sexta-feira, 22 de março de 2019

A freguesia de São Tiago de Penso (Melgaço) em tempos antigos



A primeira referência conhecida à igreja de São Tiago de Penso remonta ao ano de 1118. No catálogo das igrejas situadas ao norte do rio Lima, que o rei D. Dinis mandou organizar em 1320 para a determinação da taxa a pagar, São Tiago de Penso pertencia então à Terra de Valadares.
Em 1546 há notícia de que se encontrava já anexada ao mosteiro de São Salvador de Paderne. Na cópia do Censual de D. Frei Baltasar Limpo (1551-1581) sobre a situação canónica destes benefícios, diz-se que o abade de Messegães beneficiava dos frutos da igreja do Penso, de consentimento com o prior e cónegos do mosteiro de Paderne. O direito de apresentação desta igreja pertencia ao mosteiro a que era anexa.
Américo Costa descreve-a como vigairaria da apresentação do mosteiro de Paderne e, mais tarde, da Casa dos Caldas, no termo de Valadares. O mosteiro vendeu o direito de apresentação a esta família, que ficou com o padroado da igreja, recebendo os seus vigários a denominação de reitores.
No início do século XVIII, o Padre Carvalho da Costa na sua obra descreve esta freguesia nestes termos: “Santiago de Penso, Vigairaria do Morteiro de Paderne com de dez mil reis, ao todo oitenta mil reis, e para os Frades cento e dezoito mil reis, tem duzentos vizinhos. Aqui está a Quinta de S. Sybrão, que possui Felippe de Araújo de Caldas, Cavalleiro do Habito de Cristo, Capitão-mor, e Monteiro-mor de Valladares ;tomou este nome de uma Capella antiga deste Santo Cipriano, que ali está; he tradição foy templo da Gentilidade dedicado a Júpiter. O tio é fúnebre, e desacomodado no meio de hum campo com pouca veneração, e menos o fora a não ser advogado das cézoens, ou maleitas, que muitos enfermos vem alli tremendo, e voltam sãos”.
Temos notícias de Penso nas Memórias Paroquiais de 1758. Na resposta ao inquérito, o pároco Diogo Manuel de Sousa Gama de S. Tiago de Penso refere que, além da igreja paroquial, “tem esta freguesia quatro ermidas, uma de Sam Bartolomeu, outra de Sam Thomé, outra da Senhora da Boa Morte e outra de Sam Sipriano”. Mais acrescenta que são pertencentes da freguesia “exceto a da Senhora da Boa Morte e a de Sam Sipriano que pertencem à Casa de Manuel Giraldo de Azevedo e Sotto Maior”, da Casa e Quinta de S. Cibrão. Diz-nos ainda que a freguesia tem 209 fogos.
O pároco memorialista da freguesia de Penso refere-se, ainda em 1758, ao lado de “pescarias livres e dízimas a Deus que os donos usam sem foro algum e se pagam tão só as dízimas a Deus”, outras de “vários donos e senhorios que pagam foros de peixe, especialmente aos religiosos de Santo Agostinho do Mosteiro de Paderne e aos religiosos de S. Bernardo do mosteiro de Fiães”.
O padre de Penso já em 1758 nos fala da chamada “Fonte Santa”, que seria rica em enxofre e teria “várias virtudes especialmente para” doença do fígado, lepra, tratamento de feridas e aumentaria o apetite de comer “se tiver fastio”, trataria também a dita água das doenças de “umores quentes”.
Em 1876, no livro “Portugal Antigo e Moderno” do professor Pinho Leal, a freguesia de Penso é assim descrita: “PENSO—freguezia, Minho, comarca e concelho de Melgaço (foi da comarca de Monção, extinto concelho de Valladares) 65 kilometros a Nordeste de Braga, 425 ao Norte de Lisboa. Tem 255 fogos. Em 1757, tinha 209 fogos. Orago, S. Thiago, apostólo. O prior dos cónegos regrantes de Santo Agostinho (crúzios) de Paderne, apresentava o vigário, que tinha 130 000 réis de rendimento. O mosteiro vendeu isto aos Caldas, de Badim, que, desde então até 1834, ficaram com o padroado d'esta igreja passando os seus vigários a denominarem-se reitores.
É n'esta freguezia a quinta de S. Cybrão, do sr. Philippe d' Araújo Caldas. Segundo a tradição, no sitio onde está a capella d'esta quinta, houve um templo romano dedicado a Júpiter. Supõe-se que a existência do tal templo, foi uma fábula inventada para enobrecer esta propriedade; que, mesmo sem aquela circunstância, é notável, pela antiguidade e nobreza dos seus proprietários; e também por que produz óptimo vinho. É terra fértil, gado, peixe do rio Minho (que lhe passa próximo, ao norte) e caça.”
A referência à Quinta de S. Cibrão é uma constante em alguma literatura e outros documentos desde o século XVII o que atesta a extrema importância da quinta e dos senhores da mesma na região. A mesma volta a ser citada no livro “O Minho Pittoresco” de 1886. O autor escreve na sua chegada a Penso: O carro segue sempre e aqui nos fica à esquerda a freguezia de PENSO, uma villota em miniatura, antiga vigararia do mosteiro de Paderne e depois da casa dos Caldas, de Badim, por compra que fizeram ao mosteiro.
Na quinta de S. Cibrão (Cypriano) é tradição que existiu um antigo templo gentilico, dedicado a Júpiter, no ponto onde está hoje a capela. Há quem diga, porém, que essa tradição foi inventada apenas com o fim de enobrecer a quinta, já de si notável pela familia que a possuiu e pelo bom vinho que produz. Em Penso existe ainda a capela de Santa Comba, cuja festa é pelo mez de julho, e junto da estrada, à nossa esquerda, está a capelinha de S. Bartholomeu, cuja festa se faz em 24 de agosto.
Sobranceira a essa capelinha fica um templosinho modesto, mas da religião do mais largo ideal— a instrução do povo. Um bando de rapazes, rodeando o professor, entrava na escola, no momento em que nós passávamos. E foi gratíssima, devemos confessa-lo, essa impressão ultima que em nós deixou a derradeira freguezia que percorríamos do concelho do Melgaço”...




Extraído de:


- COSTA, Padre António Carvalho da (1706) - Corografia Portuguesa, tomo I, Valentim da Costa Deslandes, Lisboa;
- LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria Editora de Mattos & Companhia, Lisboa;
- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria de António Maria Pereira-Editor, Lisboa.

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