Rio Laboreiro, que define a linha de fronteira nesta região
Estamos perante uma das fronteiras mais
velhas da Europa (senão a mais antiga) e o início da numeração fronteiriça da raia
seca hispano – portuguesa (do marco 1 ao 53). Por causa desta localização,
Castro laboreiro, teve no seu território, no século XX, durante o Estado Novo,
até ao 25 de Abril, três postos (quartéis) pertencentes à corporação da
Guarda-fiscal: Vila, Ameixoeira e Portelinha (os dois últimos construídos na
década de 20 e 30).
No lugar da Alcobaça (marco da raia nº 1),
freguesia de Lamas de Mouro, estava situado o quarto posto, que ajudava a criar
um cordão asfixiante de vigilância e controle das rotas do contrabando vindo da
Serra do Laboreiro. Mesmo assim, o contrabando era diário, de dia e de noite,
galegos e portugueses e as suas bestas atravessavam diariamente a fronteira que
pontilha a Serra do Laboreiro, a contrabandear.
Do lado espanhol, os Carabineiros, tinham
funções similares, percorrendo o basto espaço de planalto, na procura do
contrabando e dos seus transportadores, que podiam ser homens ou mulheres, de
tenra idade ou mesmo já na casa dos setenta anos.
O contrabando, enquanto actividade condenada
pelos poderes instituídos, é um fenómeno
de séculos. Tem a idade das fronteiras administrativas e politicas, e foi desde
as suas origens um elemento importante na economia destes povos vizinhos. Melhorou
sempre as suas condições de vida e criou laços de amizade, familiares (casamentos)
e de cumplicidade em ambos os lados da fronteira. A cumplicidade do
contrabando, o pastoreio nos montes vizinhos e as romarias foram sempre motivos
de aproximação entre famílias de ambos os lados da raia.
Neste importante “comércio de fronteira”,
passaram durante séculos todo o tipo de produtos: gado, sal, carvão, milho,
centeio, azeite, bacalhau, castanhas, feijões, pimentão, batatas, metal,
vestuário, calçado, pedras de isqueiros, vidros, peles, suínos, louças,
utensílios agrícolas, café, farinha, pólvora, minério (volfrâmio), ouro,
cozinhas de ferro, máquinas de costura, máquinas de café, electrodomésticos
variados, dinheiro, bananas, maças, ananases, amendoins, amêndoas, bocados de
cobre e muitos outros produtos de maior ou menor valor. A época, o preço ou a
escassez de um produto, de um dos lados da raia, geravam contrabando.
Para as populações locais o contrabando nada
tinha de ilícito, era simplesmente um modo de vida que ajudava na difícil sobrevivência
destas paragens. o medo de ser apanhado e de perder a carga, os pesos
exagerados e as distâncias, exigiam ousadia, coragem e sofrimento."
Texto extraído de:
- DOMINGUES, José & RODRIGUES, Américo (2009) - Contrabando pela raia seca do Laboreiro, NEPML in: Boletim Cultural de Melgaço, Câmara Municipal de Melgaço.
Nota: O marco que se encontra em Cevide é o marco nº 1 colocado na sequência do Tratado de Limites de 1864 entre Portugal e Espanha. Na fronteira do Trancoso e do Laboreiro, existe mais do que uma série de marcos, geralmente bastante mais antigos do que o de Cevide. Em Castro Laboreiro, há marcos que se podem identificar e que já são citados em documentação da Idade Média (século XIII, salvo erro). Este marco, gravado como nº 1 que é citado no texto, não se encontra longe da nascente do rio Trancoso e pertence a uma série de marcos muito mais antiga e que apenas marca a raia seca (não havia marcos a norte deste ao longo do Trancoso) e que se prolongava até Castro Laboreiro.
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