sexta-feira, 5 de abril de 2019

A freguesia de S. Martinho de Alvaredo (Melgaço) em tempos antigos




A primeira referência conhecida à igreja de São Martinho de Alvaredo remonta a 1118, ano em que Onega Fernandes fez doação à Sé de Tui da quarta parte da igreja de São Paio de Paderne, equivalente da igreja de São Martinho de Valadares e outro tanto da vila chamada de São Vicente e da sua igreja. No catálogo das igrejas situadas ao norte do rio Lima, que o rei D. Dinis mandou organizar, em 1320, para determinação da taxa a pagar, São Martinho de Alvaredo foi taxada em 60 libras. Enquadrava-se nessa época na Terra de Valadares.
No Censual de D. Frei Baltasar Limpo (1551-1581), que descreve a situação canónica dos benefícios eclesiásticos da comarca de Valença do Minho, diz-se que esta igreja era da apresentação de padroeiros, designadamente, de Pedro Gomes de Abreu.
Na obra do Padre Carvalho da Costa, publicada em 1706, diz-se de S. Martinho de Alvaredo que “em algum tempo se chamou de Paderne, é curato anual com título de Vigairaria do Morteiro de S. Fins dos Padres da Companhia de Jesus, com oito mil réis de ordenado, ao todo cincoenta mil reis, e para os Padres cento e vinte mil reis: tem cento sessenta vizinhos. Onega Fernandes senhora principal,sendo viúva, e tendo hábito de Religiosa deu a quarta parte desta Igreja a Dom Afonso, Bispo de Tui e àquela Sé em 15 de Abril da era de 1156, que é anno 1118, na qual confirmam seu filho Payo Dias e sua filha Aragonta Dias. Há nesta Freguesia duas Torres com alguma renda, chama-se uma de Vilar, outra a Torre somente, e de ambas são senhores os Marquezes de Tenorio. A que está defronte da Galiza é Solar dos Marinhos, que se entende haver sido do Dom Froyão, fidalgo Italiano, que veio a este Reyno com o Conde Dom Mendo ajudar a expulsar os Mouros dele. Entende-se que ele, ou algum filho fez esta Torre, e Casa solarenga de sua família, e não faz contra isto o que diz o Conde Dom Pedro, e outros Gallegos, que o segue, que os Marinhos são naturais da Galiza...”. A Torre da família dos Marinhos em Alvaredo era muito antiga. Já existia no século XIII sendo que esta família viveu nesta freguesia durante muitas gerações. Temos notícia que João Forjaz Marinho (1210 – 1250) foi Senhor Domus Fortis da Torre dos Marinhos. João Marinho terá nascido na Galiza e era Cavaleiro do Reino e foi governador por ordem real nas Terras de Valadares.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, segundo o pároco António Rodrigues de Morais, a freguesia de Alvaredo pertencia ao arcebispado de Braga, comarca de Valença e termo de Valadares. Tinha 220 fogos inteiros e meios fogos e 613 pessoas, entre ausentes, presentes e menores. A igreja ficava no meio do lugar de São Martinho, tinha duas naves com três arcos e os altares: o altar-mor, o de Nossa Senhora do Rosário, o altar das Almas, o altar de santo António, o altar da capela da Senhora da Expectação, o altar da capela de São Francisco e o altar da capela de São Miguel. A paróquia tinha uma confraria das Almas e o pároco era vigário anual apresentado pelo prior dos mosteiros de Sanfins e São João de Longos Vales, da Companhia de Jesus, como procurador do reitor do Colégio de Coimbra, e tinha de ordenado anual 8$000 e com o pé de altar ficava tudo em 60$000, de rendimentos certos e incertos.
Na obra “Portugal Antigo e Moderno” do Professor Pinho Leal, de 1876, replicam-se algumas informações que constam no livro do Padre Carvalho da Costa e acrescenta outras: “ALVAREDO, freguezia, Minho, (...) 160 fogos. Orago é S. Martinho. Arcebispado de Braga, distrito administrativo de Vianna. Chamava-se antigamente de Paderne. Foi de uma senhora, que depois de viúva se fez freira, chamada D. Onega Fernandes, que deu a quarta parte da freguesia ao bispo de Tui D. Afonso, em 13 de abril de 1118, o que confirmaram seus filhos Paio Dias e Aragonta Dias. Foi depois da Universidade de Coimbra. Há nesta freguesia duas torres, uma chamada de Vilar e outra simplesmente Torre. Eram dos marquezes de Tenório. A que está defronte da Galiza é solar dos Marinhos, e diz-se ser de D. Froylão, fidalgo italiano que veio a Portugal com o conde D. Mendo, a ajudar a expulsar os mouros, e fez esta torre. É o progenitor do atual sr. Pereira, morgado da Torre da Sobreira, em Pias, próximo a Monção.
Foi curato do couto de S. Fins, apresentado pela universidade de Coimbra, Há nesta freguesia a casa de Carvalharim, da qual procedem as casas de S. Cibrão, a de Sende e a de Aguiar dos Arcos.
Alguns anos mais tarde, no livro “Minho Pittoresco”, de 1886, as referências a esta freguesia fazem-se numa viagem que o autor faz de Melgaço em direção a Monção e de passagem por Paderne e Alvaredo onde o que chama mais à atenção do autor é a beleza das cangas do gado. O autor conta-nos que ”Deixando a histórica Paderne, fica-nos à esquerda, próximo da linha da estrada, ALVAREDO, chamada antigamente Alvaredo de Paderne e outrora curato do couto de S. Fins, em Valença. Onega Fernandes doou a quarta parte d'esta egreja ao bispo Afonso de Tuy, como já fizera com Prado.
A capela de S. Braz fica perto da estrada, e além, aquela outra ermida, que se vê junto do rio, e devotada a S. Bento e tem a sua festasinha em Julho.
Notámos em Alvaredo, como noutras freguesias limítrofes de Melgaço a singeleza das cangas dos bois, e a sua pequenez; talvez tenhamos ainda de referir-nos noutros pontos do nosso trabalho a estes aparelhos de jugo, tão rendilhados quando se desce para o sul da província,e que o nosso amigo e erudito investigador Leite de Vasconcelos estudou já no seu livrinho intitulado Estudo etnográfico a propósito da ornamentação dos jugos e cangas dos bois nas províncias portuguesas do Douro e Minho.



Fontes consultadas:
- CAPELA, José Viriato (2005) - As freguesias do Distrito de Viana do Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758. Alto Minho: Memória, História e Património Casa Museu de Monção/Universidade do Minho.
- COSTA, Padre António Carvalho da (1706) - Corografia Portuguesa, tomo I, Valentim da Costa Deslandes, Lisboa;
- LEAL, Augusto de Pinho (1875), Portugal Antigo e Moderno, Livraria Editora de Mattos & Companhia, Lisboa;
- VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, Tomo I, Livraria de António Maria Pereira-Editor, Lisboa.

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