sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A Crise nas Águas de Melgaço e a sua relação com Mondariz (1955)

 


As Águas de Melgaço e as de Mondariz encontram-se separadas por algumas dezenas de quilómetros e foram desde finais do século XIX destino para muitos aquistas. Há pouco mais de meio século, dizia-se que as termas de Melgaço tinham entrado em crise. Dizia-se que a culpa era das Águas de Mondariz, na vizinha Galiza, que acolhia muitos aquistas que tinham deixado de vir para Melgaço. No Jornal “Estrella do Minho”, na sua edição de 17 de Setembro de 1955, encontramos um curioso artigo que explica as razões da crise: As termas de Melgaço e a sua crise 

Se há termas que pela sua excelência hídrica merecem especial atenção, as de Peso (Melgaço) estão entre elas. No vasto panorama da terapêutica hidrológica do nosso país, pode dizer-se que as Águas de Melgaço são as únicas no tratamento da diabetes, embora a fonte nº 2 seja extraordinária no tratamento de doenças do aparelho digestivo. Pois bem, o Peso que possui três hotéis de razoável lotação, e algumas pensões, encontra-se em crise de há três anos a esta parte. Motivos? Os proprietários dos hotéis afirmam todos a um - a fronteira! 

A população aquista do Peso era normalmente constituída por gente do Centro e Norte do país. No último triénio, porém - tal como acontece às crises migratórias da sardinha – os diabéticos fugiram para Mondariz onde não nos consta que alguém haja recolhido resultados melhores do que os benefícios dados pelas águas do Peso - Melgaço. 

Razões justificativas? Há pelo menos duas, mas não se poderá afirmar concretamente qual delas detenha a pertinência - talvez as duas, é possível que nenhuma. 

Médicos portugueses teriam subestimado, a partir de certa altura, o valor das águas de Melgaço em favor das de Mondariz (também há muitos portugueses endinheirados que a conselho médico vão para Vichy e Baden-Baden e não nos consta que hajam deixado de ser mortais; em segundo lugar ser mais barata a hospedagem em Espanha pelos favores ou desfavores do câmbio. 

Ao fim e ao cabo, os três hotéis de Melgaço acusam menos gente e é desolador ver parque tão frondoso e margens do Minho tão belas, despovoadas de veraneantes. 

As termas de Melgaço trazem assim ao turismo português mais um problema a resolver. Há porém que fazer uma chamada ao nosso patriotismo – sobretudo ao patriotismo dos diabéticos portugueses – que não deve ser posto à prova apenas quando se invoca a distante Índia Portuguesa. Não devemos, por outro lado, desgovernar – sem outro proveito ou qualquer glória - a nossa casa para governo da casa alheia, por maior que seja o respeito e amizade que votemos aos amigos. 

17 – 09 – 1955 

Texto de A. Peres Rodrigues. 



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