O
Mosteiro da Batalha foi mandado construir pelo rei D. João I em
1386, em cumprimento de uma promessa pela vitória na Batalha de
Aljubarrota em 1385 e que garantiu a preservação da independência
lusitana. Todavia,
a História do Mosteiro da Batalha ficará para sempre ligada a
Melgaço. Porquê?
Em
inícios de 1388, a Praça de Melgaço era a única que permanecia
nas mãos dos castelhanos pelo que o rei a mandou cercar durante 53
dias até que caiu em mãos lusas em Março do mesmo ano. Foi o
próprio rei que veio comandar o seu cerco. Em Melgaço,
encontrava-se, entre outros, Frei Lourenço
Lampreia, que era confessor do rei e
frade dominicano. Enquanto decorria a construção do Mosteiro da
Batalha, em terras melgacenses o
monarca luso deixou
assente que iria entregar o dito mosteiro à Ordem de S. Domingos e o
Frei Lourenço
Lampreia viria a ser o primeiro Prior do Mosteiro da Batalha. Tudo
isso é-nos contado no livro “Primeira Parte da História de S.
Domingos”, publicado
em 1866: “E
foi assim, que já havia três annos que a obra do Mosteiro corria,
quando estando de cerco sobre o Castello de Melgaço, assentou de o
dar à Ordem de São Domingos, segundo o achamos declarado no
testamento, que muitos annos depois fez em huma verba, que diz assim:
“Porque
nós prometemos no dia da batalha que houvemos com el-Rei de
Castella, de que Nosso Senhor Deus nos deu vitoria, de mandarmos
fazer à honra de Nossa Senhora Santa Maria, cuja véspera então
era, á cerca donde ella foi, hum Mosteiro: o qual depois que foi
começado, nos requereu o Doutor João das Regas do nosso Conselho, e
Frei Lourenço Lamprea, nosso Confessor, estando nós em cerco de
Melgaço, que ordenássemos que fosse da Ordem de S. Domingos. E nós
duvidamos de o fazer, porque assim foi nosso prometimento de se fazer
à honra da dita Senhora Nossa Santa Maria. E responderão-nos que a
dita Ordem especial era muito da dita Senhora, declarando-nos as
razões porque: as quais vistas por nós, acordamos, e prove-nos de
ordenar o dito Mosteiro que fosse da dita Ordem
etc.”
Logo
que a
praça de Melgaço voltou para as mãos dos portugueses, o
rei e o seu
séquito abandonam terras melgacenses e
seguiram
até ao Porto onde parou,
e nela mandou passar carta de doação à Ordem cujo traslado
tirado do próprio que se guarda no Cartório do Convento, onde
se pode ler
o seguinte:
“Dom
João pela graça de Deus, Rei de Portugal, e do Algarve. A quantos
está carta virem fazemos saber, que por honra da Virgem Maria, nossa
defensora, e d’estes Reinos, considerando as muitas estremadas
graças, que do seu bento Filho a rogo d'ella sempre recebemos, assim
em guarda de nosso corpo, como exalçamento dos ditos Reinos em as
guerras e mesteres em que somos postos, especialmente na batalha e
campo que houvemos com os Castellãos, dando-nos deles vitória
maravilhosa, mais por sua misericórdia, que polos nossos
merecimentos, propozemos em renembrança dos benefícios por ella
recebidos de edificar, e mandar fazer casa de oração, em a qual à
honra, e louvor da dita Senhora se faça serviço a Deus. A qual de
feito já mandamos começar apar da Canoeira. E porque segundo Deus,
e verdade os Fraires Pregadores da Ordem de S, Domingos som mui
devotos em ella, assim por as suas obras, como polo hábito que de
suas mãos receberão, são outro si merecedores de todo bem, e mais,
que a Nosso Senhor, e a dita Senhora, sua Madre servem em cada hum
dia, e saberão servir ao diante rogando a elles por nós, e polos
susoditos Reinos. Porende nós suzodito Rei a honra e louvor dos
suzuditos Senhores de nosso próprio movimento, livre vontade, e por
cumprir outro si aquillo que pressuposto haviamos, damos, doamos, e
dedicamos à Ordem de S. Domingos o nosso Mosteiro de Santa Maria da
Vitoria, que nós ora mandamos fazer a par do dito logo da Canoeira,
termo de Leiria, à honra da dita Senhora com todos seus direitos e
pertenças. E rogamos aos Frades da dita Ordem, áquelles, a que de
direito he
cometida a administração d'ella, especialmente a Frei Lourenço,
nosso Confessar, que tome o encarrego e posse da dita casa, e
Mosteiro por esta nossa carta: a qual queremos e outorgamos que seja
firme e valedoura
para
todo sempre. E mandamos outro si, e rogamos a todos nossos filhos,
nossos ereos,
e sucessores que hajam
o dito Mosteiro encomendado, e o acrescentem
sempre de bem em melhor, e defendam
em
os privilégios e liberdades, que lhe per nós, e per as Padres
Santos forem dados: em quanto seu poder abranger, e ao dito Mosteiro
for necessário e compridouro,
sob pena da nossa benção. E pera
esto outro si haver mais pronta e comprida executação,
rogamos, e mandamos ao Doutor João das Regas do nosso Conselho, que
perante nos e suzoditos sucessores seja prometor
e requeredor
de todo o bem, prol, e honra do dito Mosteiro e
Frayres d'elle. E em testemunho d'esto lhe mandamos dar esta carta
assinada por nossa mão. Dada na cidade do Porto quatro dias de
Abril. El Rei o mandou.
Álvaro Gonçalvez a fez. Era de MCCCCXXVI annos.
Rei.
(Corresponde
ao
ano do Senhor de
1388).
Fonte consultada: SOUSA, Frei Luís de (1866) - Primeira Parte da História de S. Domingos.
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