sexta-feira, 8 de março de 2019

A freguesia de Parada do Monte (Melgaço) no tempo dos nossos antepassados




Parada do Monte é uma freguesia que pertence ao concelho de Melgaço há pouco mais de 150 anos. Pertenceu ao antigo concelho de Valadares, tendo estado anexada, juntamente com a Gave, a Riba de Mouro, de Monção. Com a extinção deste concelho, por decreto de 24 de Outubro de 1855, foi desmembrada desta última freguesia, passando a fazer parte de Melgaço. No censo da população de 1864, figura sob a designação de Parada. Segundo o entendimento do saudoso padre Aníbal Rodrigues, o seu topónimo deverá indicar a existência de uma antiga via romana e do sítio onde os viandantes, a pé ou a cavalo, costumavam descansar depois de uma longa e difícil caminhada.
Há mais de 300 anos, mais concretamente em 1706, o Padre Carvalho da Costa, no seu livro refere-se a Parada do Monte nos seguintes termos: “S. Mamede de Parada do Monte, Vigairaria da mesma apresentação, que rende ao todo quarenta mil reis, e para o Commendador sessenta e seis mil reis. Tem cento e cincoenta vizinhos. Aqui se faz o melhor burel de lã das ovelhas Gallegas de todo o mais Reyno, donde he muy procurado para cubertas de camas de lavradores, ou criados, e ainda de muitos nobres para as meterem entre os cobertores. He muy branco, grosso e macio”. O Padre Carvalho da Costa refere-se ainda ao antigo Couto de Val de Poldros, que atingia os limites territoriais da freguesia de Parada do Monte: Nestas montanhas, em em que há muita caça e veação, houve antigamente hum Couto, a q chamavam Val de Poldros, o qual fez, marcou e defendeu Payo Rodrigues de Araujo, de que possui parte seu sexto neto Manoel de Araújo de Caldas, Sargento-mor de Valladares, ainda que atenuado em parte das grandes regalias que tinha”.
Em meados do século XVIII, o pároco Francisco de Caldelas Bacelar de Parada do Monte refere, nas Memórias Paroquiais de 1758, que os frutos que os moradores recolhem em maior abundância é o milho grosso, vulgarmente chamado milho maiz”. Cultivava-se nas leiras que bordejavam as margens do Mouro e onde também cresciam as latadas pois o vinho (12 cabaços) entrava na composição da renda que a freguesia pagava ao pároco. Na serra rodeavam-se as brandas de “centeio, algum milho miúdo, e pouco linho e muita herva no Verão de que fazem os labradores feno para darem de Inverno aos gados”. Mais afirma o pároco que “a criação de gados que tem esta serra é no tempo do Verão trazerem nella os labradores os seus bois de noutte [noite] e de dia dois outros mezes e as bacas e bezerros andam também na serra de dia e à noutte vão procurá-los e recolhem-nos nos lugares das brandas e o mesmo fazem ao gado miúdo de cabras e ovelhas”.
O Pároco de parada do Monte, em 1758, também refere que o rio Mouro tem um “curso arrebattado em toda a sua distância desde o seu nascimento até botar fora dos limites desta freguezia, somente em hum sítio chamado Agras de Mouro corre quite hum tiro de mosquete’. Rio pouco Mais refere que ”somente no tempo de Verão alguns rapazes caçam nelle algumas trutas pouca e pequenas, mas gostozas”.
Segundo LEITE, A. & LEITE, M. (2009), tendo como base as Memórias Paroquiais e ainda pela análise das prestações entregues pelos foreiros e rendeiros aos monges de Fiães e Paderne (MARQUES, J., 1990) é possível reconstruir a composição da dieta alimentar das populações do interior montanhoso do Vale do Mouro. “A base da alimentação era fundamentalmente constituída por caldo de couves e feijões engrossado com farinha de milho à qual, por vezes, se seguia alguma carne de aves de criação, de porco (conservada nas salgadeiras) e em certas ocasiões a do cabrito ou a obtida pela caça nos montes onde abundava a perdiz, o javali e em menor número os corços, cuja carne ‘he como a de vittela” no dizer do pároco memorialista. O pescado raramente entrava nas ementas e limitavase às sardinhas de Caminha descarregadas na Lapela ou vindas de Arbo (Galiza) e vendidas em Melgaço pelas ‘sardinheiras’ (MARQUES. J., 2004). A lampreia, o sável e o salmão “pilhados” nas cabaceiras e botirões armados nas pesqueiras do Rio Minho eram quase exclusivamente consumidos pelas populações ribeirinhas ou pelos monges de Paderne e Fiães, detentores da propriedade de grande parte daquelas construções fixas para a pesca fluvial (LEITE, A., 1999). Recebiam o sal vindo de Caminha em barcos pello Minho acima, até á Lapella e depois em carros até o lugar de S. Gregório, aonde há armazéns, aos quaes se vem prover todos os povos do bispado d’ Orense” (VILLASBOAS, J., 1800).
Em 1758, Parada do Monte possuía cento e oitenta e nove vizinhos [agregados familiares] e quinhentas e vinte e duas pessoas entre grandes e pequenos”. Segundo o pároco, a igreja paroquial tinha três altares estando o da capela-mor dotado de uma tribuna. O seu pároco era apresentado pela reitoria matriz de São Pedro de Riba de Mouro e tinha uma “renda doze mil réis, doze fanegas de pão, doze cabaços de vinha e dois alqueires de trigo pera hóstias, que lhe paga o colhedor dos fruttos desta terra e tem mais de cada freguês cazado hum alqueire de pão e sendo veuvos [viúvos] meio e solteiros hum coarto”.
Na segunda metade do século XIX, a freguesia volta a ser citada em algumas obras de referência da época. No livro “Portugal Antigo e Moderno” do professor Pinho Leal, publicado em 1876, a mesma é chamada de PARADA e descrita como freguesia já não pertecente a Valadares mas à comarca e concelho de Melgaço, 65 kilometros ao norte de Braga, 430 ao norte de Lisboa. Tem 180 fogos [agregados familiares]. Em 1757, tinha 189 fogos. O orago é S. Mamede. Arcebispado de Braga, districto administrativo de Vianna. O reitor de S. Pedro de Riba de Mouro, apresentava o vigário, collado, que tinha de rendimento 130 000 réis.” O autor volta a elogiar a qualidade da lã aqui produzida, nestes termos “Ha n'esta freguezia muito gado lanígero, que produz excelente Ian.” Replica a informação relativa ao antigo Couto de Vale de Poldros: Em Valle de Poldras, limites d'esta parochia, houve um couto, que marcou e defendeu Paio Rodrigues de Araujo. Em 1720, era este couto possuído pelo 6º neto do dito Paio, Manuel d' Araujo Caldas, de Valladares mas tinha já perdido a maior parte dos seus antigos privilégios.” Por último refere que “dá-se a esta freguezia, para a distinguir das outras, o nome de Parada do Monte.
Poucos anos depois, em 1886, é publicado o livro “O Minho Pittoresco”, obra incontornável da época para esta região. Na publicação, diz-se que ”a egreja de PARADA DE MONTE fica um kilometro ao sul do Rio de Mouro e dista de Melgaço uns dez kilometros. Foi reitoria que o reitor de Riba de Mouro apresentava e pertencia ao extincto concelho de Válladares. A freguezia é montanhosa e especialmente se entrega à industria do gado ovino, sendo muito apreciada a sua lã para a fabricação dos buréis e cobertores”. (VIEIRA, J., 1886).



Fontes consultadas:
- COSTA, Padre António Carvalho da (1706) - Corografia Portuguesa, tomo I, Valentim da Costa Deslandes, Lisboa;
- LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria Editora de Mattos & Companhia, Lisboa;
- LEITE, Antero & LEITE, Maria Antónia Cardoso (2009) - Parada do Monte, História e Património. ACER;
- MARQUES, José (1990) – O Mosteiro de Fiães, Braga;
- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria de António Maria Pereira-Editor, Lisboa;
- VILLASBOAS, Custódio Jozé Gomes de – Descripção Topographica das Commarcas Fronteiras da Província do Minho, 1800 (inserido em Fernando de Sousa e Jorge Fernandes Alves- ‘Alto Minho. População e Economia nos Finais de Setecentos, Editorial Presença, Lisboa, 1997.

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