domingo, 3 de abril de 2022

Os benefícios das Águas de Melgaço num estudo científico de 1937

 



Há mais de 80 anos foi realizado um dos principais estudos científicos sobre os benefícios das Águas de Melgaço. O mesmo foi realizado em 1937 pelo Dr. Eduardo Costa, e intitulava-se "A acção das águas de Melgaço sobre as curvas de glicémia, nos diabéticos". Na época, já se conheciam os excelentes resultados destas águas sobre as maleitas do sistema digestivo e em particular sobre a diabetes, sendo a única em Portugal com tais propriedades.

No dito estudo podemos ler: "A respeito das águas de Melgaço, existe apenas o folheto publicado, em 1915, pelo Dr. António Duro, antigo director clínico da estância, que pouco adianta sobre o seu valor na terapêutica da diabetes. Encarregados, desde há anos, da direcção do Laboratório da Estância de Melgaço, temos tido ensejo de colher elementos comprovativos da benéfica influência destas águas, em estados diabéticos, e procurámos iniciar algumas pesquisas, tendentes a esclarecer, quanto possível, os seus efeitos nas funções de nutrição. Estas pesquisas foral realizadas de acordo, tanto com a Direcção Clínica como com a da Sociedade concessionária, que nos deram todas as facilidades para atingir o fim visado. A complexidade do problema não nos tem permitido chegar rapidamente a conclusões definitivas e, por isso; resolvemos ir publicando os elementos que formos coIhendo, na certeza de que a sua divulgação é de vantagem para todos. (…) 


Composição química das águas de Melgaço  

-Indicações terapêuticas e seus efeitos revelados por curvas de glicémia experimentai. Método de Hagedorn-Jensen 

 

Neste primeiro artigo, apenas nos ocupamos dos efeitos sobre a glicémia, por observações colhidas na época de 1935. 

Mas antes de entrar na exposição do nosso trabalho, damos as conclusões a que chegou o Prof. Charles Lepierre, na última análise feita a estas águas, em 1932.  

«As águas presentemente exploradas pela Empresa (Nascente Principal e Fonte Nova) pertencem ao mesmo tipo hidromineral. São águas frias, mesosalinas, bicabornatadas, cálcicas e mixtas (sódica, magnésica, Iitínica, férrea, manganésica).  

São gaso-carbónicas fortes, saturadas de anidrido carbónico, o que contribui epara a estabilidade destas águas. Contêm muitos elementos raros. 

São policremáticas. São as mais ricas das águas bicabornatadas cálcicas portuguesas. São radioactivas, sendo a radioctividade não só devida à emanação (Radão), de duração passageira, como aos sais radíferos de duração a bem dizer perene e por isso de efeitos permanentes.  

Ambas as águas são bacteriologicamente puríssimas. Em Portugal não há águas que correspondam ao tipo hidro-mineral de Melgaço. Presentemente, as águas de Melgaço são mais mineralizadas, mais bicarbornatadas, do que quando analisadas em 1907. Das duas águas exploradas, Nascente Principal e Fonte Nova, a segunda, a inda que precisamente do mesmo tipo, é mais mineralizada do que a água da Nascente Principal.  

Pela análise química, infere-se que estas águas, como as suas congéneres francesas (Pougues e outras) encontrem indicações sobretudo em doenças do aparelho digestivo (dispepsias, gastrites, fermentações intestinais, etc.) e afecções hepáticas. De facto, assim é, mas a verdade é que apenas 25% dos doentes que se tratam em Melgaço sofrem destas doenças; os 75% restantes são todos diabéticos.  

Como explicar tal simpatia, tal «tropismo» da parte dos doentes diabéticos, quando nada há escrito a respeito do valor destas águas no tratamento da diabetes? A justificação é-nos dado pelos próprios doentes que citam benefícios colhidos por amigos, conhecidos ou pessoas de família que fizeram uso das águas de Melgaço. É frequente, com efeito, ouvi-los relatar casos de doentes em que, não obstante a ingestão de maior quantidade de alimentos e mesmo de hidratos de carbono, não só o açúcar urinário não aumentou como diminuiu e chegou mesmos a desaparecer, sentindo-se em geral mais bem-dispostos, com mais forças e dormindo melhor. Não se deduza, todavia, que os diabéticos aquistas se alimentam sempre ad libitum, pois que a actual Direcção Clínica, em colaboração com os hoteleiros locais, prescreve dietas adequadas a cada caso. Porém, nas observações que 

adiante se apresentam, os doentes continuaram a seguir a dieta que lhes havia sido prescrita pelo seu médico assistente antes do tratamento hidro-mineral, para desta maneira melhor podermos avaliar da acção das águas. A comprovar a influência inegável que estas águas exercem sobre a evolução da diabetes está também o facto do agravamento da doença sempre que, por qualquer motivo, os doentes deixem de frequentar a estância hidrológica na época própria.  

Bem sabemos que, para a melhoria observada, outros factores podem concorrer, como sejam a mudança de clima, o bom ar, a altitude, o repouso, as distracções, etc. Contudo, não é menos verdade que os diabéticos da localidade beneficiam da mesma forma, como se pode ver por algumas das observações adiante descritas.  

Os doentes estudados foram escolhidos quási ao acaso; apenas procuramos de preferência utilizar alguns cujo grau de inteligência e de cultura fossem de molde a compreenderem o que se pretendia fazer. Deu-se a todos a indicação de que não deviam alterar o regime alimentar entre a primeira e segunda experiência, para desta forma se verificar a acção que, sobre o seu organismo, poderia exercer o tratamento hidra-mineral.”... 


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