Há mais de 300 anos, um livro da
autoria do Padre Carvalho da Costa, publicado em 1706, conta-nos como
era o Mosteiro de Fiães (Melgaço) na época e como em tempos antigos era muito
rico e poderoso. Esta obra fala-nos ainda das origens da Nossa
Senhora da Orada e da sua relação com a antiga Quinta de Cavaleiros: “No
mesmo Concelho de Valladares, ficando-lhe para o Norte
o de Melgaço, para o nascente
o Reyno de Galliza, sobre huns altos montes, ao pé
de outros mais altos está o Convento.de Fiães,
fundado em tempo del Rey Ramiro Primeiro e de sua
mulher a Rainha Dona Paterna, de que julgamos tomar o nome o valle de
Paderne. Quando ella então não fosse a
fundadora daquelle Morteiro, o seria do de S. Payo, que
no termo de Melgaço houve. Foi este de
Fiães de Monges Bentos com a invocação de
S.Christovão, de que se
acha noticia pelos anos de 851 e hum dos primeiros, que
desta Ordem houve em Hespanha. Foi
logo tão rico em seus princípios de
rendas senhorios, que teve nesta
Província, na de Trás os Montes e Galliza, que
vulgarmentefe dizia não haver algum tão poderoso,
como o Dom Abbade de Fiães, depois del Rey, pelo que
se pode presumir ser
obra sua. Ali viviam oitenta Frades de
Missa, além dos Conversos, os quais
em Lausperene assistiam continuamente no Coro de dia e
de noite e com tão exemplar vida, que de
todos eram chamados Santos e muitos
faziam milagres pelo que se vinham
aqui enterrar muitos príncipes, que lhe fizeram
amplas doações. De três
Infantes há noticia e de muitos fidalgos
galegos, & portuguezes, Fernão Annes
de Lima, pai do primeiro Visconde, está
em sepultura levantada e magnífica
com suas Armas junto da Capela de S.
Sebastião. Tinha antigamente um banho, que por milagre
de Nossa Senhora apareceu junto do
Morteiro, e esta água era
de tanta virtude, particularmente no dia do Bautista,
que muitos doentes de várias
enfermidades, e aleijoens incuráveis, que nele se
vinham lavar, voltavam sãos. Mandou-se
entupir há anos por mortes que houve entre os que
haviam de entrar primeiro. Ainda hoje vem
muitos buscar água, que dele emana
e a levam a enfermos, que bebendo-a com
fé , obra Deus por ela muitas maravilhas. Da
imagem de S. Bento, que aqui está, e é
visitada dos contornos em todo anno,
particularmente em Teu dia, se contam
grandes milagres. A fabrica deste Mosteiro,
e celas dos Religiosos foi
cousa grande, trezentos e tantos annos
havia, que nele viviam estes Monges. Teve nesses
tempos dois incêndios por desgraça,
causa de sua total ruína, porque
lhe queimarem os melhores títulos de suas rendas, com
que se pôs em estado, que
mal tem com que sustente oito frades,
quanto mais para pagar à Capela Real quarenta
mil reis, e vinte e cinco mil reis ao
Convento do Desterro de Lisboa. Da primeira ruína o
tirou a piedade Cristã de Afonso Paes,
dois irmãos seus, que de novo o
reedificaram e deram a Alcobaça. No ano
de 1150 era tão grande a fama que corria
da vida santa dos Frades Bernardos, que tinham
vindo de França para este Reyno, que mandou o Dom
Abade deste Mosteiro dois
Monges ao de Alcobaça a pedir nova reformaçam dos institutos
de Cister, e um Religioso
para que melhor os instruísse pelo que haviam
de obrar, ficando logo sujeitos àquela Real
Casa, que de novo se ia edificando. Tanto
que receberam a reforma, tomaram por
Padroeira a Virgem Nossa Senhora, deixando a S.
Christovão e se chama
desde então Santa Maria de Feães,
e em memória do grande gosto
que tiveram de se mudarem a Bernardos, e
da boa doutrina, que o novo Mestre lhes veio
dar, puseram o nome de Alcobaça a uma
aldeia arraiana, que então
povoaram, e permanece.
Donde seu princípio sempre
teve Couto Cível, que lhe confirmaram EI Rey Dom
Afonso Henriques, e seus sucessores;
e o Dom Abade tem jurisdição Episcopal,
Metropolitano imediato ao Papa, sem que o Arcebispo
lhe visite os seus súbditos,
e reconhece os Breves Apostólicos,
ou o seu Provedor, que
é hum Religioso da Casa, a
quem o Abade escolhe, e
deles appella para Roma, ou Núncio. A mesma
jurisdição tem em Galiza no Bispado de
Tuy além do rio Trancoso em dois
lugares chamados Lapella e A zureyra, em que exercita a
dignidade Episcopal por sentenças que
teve cá e lá contra o Primaz, e Bispo,
que ambos lho quiseram tirar, cousa
que não sei haja em outra Diocese.
A Condessa Dona Fronilla deu a este
Mosteiro e ao seu Abbade
João em Janeiro do anno de 1166 a quinta de Cavalleiros junto de
Melgaço, cousa boa, particularmente de vinhas
entendemos que com ela lhe daria também a Igreja de Nossa
Senhora da Orada alli pegado, que os
Frades dizem foi Mosteiro
de S. Bento, e fundado quando se edificou
o de Feães, de que veio a ser
Priorado. Outros dizem (o que tenho por mais certo, e
alguns sinais mostra
para isso) que foi de Cavaleiros
Templários, de que esta
quinta tomou o nome, que era passal seu.
Pouco há se lhe viam
ruínas de celas, claustros, e canos de
pedra, pelos quais lhe vinha água.”
...............................CONTINUA...............................
Sem comentários:
Enviar um comentário