A
primeira referência conhecida à igreja de São Martinho de Alvaredo
remonta a 1118, ano em que Onega Fernandes fez doação à Sé de Tui
da quarta parte da igreja de São Paio de Paderne, equivalente da
igreja de São Martinho de Valadares e outro tanto da vila chamada de
São Vicente e da sua igreja. No catálogo das igrejas situadas ao
norte do rio Lima, que o rei D. Dinis mandou organizar, em 1320, para
determinação da taxa a pagar, São Martinho de Alvaredo foi taxada
em 60 libras. Enquadrava-se nessa época na Terra de Valadares.
No
Censual de D. Frei Baltasar Limpo (1551-1581), que descreve a
situação canónica dos benefícios eclesiásticos da comarca de
Valença do Minho, diz-se que esta igreja era da apresentação de
padroeiros, designadamente, de Pedro Gomes de Abreu.
Na
obra do Padre Carvalho da Costa, publicada em 1706, diz-se de S.
Martinho de Alvaredo que “em algum tempo se
chamou de Paderne, é curato
anual com título de Vigairaria do Morteiro de S. Fins
dos Padres da Companhia de Jesus,
com oito mil réis de ordenado, ao todo cincoenta mil
reis, e para os Padres cento e vinte mil
reis: tem cento sessenta vizinhos.
Onega Fernandes senhora principal,sendo
viúva, e tendo hábito de
Religiosa deu a quarta parte desta
Igreja a Dom Afonso, Bispo
de Tui e àquela Sé em 15 de Abril da
era de 1156, que é anno 1118, na qual
confirmam seu filho Payo Dias e sua filha
Aragonta Dias. Há nesta Freguesia
duas Torres com alguma renda, chama-se uma de Vilar,
outra a Torre somente, e de ambas são
senhores os Marquezes de Tenorio. A que está
defronte da Galiza é Solar
dos Marinhos, que se entende haver sido
do Dom Froyão, fidalgo Italiano, que veio a
este Reyno com o Conde Dom Mendo ajudar a expulsar
os Mouros dele. Entende-se que ele, ou algum filho fez
esta Torre, e Casa
solarenga de sua família, e não faz
contra isto o que diz o Conde Dom Pedro, e
outros Gallegos, que o segue, que os
Marinhos são naturais da
Galiza...”. A Torre da família dos Marinhos em Alvaredo era
muito antiga. Já existia no século XIII sendo que esta família
viveu nesta freguesia durante muitas gerações. Temos notícia que
João Forjaz Marinho (1210 – 1250) foi Senhor Domus Fortis da Torre
dos Marinhos. João Marinho terá nascido na Galiza e era Cavaleiro
do Reino e foi governador por ordem real nas Terras de Valadares.
Nas
Memórias Paroquiais de 1758, segundo o pároco António Rodrigues de
Morais, a freguesia de Alvaredo pertencia ao arcebispado de Braga,
comarca de Valença e termo de Valadares. Tinha 220 fogos inteiros e
meios fogos e 613 pessoas, entre ausentes, presentes e menores. A
igreja ficava no meio do lugar de São Martinho, tinha duas naves com
três arcos e os altares: o altar-mor, o de Nossa Senhora do Rosário,
o altar das Almas, o altar de santo António, o altar da capela da
Senhora da Expectação, o altar da capela de São Francisco e o
altar da capela de São Miguel. A paróquia tinha uma confraria das
Almas e o pároco era vigário anual apresentado pelo prior dos
mosteiros de Sanfins e São João de Longos Vales, da Companhia de
Jesus, como procurador do reitor do Colégio de Coimbra, e tinha de
ordenado anual 8$000 e com o pé de altar ficava tudo em 60$000, de
rendimentos certos e incertos.
Na
obra “Portugal Antigo e Moderno” do Professor Pinho Leal, de
1876, replicam-se algumas informações que constam no livro do Padre
Carvalho da Costa e acrescenta outras: “ALVAREDO, freguezia,
Minho, (...) 160 fogos. Orago é S. Martinho.
Arcebispado de Braga, distrito administrativo de Vianna. Chamava-se
antigamente de Paderne. Foi de uma senhora, que depois
de viúva se fez freira, chamada D. Onega Fernandes,
que deu a quarta parte da freguesia ao bispo de Tui
D. Afonso, em 13 de abril de 1118, o que confirmaram seus filhos Paio
Dias e Aragonta Dias. Foi depois da Universidade de
Coimbra. Há nesta freguesia duas torres,
uma chamada de Vilar e outra simplesmente Torre. Eram dos marquezes
de Tenório. A que está defronte da Galiza é solar dos Marinhos, e
diz-se ser de D. Froylão, fidalgo italiano que veio a
Portugal com o conde D. Mendo, a ajudar a expulsar os mouros, e fez
esta torre. É o progenitor do atual sr. Pereira, morgado da Torre da
Sobreira, em Pias, próximo a Monção.
Foi
curato do couto de S. Fins, apresentado pela universidade de Coimbra,
Há nesta freguesia a casa de
Carvalharim, da qual procedem as casas de S. Cibrão, a de Sende e a
de Aguiar dos Arcos.”
Alguns
anos mais tarde, no livro “Minho Pittoresco”, de 1886, as
referências a esta freguesia fazem-se numa viagem que o autor faz de
Melgaço em direção a Monção e de passagem por Paderne e Alvaredo
onde o que chama mais à atenção do autor é a beleza das cangas do
gado. O autor conta-nos que ”Deixando a histórica Paderne,
fica-nos à esquerda, próximo da linha da estrada, ALVAREDO,
chamada antigamente Alvaredo de Paderne e outrora curato do couto de
S. Fins, em Valença. Onega Fernandes doou a quarta parte d'esta
egreja ao bispo Afonso de Tuy, como já fizera com Prado.
A
capela de S. Braz fica perto da estrada, e além, aquela outra
ermida, que se vê junto do rio, e devotada a S. Bento e tem a sua
festasinha em Julho.
Notámos
em Alvaredo, como noutras freguesias limítrofes de Melgaço a
singeleza das cangas dos bois, e a sua pequenez; talvez tenhamos
ainda de referir-nos noutros pontos do nosso trabalho a estes
aparelhos de jugo, tão rendilhados quando se desce para o sul da
província,e que o nosso amigo e erudito investigador Leite de
Vasconcelos estudou já no seu livrinho intitulado Estudo etnográfico
a propósito da ornamentação dos jugos e cangas dos bois nas
províncias portuguesas do Douro e Minho.”
Fontes
consultadas:
-
CAPELA, José Viriato (2005) - As freguesias do Distrito de Viana do
Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758. Alto Minho: Memória,
História e Património Casa Museu de Monção/Universidade do Minho.
-
COSTA, Padre António Carvalho da (1706) - Corografia Portuguesa,
tomo I, Valentim da Costa Deslandes, Lisboa;
-
LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria
Editora de Mattos & Companhia, Lisboa;
-
VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria
de António Maria Pereira-Editor, Lisboa.
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