A
primeira referência conhecida à
igreja de
São Tiago de Penso
remonta ao ano de 1118. No catálogo das igrejas situadas ao norte do
rio Lima, que o rei D. Dinis mandou organizar em 1320 para a
determinação da taxa a pagar, São Tiago de Penso pertencia então
à Terra de Valadares.
Em
1546 há notícia de que se encontrava já anexada ao mosteiro de São
Salvador de Paderne. Na cópia do Censual de D. Frei Baltasar Limpo
(1551-1581) sobre a situação canónica destes benefícios, diz-se
que o abade de Messegães beneficiava dos frutos da igreja do Penso,
de consentimento com o prior e cónegos do mosteiro de Paderne. O
direito de apresentação desta igreja pertencia ao mosteiro a que
era anexa.
Américo
Costa descreve-a como vigairaria da apresentação do mosteiro de
Paderne e, mais tarde, da Casa dos Caldas, no termo de Valadares. O
mosteiro vendeu o direito de apresentação a esta família, que
ficou com o padroado da igreja, recebendo os seus vigários a
denominação de reitores.
No início do século XVIII, o Padre Carvalho da Costa na sua obra descreve esta
freguesia nestes termos:
“Santiago de Penso,
Vigairaria do Morteiro de Paderne com de dez mil
reis, ao todo oitenta mil reis, e para os Frades
cento e dezoito mil reis, tem duzentos
vizinhos. Aqui está a Quinta de S.
Sybrão, que possui Felippe de Araújo
de Caldas, Cavalleiro do Habito de Cristo,
Capitão-mor, e Monteiro-mor de Valladares ;tomou este
nome de uma Capella antiga deste Santo Cipriano, que
ali está; he tradição foy templo da Gentilidade
dedicado a Júpiter. O sítio
é fúnebre, e desacomodado
no meio de hum campo com pouca veneração,
e menos o fora a não ser advogado
das cézoens, ou maleitas, que muitos enfermos vem alli tremendo,
e voltam sãos”.
Temos
notícias de Penso nas Memórias Paroquiais de 1758. Na resposta ao
inquérito, o pároco Diogo Manuel de Sousa Gama de S. Tiago de Penso
refere que, além da igreja paroquial, “tem esta freguesia
quatro ermidas, uma de Sam Bartolomeu, outra de Sam Thomé, outra da
Senhora da Boa Morte e outra de Sam Sipriano”. Mais acrescenta
que são pertencentes da freguesia “exceto a da Senhora da Boa
Morte e a de Sam Sipriano que pertencem à Casa de Manuel Giraldo de
Azevedo e Sotto Maior”, da Casa e Quinta de S. Cibrão. Diz-nos
ainda que a freguesia tem 209 fogos.
O
pároco memorialista da freguesia de Penso refere-se, ainda em 1758,
ao lado de “pescarias livres e dízimas a Deus que os donos usam
sem foro algum e se pagam tão só as dízimas a Deus”, outras
de “vários donos e senhorios que pagam foros de
peixe, especialmente aos religiosos de Santo Agostinho do Mosteiro de
Paderne e aos religiosos de S. Bernardo do mosteiro de Fiães”.
O
padre de Penso já em 1758 nos fala da chamada “Fonte Santa”, que
seria rica em enxofre e teria “várias virtudes
especialmente para” doença do fígado, lepra, tratamento de
feridas e aumentaria o apetite de comer “se tiver fastio”,
trataria também a dita água das doenças de “umores quentes”.
Em
1876, no livro “Portugal Antigo e Moderno” do professor Pinho
Leal, a freguesia de Penso é assim descrita: “PENSO—freguezia,
Minho, comarca e concelho de Melgaço (foi da comarca de Monção,
extinto concelho de Valladares) 65 kilometros a Nordeste de
Braga, 425 ao Norte de Lisboa. Tem 255 fogos. Em 1757,
tinha 209 fogos. Orago, S. Thiago, apostólo. O prior
dos cónegos regrantes de Santo Agostinho (crúzios) de
Paderne, apresentava o vigário, que tinha 130 000 réis de
rendimento. O mosteiro vendeu isto aos Caldas, de Badim, que, desde
então até 1834, ficaram com o padroado d'esta igreja
passando os seus vigários a denominarem-se reitores.
É
n'esta freguezia a quinta de S. Cybrão, do sr. Philippe d' Araújo
Caldas. Segundo a tradição, no sitio onde está a capella d'esta
quinta, houve um templo romano dedicado a Júpiter. Supõe-se que a
existência do tal templo, foi uma fábula inventada para enobrecer
esta propriedade; que, mesmo sem aquela circunstância, é notável,
pela antiguidade e nobreza dos seus proprietários; e também por que
produz óptimo vinho. É terra fértil, gado, peixe do rio Minho (que
lhe passa próximo, ao norte) e caça.”
A
referência à Quinta de S. Cibrão é uma constante em alguma
literatura e outros documentos desde o século XVII o que atesta a
extrema importância da quinta e dos senhores da mesma na região. A
mesma volta a ser citada no livro “O Minho Pittoresco” de 1886. O
autor escreve na sua chegada a Penso: “O carro segue
sempre e aqui nos fica à esquerda a freguezia de
PENSO, uma villota em miniatura, antiga vigararia do mosteiro de
Paderne e depois da casa dos Caldas, de Badim, por compra que fizeram
ao mosteiro.
Na
quinta de S. Cibrão (Cypriano) é tradição que existiu um antigo
templo gentilico, dedicado a Júpiter, no ponto onde está hoje a
capela. Há quem diga, porém, que essa tradição foi inventada
apenas com o fim de enobrecer a quinta, já de si notável pela
familia que a possuiu e pelo bom vinho que produz. Em Penso existe
ainda a capela de Santa Comba, cuja festa é pelo mez de julho, e
junto da estrada, à nossa esquerda, está a capelinha de S.
Bartholomeu, cuja festa se faz em 24 de agosto.
Sobranceira
a essa capelinha fica um templosinho modesto, mas da religião do
mais largo ideal— a instrução do povo. Um bando de rapazes,
rodeando o professor, entrava na escola, no momento em que nós
passávamos. E foi gratíssima, devemos confessa-lo, essa impressão
ultima que em nós deixou a derradeira freguezia que percorríamos do
concelho do Melgaço”...
Extraído de:
-
COSTA, Padre António Carvalho da (1706) - Corografia Portuguesa,
tomo I, Valentim da Costa Deslandes, Lisboa;
-
LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria
Editora de Mattos & Companhia, Lisboa;
-
VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria
de António Maria Pereira-Editor, Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário