A freguesia de Rouças pertence
atualmente ao concelho de Melgaço. Em finais do século XIX, já
pertencia à comarca e concelho de Melgaço mas já pertenceu em
tempos à comarca de Monção. Em finais do século XIX, havia nesta
freguesia 225 fogos ao passo que em 1757, havia apenas 88 fogos.
O orago desta freguesia é Santa
Marinha de Antioquia, santa mártir do século IV. Contudo, no livro
“Portugal Sacro e Profano” é referido que é Nossa Senhora dos
Anjos. No livro “Portugal Antigo e Moderno” do professor Pinho
Leal, editado em 1876, fala-se da freguesia de Rouças nestes termos:
“A mitra apresentava o abade, que tinha 350 000 réis de
rendimento. Esta paróquia foi primeiramente padroado da antiga e
nobre família dos senhores do Paço de Rouças, que era nesta
freguesia, mas que há alguns séculos pertence à de S. Payo,
contigua a esta. Ainda se vêem as ruínas de uma
antiquíssima casa chamada o Paço, solidamente construída, e, em
parte, ainda habitada. O lugar em que está, chama-se mesmo Paço,
nome tomado da dita casa. O padroado passou depois para Manoel
Pereira (o Mil-Homens) da vila de Monção, e o solar para os
Castros, de Melgaço. Por fim, passou o padroado para os arcebispos
de Braga. O território desta freguesia, tem 7 kilómetros de
comprido, por 5 de largo, estendendo-se desde a encosta oeste da
serra de Pernidelo, até junto das muralhas da vila de Melgaço,
pertencendo ainda à freguesia de Rouças, as primeiras casas da
vila. Ainda que em terreno muito acidentado, os seus vales são
fertilíssimos, e o vinho que produz é de óptima qualidade
principalmente o dos sítios das Barreiras e Vale de Cavaleiros, em
nada inferior ao excelente vinho de Monção. É nesta freguesia a
grande quinta que foi do mosteiro de Fiães, deste concelho, e que,
ficando sobranceira à vila, é uma belíssima vivenda. É hoje
propriedade particular do Sr. Dr. José Joaquim Gomes. A igreja
matriz é das maiores, não só da comarca, mas do distrito
administrativo. O zelo do reverendo abade atual, e a devoção e
religiosidade dos paroquianos, tem convergido para que este templo
esteja ornado com a maior magnificência. Estes melhoramentos
principiaram em 1864. Tem altar-mor e quatro laterais, todos
ricamente adornados, e as santas imagens que os decoram, são de
excelente escultura, sendo notável a de Nossa Senhora da Soledade,
de tamanho quase natural, e oferecida à freguesia pela benemérita
família Salgado, aqui residente. A sua torre dos sinos, é bastante
alta e tem dois bons sinos. O coro é bom, e tem um pequeno órgão.
Tem óptimas alfaias e paramentos, para o culto divino, tudo feito há
poucos anos. No teto da igreja há boas pinturas, representando os
apóstolos e os evangelistas; e a Fé, Esperança e Caridade. Na
parede exterior da capela-mor, está embutida uma lapide, com esta
inscrição:
BLAZIUS D'ANDRADA DA
GAMA, ABBAS, IN UTRO-
QUE JURE LAUREA-
TUS, A FUNDAMENTIS
EREXIT. MDCLXXXX
Colige-se desta inscrição que o
templo foi fundado em 1690, à custa do benemérito abade da
freguezia, Braz d'Andrada da Gama. Está construída em um formoso
sitio, pela sua posição elevada, e com dilatados horizontes. A
festa da padroeira, faz-se a 18 de julho, que é o seu dia. É uma
romaria concorridíssima, vindo gente até da Galiza, em grande
número, com ofertas, para que Santa Marinha os cure, ou preserve de
sesões. O lugar presta-se maravilhosamente para a romaria, porque é
um vasto terreiro, o maior que se vê na província, em frente das
igrejas, depois do de Fiães. Fica ao sul da igreja, e é assombrado
por gigantescos e vetustos castanheiros, contemporâneos do primitivo
templo. A residência paroquial foi reconstruida em 1870, desde os
alicerces. É um edifício no gosto moderno, cómodo e decente e
feito à custa dos paroquianos, que da melhor vontade, e por amor ao
seu digno pároco, se prestaram a esta não pequena despesa. Há
nesta freguesia seis capelas, que são: Santa Rita, na aldeia de
Vilela, com missa em todos os domingos e dias sancificados. É
publica; Nossa Senhora da Conceição, no Côto do Preto. Tem uma bem
esculpida pedra de armas, da ordem da Conceição, sobre a porta
principal. É particular; Santo António, no logar da Corga. É
particular; Nossa Senhora das Dores, no lugar de Cavaleiros, com
missa em todos os domingos e dias santos. É publica; S. João
Batista, no logar do Fecho. É particular; Nossa Senhora da Graça, a
poucos metros de distância da antecedente, e que é a melhor de
todas, tanto pela sua posição eminente à vila, como pela magnifica
pedra de cantaria de que é construída. Do monte onde está a
capela, é que sabe o finíssimo granito para as construções de
todos os edifícios destes arredores.
Nasceu nesta freguesia, o padre
Manoel Alves Salgado, que, enquanto estudante, foi o maior perito
caçador do Minho. Foi servidor do infante D. Gaspar, arcebispo de
Braga, filho natural reconhecido de D. João V, e depois secretário
da câmara eclesiástica do arcebispado, no tempo do mesmo príncipe.
Era o padre Manoel Alves Salgado, um eclesiástico exemplar, e muito
inteligente, sabendo reunir ao rigoroso cumprimento dos deveres do
seu então importantíssimo cargo, a maior modéstia e afabilidade.
Era sumamente caridoso, pelo que a sua morte foi sinceramente
chorada, pelos desvalidos a quem a sua beneficência jamais deixara
de socorrer. Por sua morte, nomeou sua herdeira, sua sobrinha, a Sra.
D. Thereza Alves Salgado da cidade de Braga, hoje representada por
suas duas filhas, as Srs. morgadas do Carvalhal, da mesma cidade. Ao
reverendíssimo Sr. José Manoel Alves Salgado de Castro, que, por
varias vezes, se tem dignado mandar-me valiosos e curiosíssimos
apontamentos, para várias povoações do Minho; e que teve a bondade
de me mandar bastantes sobre esta freguezia, agradeço tanta
generosidade. Se todos os homens ilustrados das províncias fizessem
como o Sr. Padre Salgado, sairia esta obra mais completa e perfeita.”
Informações extraídas de:
-
LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria
Editora de Mattos & Companhia, Lisboa.
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