Parada
do Monte é uma freguesia que pertence ao concelho de Melgaço há
pouco mais de 150 anos. Pertenceu ao antigo concelho de Valadares,
tendo estado anexada, juntamente com a Gave, a Riba de Mouro, de
Monção. Com a extinção deste concelho, por decreto de 24 de
Outubro de 1855, foi desmembrada desta última freguesia, passando a
fazer parte de Melgaço. No censo da população de 1864, figura sob
a designação de Parada. Segundo o entendimento do saudoso padre
Aníbal Rodrigues, o seu topónimo deverá indicar a existência de
uma antiga via romana e do sítio onde os viandantes, a pé ou a
cavalo, costumavam descansar depois de uma longa e difícil
caminhada.
Há
mais de 300 anos, mais concretamente em 1706, o Padre Carvalho
da Costa, no seu livro refere-se a Parada do Monte nos seguintes
termos: “S.
Mamede de Parada do Monte, Vigairaria da mesma apresentação, que
rende ao todo quarenta mil reis, e
para o
Commendador sessenta
e
seis
mil reis. Tem
cento e
cincoenta vizinhos.
Aqui se
faz o melhor burel
de lã das ovelhas Gallegas de todo o mais Reyno, donde he
muy procurado para cubertas
de camas de lavradores,
ou criados, e
ainda de muitos nobres para as meterem
entre os cobertores. He
muy branco, grosso
e
macio”.
O
Padre Carvalho da Costa refere-se ainda ao antigo Couto de Val de
Poldros, que atingia os limites territoriais da freguesia de Parada
do Monte: “Nestas
montanhas, em em
que há
muita caça e
veação, houve antigamente hum Couto, a q chamavam
Val de Poldros, o qual fez, marcou e
defendeu
Payo Rodrigues de Araujo, de que possui
parte
seu
sexto
neto Manoel de Araújo
de Caldas, Sargento-mor de Valladares, ainda
que atenuado em parte das grandes regalias que tinha”.
Em
meados do século XVIII, o pároco Francisco de Caldelas Bacelar de
Parada
do Monte refere,
nas Memórias Paroquiais de 1758, que
“os
frutos que os moradores recolhem em maior abundância é o milho
grosso, vulgarmente chamado milho maiz”.
Cultivava-se nas leiras que bordejavam as margens do Mouro e onde
também cresciam as latadas pois o vinho (12 cabaços) entrava na
composição da renda que a freguesia pagava ao pároco. Na serra
rodeavam-se as brandas de “centeio,
algum milho miúdo, e pouco linho e muita herva no Verão de que
fazem os labradores feno para darem de Inverno aos gados”.
Mais
afirma o pároco que “a
criação de gados que tem esta serra é no tempo do Verão trazerem
nella os labradores os seus bois de noutte
[noite]
e de dia dois outros mezes e as bacas e bezerros andam também na
serra de dia e à noutte vão procurá-los e recolhem-nos nos lugares
das brandas e o mesmo fazem ao gado miúdo de cabras e ovelhas”.
O
Pároco de parada do Monte, em 1758, também refere que o rio
Mouro tem
um
“curso arrebattado em toda a sua distância
desde o seu nascimento até botar fora dos limites desta freguezia,
somente em hum sítio chamado Agras de Mouro corre quite hum tiro de
mosquete’. Rio pouco Mais
refere que ”somente
no tempo de Verão alguns rapazes caçam nelle algumas trutas pouca e
pequenas, mas gostozas”.
Segundo
LEITE, A. & LEITE, M. (2009), tendo como base as
Memórias Paroquiais e ainda pela análise das prestações entregues
pelos foreiros e rendeiros aos monges de Fiães e Paderne (MARQUES,
J.,
1990) é
possível reconstruir
a composição da dieta alimentar das populações do interior
montanhoso do Vale do Mouro. “A
base da alimentação era fundamentalmente constituída por caldo de
couves e feijões engrossado com farinha de milho à qual, por vezes,
se seguia alguma carne de aves de criação, de porco (conservada nas
salgadeiras) e em certas ocasiões a do cabrito ou a obtida pela caça
nos montes onde abundava a perdiz, o javali e em menor número os
corços, cuja carne ‘he como a de vittela”
no dizer do pároco memorialista.
O pescado raramente entrava nas ementas e limitavase às sardinhas de
Caminha descarregadas na Lapela ou vindas de Arbo (Galiza) e vendidas
em Melgaço pelas ‘sardinheiras’ (MARQUES.
J.,
2004). A lampreia, o sável e o salmão “pilhados” nas cabaceiras
e botirões armados nas pesqueiras do Rio Minho eram quase
exclusivamente consumidos pelas populações ribeirinhas ou pelos
monges de Paderne e Fiães, detentores da propriedade de grande parte
daquelas construções fixas para a pesca fluvial (LEITE,
A.,
1999). Recebiam o sal vindo de Caminha “em
barcos pello Minho acima, até á Lapella e depois em carros até o
lugar de S. Gregório, aonde há armazéns, aos quaes se vem prover
todos os povos do bispado d’ Orense”
(VILLASBOAS,
J.,
1800).
Em
1758,
Parada
do Monte possuía “cento
e oitenta e nove vizinhos [agregados
familiares]
e quinhentas e vinte e duas pessoas entre grandes e pequenos”.
Segundo
o pároco, a igreja paroquial tinha três
altares estando o da capela-mor dotado de uma tribuna. O seu pároco
era apresentado pela reitoria matriz de São Pedro de Riba de Mouro e
tinha uma “renda
doze mil réis, doze fanegas de pão, doze cabaços de vinha e dois
alqueires de trigo pera hóstias, que lhe paga o colhedor dos fruttos
desta terra e tem mais de cada freguês cazado hum alqueire de pão e
sendo veuvos [viúvos]
meio e solteiros hum coarto”.
Na
segunda metade do século XIX, a freguesia volta
a ser
citada em algumas obras de referência da época. No livro “Portugal
Antigo e Moderno” do professor Pinho Leal, publicado em 1876, a
mesma é chamada de PARADA e descrita como freguesia já não
pertecente a Valadares mas à “comarca
e concelho de Melgaço, 65 kilometros ao norte
de Braga, 430 ao norte
de Lisboa. Tem 180 fogos [agregados
familiares].
Em 1757, tinha 189 fogos. O
orago
é S. Mamede. Arcebispado de Braga, districto administrativo de
Vianna. O reitor de S. Pedro de Riba de Mouro, apresentava o vigário,
collado, que tinha de rendimento 130 000 réis.”
O
autor volta a elogiar a qualidade da lã aqui produzida, nestes
termos “Ha
n'esta freguezia muito gado lanígero, que produz excelente Ian.”
Replica
a informação relativa ao antigo Couto de Vale de Poldros: “Em
Valle de Poldras, limites d'esta parochia, houve um couto, que marcou
e defendeu Paio Rodrigues de Araujo. Em 1720, era este couto possuído
pelo 6º neto do dito Paio, Manuel d' Araujo Caldas, de Valladares
mas tinha já perdido a maior parte dos seus antigos privilégios.”
Por
último refere que “dá-se
a esta freguezia, para a distinguir das outras, o nome de Parada do
Monte”.
Poucos
anos depois, em 1886, é publicado o livro “O Minho Pittoresco”,
obra incontornável da época para esta região. Na publicação,
diz-se que ”a
egreja de PARADA DE MONTE fica um kilometro ao sul do Rio de Mouro e
dista de Melgaço uns dez kilometros. Foi
reitoria que o reitor de Riba de Mouro apresentava e pertencia ao
extincto concelho de Válladares. A freguezia é montanhosa e
especialmente se entrega à
industria do gado ovino, sendo muito apreciada a sua lã para a
fabricação dos buréis e cobertores”.
(VIEIRA,
J., 1886).
Fontes
consultadas:
-
COSTA, Padre António Carvalho da (1706) - Corografia Portuguesa,
tomo I, Valentim da Costa Deslandes, Lisboa;
-
LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria
Editora de Mattos & Companhia, Lisboa;
-
LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia Cardoso (2009) - Parada do
Monte, História e Património. ACER;
-
MARQUES, José (1990) – O Mosteiro de Fiães, Braga;
-
VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria
de António Maria Pereira-Editor, Lisboa;
-
VILLASBOAS, Custódio Jozé Gomes de – Descripção Topographica
das Commarcas Fronteiras da Província do Minho, 1800 (inserido em
Fernando de Sousa e Jorge Fernandes Alves- ‘Alto Minho. População
e Economia nos Finais de Setecentos, Editorial Presença, Lisboa,
1997.
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