Há
mais de um século, mais concretamente em 1917, o Jornal de Melgaço
trás-nos uma notícia que é uma bonita estória de solidariedade
para com o próximo. A questão envolve um pobre mendigo que se
encontrava tuberculoso, e que estava de passagem por Melgaço, e o
barqueiro de S. Marcos, no Peso. A notícia é-nos contada na edição
de 8 de Setembro de 1917: “Há dias apareceu por aqui [Melgaço]
um fulano da Beira que, depois de ter casado com uma mulher de Orense
resolveu emigrar para Buenos Aires; uma vez aí trabalhou e
economizou de tal maneira que em pouco tempo conseguiu juntar 550
pesos; até aqui bem foi; mas… depois, sente-se doente, vai
consultar um médico que lhe diz estar tuberculoso, e por isso tem de
recuar imediatamente; o infeliz retira, trazendo consigo o dinheiro
que só o acompanha até Lisboa, pois aí, com um pequeno descuido,
fica sem dinheiro, sem conhecimento algum e sem roupa, além da que
traz vestida. Como viajar nestas condições? Aí vem o desgraçado a
pé desde Lisboa, mendigando uma esmola de porta em porta. E sabem o
que o traz a Melgaço? A recordação de que em tempos mais felizes
por aqui andou ele a trabalhar, e por isso encontraria por cá alguns
dos seus amigos daquele tempo. Infeliz! Doente, e com fome talvez,
ninguém o conhece! Dirige-se ao rio Minho para o passar a nado, mas
vê que se encontra sem forças e nessas condições tal tentativa
equivaleria ao suicídio. Em vista disso, aproxima-se do barqueiro e
diz-lhe que desejava transitar para Espanha, mas que não tinha
dinheiro para lhe pagar. Em virtude duma declaração tão franca, o
barqueiro mandou-o entrar para a barca e não só o conduz
gratuitamente à outra margem, como ainda na estação de Arbo
promove uma subscrição que excede a importância do bilhete que no
caminho de ferro lhe dá passagem até Orense; aliás, teria de fazer
esse trajecto a pé e mendigando como de Lisboa a Melgaço. Quereis,
leitores, que o nome desse barqueiro figure na lista dos benfeitores
que vós conheceis? É o barqueiro do posto de S. Marcos, e chama-se
Ponciano Ferreira.”
Notícia
em:
-
Jornal de Melgaço, edição de 8 de Setembro de 1917.
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