sexta-feira, 29 de março de 2019

A freguesia de Rouças (Melgaço) em finais do século XIX




A freguesia de Rouças pertence atualmente ao concelho de Melgaço. Em finais do século XIX, já pertencia à comarca e concelho de Melgaço mas já pertenceu em tempos à comarca de Monção. Em finais do século XIX, havia nesta freguesia 225 fogos ao passo que em 1757, havia apenas 88 fogos.
O orago desta freguesia é Santa Marinha de Antioquia, santa mártir do século IV. Contudo, no livro “Portugal Sacro e Profano” é referido que é Nossa Senhora dos Anjos. No livro “Portugal Antigo e Moderno” do professor Pinho Leal, editado em 1876, fala-se da freguesia de Rouças nestes termos: A mitra apresentava o abade, que tinha 350 000 réis de rendimento. Esta paróquia foi primeiramente padroado da antiga e nobre família dos senhores do Paço de Rouças, que era nesta freguesia, mas que há alguns séculos pertence à de S. Payo, contigua a esta. Ainda se vêem as ruínas de uma antiquíssima casa chamada o Paço, solidamente construída, e, em parte, ainda habitada. O lugar em que está, chama-se mesmo Paço, nome tomado da dita casa. O padroado passou depois para Manoel Pereira (o Mil-Homens) da vila de Monção, e o solar para os Castros, de Melgaço. Por fim, passou o padroado para os arcebispos de Braga. O território desta freguesia, tem 7 kilómetros de comprido, por 5 de largo, estendendo-se desde a encosta oeste da serra de Pernidelo, até junto das muralhas da vila de Melgaço, pertencendo ainda à freguesia de Rouças, as primeiras casas da vila. Ainda que em terreno muito acidentado, os seus vales são fertilíssimos, e o vinho que produz é de óptima qualidade principalmente o dos sítios das Barreiras e Vale de Cavaleiros, em nada inferior ao excelente vinho de Monção. É nesta freguesia a grande quinta que foi do mosteiro de Fiães, deste concelho, e que, ficando sobranceira à vila, é uma belíssima vivenda. É hoje propriedade particular do Sr. Dr. José Joaquim Gomes. A igreja matriz é das maiores, não só da comarca, mas do distrito administrativo. O zelo do reverendo abade atual, e a devoção e religiosidade dos paroquianos, tem convergido para que este templo esteja ornado com a maior magnificência. Estes melhoramentos principiaram em 1864. Tem altar-mor e quatro laterais, todos ricamente adornados, e as santas imagens que os decoram, são de excelente escultura, sendo notável a de Nossa Senhora da Soledade, de tamanho quase natural, e oferecida à freguesia pela benemérita família Salgado, aqui residente. A sua torre dos sinos, é bastante alta e tem dois bons sinos. O coro é bom, e tem um pequeno órgão. Tem óptimas alfaias e paramentos, para o culto divino, tudo feito há poucos anos. No teto da igreja há boas pinturas, representando os apóstolos e os evangelistas; e a Fé, Esperança e Caridade. Na parede exterior da capela-mor, está embutida uma lapide, com esta inscrição:

BLAZIUS D'ANDRADA DA
GAMA, ABBAS, IN UTRO-
QUE JURE LAUREA-
TUS, A FUNDAMENTIS
EREXIT. MDCLXXXX

Colige-se desta inscrição que o templo foi fundado em 1690, à custa do benemérito abade da freguezia, Braz d'Andrada da Gama. Está construída em um formoso sitio, pela sua posição elevada, e com dilatados horizontes. A festa da padroeira, faz-se a 18 de julho, que é o seu dia. É uma romaria concorridíssima, vindo gente até da Galiza, em grande número, com ofertas, para que Santa Marinha os cure, ou preserve de sesões. O lugar presta-se maravilhosamente para a romaria, porque é um vasto terreiro, o maior que se vê na província, em frente das igrejas, depois do de Fiães. Fica ao sul da igreja, e é assombrado por gigantescos e vetustos castanheiros, contemporâneos do primitivo templo. A residência paroquial foi reconstruida em 1870, desde os alicerces. É um edifício no gosto moderno, cómodo e decente e feito à custa dos paroquianos, que da melhor vontade, e por amor ao seu digno pároco, se prestaram a esta não pequena despesa. Há nesta freguesia seis capelas, que são: Santa Rita, na aldeia de Vilela, com missa em todos os domingos e dias sancificados. É publica; Nossa Senhora da Conceição, no Côto do Preto. Tem uma bem esculpida pedra de armas, da ordem da Conceição, sobre a porta principal. É particular; Santo António, no logar da Corga. É particular; Nossa Senhora das Dores, no lugar de Cavaleiros, com missa em todos os domingos e dias santos. É publica; S. João Batista, no logar do Fecho. É particular; Nossa Senhora da Graça, a poucos metros de distância da antecedente, e que é a melhor de todas, tanto pela sua posição eminente à vila, como pela magnifica pedra de cantaria de que é construída. Do monte onde está a capela, é que sabe o finíssimo granito para as construções de todos os edifícios destes arredores.
Nasceu nesta freguesia, o padre Manoel Alves Salgado, que, enquanto estudante, foi o maior perito caçador do Minho. Foi servidor do infante D. Gaspar, arcebispo de Braga, filho natural reconhecido de D. João V, e depois secretário da câmara eclesiástica do arcebispado, no tempo do mesmo príncipe. Era o padre Manoel Alves Salgado, um eclesiástico exemplar, e muito inteligente, sabendo reunir ao rigoroso cumprimento dos deveres do seu então importantíssimo cargo, a maior modéstia e afabilidade. Era sumamente caridoso, pelo que a sua morte foi sinceramente chorada, pelos desvalidos a quem a sua beneficência jamais deixara de socorrer. Por sua morte, nomeou sua herdeira, sua sobrinha, a Sra. D. Thereza Alves Salgado da cidade de Braga, hoje representada por suas duas filhas, as Srs. morgadas do Carvalhal, da mesma cidade. Ao reverendíssimo Sr. José Manoel Alves Salgado de Castro, que, por varias vezes, se tem dignado mandar-me valiosos e curiosíssimos apontamentos, para várias povoações do Minho; e que teve a bondade de me mandar bastantes sobre esta freguezia, agradeço tanta generosidade. Se todos os homens ilustrados das províncias fizessem como o Sr. Padre Salgado, sairia esta obra mais completa e perfeita.”





Informações extraídas de:

- LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria Editora de Mattos & Companhia, Lisboa.

Sem comentários:

Enviar um comentário