, estes atacam o castelo de Castro Laboreiro mas não conseguiram conquistá-lo... Todos estes relatos os encontrámos num texto da época. Ora leia: “Desejando o Conde (de Castelo Melhor) satisfazer-se deste intento do inimigo, determinou queimar-lhe o lugar de Crespos, onde ele costumava ter gente para socorrer aos mais vizinhos e encarregou disto o capitão António de Abreu para que com quinhentos infantes o fosse executar. Ajuntou-se a esta gente, vinda de outras praças de Melgaço, e como forçosamente teve de caminhar pela ribeira do Minho, o inimigo descobre-os, e apercebe-se das movimentações. Mas não obstante isto, a vinte e seis de Abril, à noite António de Abreu de Melgaço avança para terras galegas, e quando amanheceu sobre Crespos, queimou este lugar com outros sete lugares perto deste. Acudiu o inimigo com dois mil homens em boa ordem. Chegam a defrontar-se com os nossos, mas  estes puderam retirar-se com perdas de gente. E dando depois António de Abreu uma volta pela Galiza, queimou o lugar do Condado e outros seis lugares e se recolheu sem mais perdas que a de um soldado e um tambor mortos com mais cinco feridos. Ao primeiro de Maio, entrou o inimigo por nossas terras, por onde chamam a Raia Seca com cinco mil infantes e trezentos cavalos e acometeu contra o pequeno castelo de Castro Laboreiro, mas Pero de Faria, cabo de vinte e cinco soldados, que ali o assistem com alguns moradores, o rechaçou com tanto valor que o obrigou a retirar-se deixando muitos mortos e levando muitos feridos. Enfim, podendo conseguir o intento, o que viera com a mágoa da sua perda, queimou algumas palhotas dos lavradores daquele concelho, que estes são os troféus que se pode ganhar nestas entradas. Às novas destes acontecimentos, acudiram de Melgaço, o Capitão Mor D. João de Sousa e o Capitão António de Abreu que chagaram quando o inimigo ia já de retirada e o obrigaram a fazer com a maior pressa.”

Para ler “A Guerra da Restauração nas fronteiras de Melgaço (Parte II) CLIQUE AQUI


Para ler “A Guerra da Restauração nas fronteiras de Melgaço (Parte I) CLIQUE AQUI




Extrato retirado de: FIGUEROA, Diogo Ferreira (1644) – Relaçam dos Gloriosos Successos de Portugal, devidas as Armas del Rey D. Joam IV, contra os castelhanos. In: Nova Grammatica Portugueza. Impresso na officina de M. C. Bock, Hamburgo, 1785.

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