No último quarto do século XIX, diz-se do mosteiro de Fiães (Melgaço): "Este mosteiro está situado a 3 Km’s a Este da vila de
Melgaço, na chapada de um monte alpestre, mas cercado por montes ainda mais altos
e alcantilados.
São vastas as suas proporções e imponente a sua majestosa
aparência, a dominar um vasto horizonte. Confrange-se o coração ao contemplar estas
gigantescas ruínas, testemunhas melancólicas e severas da piedade de nossos avós.
Ali, onde o incenso se elevava dia e noite em perene adoração ao Omnipotente. Onde
a toda a hora se ouvia o plangente som do órgão, os cantos sagrados dos religiosos
e do povo: ali, refúgio predilecto dos que no mundo sofriam atribulações; ali, finalmente,
a Casa de Deus, em que a piedade tinha amontoado prodígios sobre prodígios de magnificência,
de fé e de caridade — que vemos hoje? Ruínas, devastação, silêncio, horror! As silvas
e os cardos invadem os mármores de suas aras santas. Os répteis imundos revolvem
as ossadas venerandas de varões ilustres. As aves noturnas pairam sobre suas
abobadas, e fazem seus ninhos sobre os brincados capitéis de suas colunas, dez vezes
seculares.
Quem foi, ó solitário e respeitável mosteiro, que assim
desmantelou tuas robustíssimas muralhas, que pareciam desafiar a acção corrosiva
de séculos de séculos? Quem destruiu teus sagrados altares? Quem aniquilou tuas
esculturas primorosas? Quem desterrou tuas santas imagens? Quem cora tal iniquidade
te transformou de um primor d'arte, em um montão de destroços e ruínas?
Não foi a tua vetustez; não foi o incêndio, não foi um
inimigo estrangeiro, sanguinário e implacável mas foi coisa pior do que tudo isso.
Foi a indiferença, o abandono e a descrença!
Leitor, se tens um coração português, se a luz divina
da fé se não apagou totalmente em tua alma, se respeitas a memória de teus passados
— dos que te deram uma pátria, um lar, uma família, e se algum dia viajares
pelo Alto Minho, não deixes de visitar as tristes e poéticas ruínas do convento
de Fiães.
Ali, qualquer um contempla, respeitoso, estes restos venerandos
da fé e piedade de nossos maiores, e chora sobre as ruínas deste testemunho de suas
crenças inabaláveis.
Milhares de pessoas, de todos os sexos e idades, portugueses
e galegos, aqui concorrem no dia 11 de Julho, consagrado á solenidade do patriarca
S. Bento, formando-se então aqui um pitoresco arraial.
Já disse que o edifício está construído em uma vasta
chapada, ficando no centro dela, e tendo em frente um extenso terreiro assombrado
por frondosos carvalhos, dispostos simetricamente em linhas rectas, e formando uma
ampla abobada impenetrável aos raios do sol do estio.
O templo ainda se conserva em sofrível estado, e podendo
celebrar-se o culto divino. É de arquitetura gótica, vasto, e seu tecto sustentado
por formosas arcarias.
A entrada principal é ornada de muitas colunatas da mesma
ordem arquitectónica, que, revelando uma remota antiguidade, mostram a largura
robustíssima das paredes do templo. Dentro dele, junto ao altar de S. Sebastião,
está um elegante túmulo de granito, que se supõe ser o de Fernão Annes de Lima,
por ter as armas dos viscondes de Vila Nova da Cerveira (Limas).
O interior da igreja é escuro e triste, como são quase
todos os templos góticos. As cornijas e cimalhas são ornadas de diferentes figuras,
mais ou menos fantásticas.
A Oeste do adro, rebenta um manancial de água mineral
ferruginosa, a que se atribui algumas virtudes medicinais. Consta que houve aqui
uns tanques para banhos, mandados entupir por ordem da autoridade por causa das
desordens, ferimentos e até mortes, de que eram causa, por quererem todos
banhar-se ao mesmo tempo.
Num recanto da larga rua que do lado de Melgaço dá entrada
para o rocio do mosteiro, há uma meia laranja, com assentos de pedra, orlados de
murta, e no meio um chafariz de frigidíssima e óptima água. Ainda há poucos anos
as paredes do mosteiro estavam de pé. Foi o edifício posto em praça. Mas como a
ninguém fazia conta tão gigantesca fábrica, naquele sítio, o governo mandou vender
a qualquer preço, em detalhe, a pedra das paredes, colunas, arcarias, telhados,
portas, janelas, varandas, grades de ferro, etc."
Extraído de:
- PINHO LEAL, Augusto Soares A. B. (1874) - Portugal Antigo e Moderno (Volume III). Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, Lisboa.
REDONDAMENTE MENTIRA!!
ResponderEliminarO convento de FIAES, e escreve que é dessa terra, é LIMPO, ASSEADO, RENOVADO e com VARIAS ZELADORAS!!
TENHAM VERGONHA DE ESCREVER MENTIRAS
O texto não se refere à atualidade.
EliminarRefere-se a finais do século XIX, por volta de 1875. Hoje em dia, o que resta do convento (a igreja) está muito bem tratado!