Poucas pessoas conhecem a existência de um pelourinho, em tempos recuados, na vila de Melgaço, apenas sendo do conhecimento geral o de Castro Laboreiro, no nosso concelho.
Desconhecemos a época da sua construção e não conhecemos, com precisão, a altura em que o mesmo desapareceu. Apenas sabemos que já existia em início do século XVIII e que ainda se conservava por volta de 1833, ano em que nos aparece a última referência documental conhecida.
Embora nenhuma descrição deste monumento tenha chegado ao conhecimento dos melgacenses de hoje, a existência do mesmo está provada por referências feitas ao mesmo em vários documentos. Em várias plantas da vila de Melgaço do século XVIII (1700, 1713 e 1765), encontramos representado aquilo que nos parece ser o pelourinho, embora não apareça legendado e o desenho não nos permita conclusões inequívocas. A possível representação do pelourinho situam-no no espaço da atual Travessa da Cadeia Velha, imediatamente a nascente do antigo edifício da Câmara Municipal, cadeia, entre outras utilizações, e hoje, Solar do Alvarinho.
Todavia, também encontramos provas da existência do pelourinho noutros documentos tal como uma escritura de 1718 que é uma das provas mais antigas de que dispomos da sua existência. A mesma tem o título “Aforamento da Caza sita ao pelourinho da villa” começa nos seguintes termos: “Foro de emprazamento que fez Manuel Pereira e sua mulher Ignácia da Gama desta villa da casa cita ao pelourinho. Saibam quoantos este público instromento de prazo e aforamento ou como em direito mais valha e haja lugar e dezer se posa virem que no ano do nacimento de nosso Senhor Jesus Christo de mil e setecentos e dezoito annos, aos catorze dias do mez de junho do dito anno nesta villa de Melgaço e cazas da câmara…”
Entretanto, podemos também socorrer-nos do traslado de um edital elaborado em três de Julho de 1824, do qual se redigiu o termo de afixação que diz o seguinte: “Termo de Efixação: Aos cinco dias do mês e Julho de mil oito centos vinte e quatro annos nesta villa de Melgaço e Praça pública della ahi adonde eu Escrivão vim com o Porteiro do Juízo João Rodrigues e por elle foi publicado em alta e entelegível vox o edetal retro copiado e depois foi por elle efixado no pelourinho desta villa e de como o efixou e publicou deu fé e asignou e Eu Thomaz Joze Gomes de Abreu e escrevi.” Este documento prova a existência do pelourinho em Melgaço já depois da instauração do liberalismo em Portugal.
Note-se que nesta altura da revolução liberal, a seguir a 1820, muitos monumentos símbolos de poder no Antigo Regime desapareceram por ação dos partidários do liberalismo. Em Melgaço, o pelourinho parece ter sobrevivido aos primeiros anos do nove regime político. Ainda vamos encontrar algumas alusões ao mesmo em fins da década de vinte deste século. De facto, se consultarmos os cadernos paroquiais da freguesia, encontramos um assento de óbito de um tal João Manuel Rodrigues, falecido em 1828, onde se pode ler: “Aos treze dia do mês de Junho do anno de 1828, faleceu da vida prezente com todos os sacramentos que lhe ministramos João Manoel Rodrigues çapateiro, cazado que era com Antónia Pires, por alcunha Bernes e morador que foi intramuros, abaixo do Pelourinho…” Isto quer dizer que morava na atual Travessa da Cadeia, abaixo desse largo onde estaria o pelourinho.
As últimas referências ao pelourinho da vila de Melgaço surgem em dois assentos nos livros paroquiais. Num assento de óbito de 1829, podemos ler: “Aos treze dias do mês de Agosto do anno de mil oito centos e vinte e nove falleceo da vida prezente só com o sacramento da Extrema Unção Roza Morcega solteira moradora abaixo do Pelourinho…” O critério para indicar a residência da defunta toma o pelourinho como referência para a localização. Note-se que a identificação das ruas que ficavam dentro de muros, apenas as principais artérias tinham nomes que eram utilizados tais como a Rua Direita, Rua de Baixo, Rua da Misericórdia ou Rua do Espírito Santo.
A última menção ao pelourinho nos assentos paroquiais data de 1833. No assento de batismo de uma tal Maria Joaquina, nascida naquele ano, podemos ler: “Aos sette dias do mez de Junho do anno de mil oitocentos trinta e três, baptizei solemnemente e pus os santos óleos a Maria Joaquina que naceu aos cinco dias do ditto mez e anno, filha legítima de José Thomaz de Souza e Maria Gertrudes Gonçalves, moradores intramuros desta villa, netta paterna de Francisca Dias moradora abaixo do pelourinho…” Daqui para a frente, apenas temos silêncio na documentação em relação ao pelourinho. Nada mais sabemos acerca do que lhe aconteceu e de quando é que foi desmontado mas isso aconteceu em data posterior a este assento.
É curioso que ESTEVES (1952) encontrou um documento já do último quartel do século XIX onde se refere que “…a Praça do Pelourinho vem apontada a nascente dos velhos Paços do Concelho numa escritura de compra e venda feita em 28 de Abril de 1878, cujo extrato se pode ler no livro G1 da Conservatória do Registo Predial”. Nessa época, seguramente o pelourinho já não existia mas aquele largo a Este do edifício e onde se inicia a Travessa da Cadeia ainda era assinalado como o espaço onde tinha estado aquele monumento, referindo-o como a “Praça do Pelourinho”. Esta é a última alusão ao velho pelourinho da vila de Melgaço.
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