Cevide (Melgaço) (Foto de Carlos Almeida) |
No início da década de trinta do século
passado, o mundo vivia uma das mais graves crises económicas da História. Em
Portugal, a situação é particularmente grave devido à sua crónica crise da sua débil
economia que já se arrastava desde meados do século XIX. Em Melgaço, o panorama
não fugia à regra e o sustento das suas gentes era assegurado por aquilo que a
terra dava. Contudo, em concelhos de fronteira como este, o contrabando, a emigração
ilegal, entre outras atividades ilícitas complementavam o rendimento das
famílias.
Em Março de 1931, os jornais falam-nos de uma
rede organizada que atuava em Melgaço e noutros concelhos da região. O grupo auxiliava
emigração ilegal, praticava contrabando e falsificava moeda estrangeira.
De facto, na imprensa falava-se que já havia
muito tempo que na região se vinham notando manobras suspeitas de um grupo de
indivíduos, que se dedicavam a negócios pouco claros, entre os quais se
destacavam a sua atividade na emigração clandestina. Havia um homem, que tinha
sido preso havia muito pouco tempo chamado António, morador na localidade galega de
Orden, a quem se conhecia pela alcunha de “Doctor Judice”, do qual se falava
como sendo um falsificador, que fazia parte deste grupo.
Outro dos que pertencia a este bando era um
sujeito chamado António, morador na localidade galega de Mañufe, que esteve
envolvido na falsificação de papel timbrado e selos brancos do Consulado dos
Estados Unidos da América, na cidade do Porto.
Também pertenciam a esse grupo outro dois
moradores em Pias, no concelho de Monção, além de um homem chamado Manuel
Guerreiro, conhecido como o Nelo de Cevide, residente no citado lugar da
freguesia de Cristoval, concelho de Melgaço. Além deste, e para fechar o grupo,
falta referir um sujeito conhecido como o Brito, morador em Friestas e outros
não citados nas ditas notícias.
Falava-se que estes sujeitos levantavam
muitas suspeitas já que costumavam aparecer na feira de Monção, gastando
dinheiro em grande quantidade, oferendo almoços e copos aos amigos que
encontrassem, sem olhar a despesas.
Na época, dizia-se que o auxílio à emigração
clandestina já não dava grande lucro a estas redes. Por isso, este grupo lançou-se
na atividade de falsificação de moeda. O tal Brito de Friestas terá sido
responsável por pôr a circular em Valença notas de cem mil réis brasileiros em
Valença. Esta operações eram praticadas em coordenação com o resto do grupo,
realizando várias viagens a Vigo e chegando a levantar suspeitas às autoridades. As forças policiais portuguesas e espanholas já estariam muito atentas às movimentações
do grupo com vista a desmantelá-lo. Isso é confirmado pela busca que tinha sido
feita, pela Guarda Nacional Republicana, no lugar de Cevide (Cristóval -
Melgaço) à casa de Manuel Guerreiro, o Nelo de Cevide, com ordens para o
prender. Contudo, nesse dia o Nelo tinha ido à feira à vila dos Arcos de
Valdevez. Todavia, alguém conseguiu avisar o Nelo de Cevide do sucedido já que o mesmo não
regressou a casa e andou escondido durante uns dias, temendo pela sua preciosa
liberdade. Parece que não terão encontrado nem sinal do dinheiro falso em sua
casa em Cevide e então as autoridades viraram as sua atenções para Paredes de
Coura, onde o sujeito espanhol conhecido como o “Doutor Judice” tinha uma casa,
pertinho do rio.
Contudo, no dia 16 de Março de 1931, o Manuel
Guerreiro, o Nelo de Cevide, entrega-se às autoridades em Melgaço e terá
confessado os crimes de tráfico de notas falsas e terá implicado os outros
membros do bando. Havia também rumores que um sujeito conhecido como o Manolo
de Pias (Monção) estaria em vias de se entregar às autoridades espanholas.
A rede seria totalmente desmantelada pouco
tempo depois.
Informações extraídas de:
- Jornal "El Pueblo Gallego", edição de 17 de Março de 1931.
Página com a notícia citada (clique para ampliar) |
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