S. Gregório (Cristoval - Melgaço)
(Foto em
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Resoluto, D. Gastão a atacar o forte de Padrenda, e os redutos
sem artifício nem dissimulação, convocou a gente de toda a província. Confiava
a que se havia alistado para ser paga, uns quatro mil homens. Porém na disciplina,
não havia diferença alguma porque ainda que algumas companhias estavam
formadas, não se tinham dividido em terços e todo o corpo junto não era mais
que um tumulto de gente valorosa. A maior parte da infantaria paga foi entregue
por D. Gastão à ordem de Lopo Pereira de Lima, cavaleiro da Ordem de Malta a
que assistia seu irmão Diogo de Melo da mesma Religião e Capitão Mor de
Barcelos, alojados ambos em Lamas de Mouro, lugar vizinho ao Porto dos
Cavaleiros. Com esta notícia, apressou o inimigo o trabalho e em quatro dias
reduziu a obra de defesa. D. Gastão, com outro troço, ficou alojado na Ponte
das Várzeas (Cristóval) e para que o inimigo divertisse o poder que tinha
junto, mandou entrar na Galiza pela Portela do Homem a Vasco de Azevedo
Coutinho e por Lindoso a Manuel de Sousa de Abreu, ordenando-lhes, que segunda
feira, nove de Setembro, entrassem na Galiza. No mesmo dia ao amanhecer, dividiu
D. Gastão a infantaria em três troços e levantando uma plataforma, fez jogar as
duas peças de artilharia que levava, contra o reduto da Ponte da Várzeas (junto
a Ponte Barxas) e foram de grande efeito, recebendo o inimigo considerável
dano. Os três troços, que governavam Lourenço de Morim, Sargento Mor de Caminha
e os Capitães Gaspar Casado Manuel e Martim Coelho Vieira, com grande valor e
pouca ordem, superando o embargo de algumas estacadas, avançaram três redutos,
e entraram ao mesmo tempo, degolando os soldados que os guarneciam. Ficando
aberto o caminho para Monte Redondo, que os galegos haviam reparado, se retiraram
os que fugiram para este lugar que ficava vizinho. Depois de arruinados os
redutos galegos, os portugueses investiram contra as trincheiras de Monte
Redondo, e desemparando o inimigo, entraram no lugar e saquearam-no uma segunda
vez. O mesmo fizeram a algumas aldeias que ficavam pouco distantes. Os galegos acudiram àquela parte com três mil infantes e 400 cavalos e achando a gente
carregada de despojos, avançaram com resolução e os soldados da ordenança, não
querendo pôr em contingência o que haviam roubado, voltaram as costas, não
valendo a D. Gastão as grandes diligências que fez para os deter na Ponte das
Várzeas. Os oficiais e 500 soldados que ficaram, fizeram rosto ao inimigo e
valendo-lhe a aspereza do sítio, se vieram retirando pelas veredas mais estreitas,
e deixando 15 soldados mortos e dez prisioneiros, conseguiram valorosamente
passar a Ponte das Várzeas sem maior dano. D. Gastão estimulado pela desordem e
do mau sucesso, unindo a esta gente alguma que havia detido, logo que
amanheceu, tornou a passar a ponte (junto a S. Gregório) e acabou de desfazer
todos os redutos e trincheiras o que se conseguiu com tanta diligência que
quando os galegos, que não esperavam segunda incursão e acudiram, já os redutos
estavam desfeitos. Sem receberem dano, se retiraram à sua vila os nosso
soldados. Diogo de Melo e Lopo Pereira, destinados contra os redutos do Porto
dos Cavaleiros, juntaram cinco mil infantes e foram alojar-se com eles à vista
deste lugar. Nesse dia, apareceu um velho de 70 anos, ao qual perguntando-lhe
para o que fora chamado, respondeu que para o ataque daquelas fortificações. O
Mestre de Campo António Solis, cabo daquele troço, tornou a remeter o velho
para os Maltezes com uma carta, em que dizia que aquele homem fora colhido, e
que constando da sua confissão, que era chamado para uma empresa tão galharda,
como a de investir contra aquelas fortificações, não queria que se mal lograsse
por falta de um soldado de tanta importância, e acrescentava a esta zombaria
outras palavras exorbitantes. Teve esta carta resposta com maiores aprobios e à
segunda feira executaram os Maltezes (Cavaleiros de Malta) a ordem de investir
contra o forte e outros redutos, que era o mesmo dia em que D. Gastão tinha
logrado o sucesso referido. Dividindo-se a infantaria em dois troços, dos quais
eram cabos os dois irmãos: ao que governava Lopo Pereira, dava apoio o seu
irmão António Pereira de Lima com 80 cavalos. Marchou este troço pela parte de
Alcobaça e atacou o forte e redutos do sítio da Costa. Diogo de Melo escolheu
para atacar o redutos e forte da serra, a empresa mais duvidosa, por ser um
sítio mais áspero, o forte maior, e os redutos melhor defendidos e ter o
inimigo formado da outra parte da serra, três mil infantes e 200 cavalos para
defender o assalto. Conhecendo Diogo de Melo o risco desta empresa se uniu a seus
irmãos e formou um corpo de mil infantes que entregou ao Sargento Mor Simão Pita
com ordem para que ataque os redutos que primeiro corriam por conta de Lopo
Pereira. Feita esta divisão com 4000 infantes e 80 cavalos, deu volta Diogo de
Melo ao lugar de Chão de Castro e lançando 500 mosqueteiros por cada um dos
lados da serra, com a mais gente ganhou a eminência por entre nuvens de balas e
valendo-se da coragem dos soldados, investiu num reduto que os galegos, sem
esperar o assalto, desempararam. Favorecidos da mosquetaria dos outros redutos,
se recolheram ao forte que estava no alto da serra. Com pouco mais trabalho
ganhou Diogo de Melo os outros redutos e seguindo a vitória chegou junto do
forte. A grande guarnição que estava nele, entrando-lhe o receio antes de
experimentar as feridas, largou o forte sem ter respeito aos oficiais que, ora
com rogos, ora com estocadas pretendia detê-la. Mas como ordinariamente nos
nossos conflitos em que se acham ânimos covardes, o receio excede ao perigo, se
deixaram os galegos matar pelos seus capitães, para não chegar às mãos dos
nossos soldados. Entraram eles no forte, de que resultaram muitas mortes. Os
Maltezes, tendo logrado a vitória e os galegos, que estavam formados,
desemparando o sítio que ocupavam, marcharam para formarem em sitio mais
distante. Diogo de Melo com muito acordo mandou tocar a recolher.”
Extraído
de: MENEZES, Luiz de (1751) – História de Portugal Restaurado. Tomo I; Oficcina
de Domingos Rodrigues; Lisboa.
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