S. Martinho de Cristóval é uma paróquia muito antiga do
concelho de Melgaço. Na lista das igrejas situadas no território de Entre Lima
e Minho, elaborada por ocasião das inquirições de D. Afonso III, em 1258, São
Martinho de Cristóval é citada como uma das igrejas subordinadas ao bispado de
Tui.
Em 1444, o rei D. João I conseguiu do Papa que este
território fosse desmembrado do bispado de Tui, passando a pertencer ao bispado
de Ceuta, onde se manteve até 1512. Neste ano, o arcebispo de Braga, D. Diogo
de Sousa, deu a D. Henrique, bispo de Ceuta, a comarca eclesiástica de
Olivença, recebendo em troca a de Valença do Minho. Em 1513, o Papa Leão X
aprovou a permuta.
No registo da avaliação dos benefícios da comarca eclesiástica de Valença do Minho, feito em 1546, São Martinho de Cristóval situava-se na Terra da vila de Melgaço.
No registo da avaliação dos benefícios da comarca eclesiástica de Valença do Minho, feito em 1546, São Martinho de Cristóval situava-se na Terra da vila de Melgaço.
Na cópia de 1580 do Censual de D. Frei Baltasar Limpo
sobre a situação canónica destes benefícios, São Martinho de Cristóval figura
na Terra de Melgaço, como sendo da colação do arcebispo.
Para conhecermos esta paróquia, em meados do século
XVIII, podemos recorrer às memórias paroquiais de 1758 que nos dão bastantes
pistas para compreendermos a realidade da terra. Segundo o Pároco da época, o Abade Duarte
Cerqueira Araújo, a paróquia de S.
Martinho de Cristóval, fica situada “nos
confins da província do Minho, Reino de
Portugal (…) partindo com a Galiza por duas partes como se por todo o andar do
Nascente para o Norte e do Norte para o Poente (…), deste “Arcebispado de
Braga”.
O abade diz-nos que em Cristóval havia, em
1758, cento e oitenta fogos, ou seja, casas de família, sendo que é referido
pelo pároco que 583 fregueses são “mayores
de ambos os sacramentos”, enquanto que os “menores são quarenta e sete”. A expressão “mayores de ambos os sacramentos”
refere-se à idade em que as crianças praticam pela primeira vez a confissão e
recebem a primeira comunhão que nesta época seria, por norma, aos 7 anos.
O pároco indica-nos o número de fogos por lugar nesta
paróquia. Apesar da sua escrita algo maçuda, escreve com bastante pormenor em
termos da quantidade de informações que nos deixou. Assim, na época, a paróquia
era composta pelos seguintes lugares de “Cebide,
de três moradores, um deles principal a que pertence a sua antiga capela que
tem no mesmo lugar que é de Santo António, e dali seguindo as vertentes desta
freguesia para o dito regato tem mais o lugar de Sam Gregório com uma capela antiga do mesmo
santo e com vinte vizinhos (fogos), por onde é a estrada deste Reino de
Portugal para a Galiza passando-se o regato por uma ponte de táboa que chamam a
Ponte das Varges. Tem depois o lugar do Cotto com cinco vizinhos e depois o
lugar da Calçada com três, depois o lugar da Aldeia de Soutello com quatro,
depois o lugar da Aldeia do Soutto com quatro, depois o lugar de Ramo com sete
vizinhos, depois o lugar da Soalheira com três, depois o lugar de Subcastello,
com cinco, depois o lugar de Doma com dez moradores ou vizinhos, depois o lugar
de Carvão com seis, depois o lugar da Igreja, junto à residência do Pároco, mas
logo perto e quasi junto o lugar da Porta com doze vizinhos, depois o lugar de
Regueiro com dois, depois o lugar da
Mouriga com seis, depois o lugar do Ranhado com seis, depois o lugar do
Sobreiro com doze, depois o lugar de Carreira com dois, depois o lugar da Marga
com dez vizinhos, depois a Fonte de Cabo com dois, depois o lugar de Pouzada
com seis, depois Campo do Soutto com sette, depois o lugar do Pico com sette
vizinhos, depois abaixo na Sobreira um morador e outro na Esquipa mais adiante
e depois o lugar dos Cazais já junto do Minho, outra ametade que são nove
moradores desta freguesia de Cristóval em cujo direito há um barco no rio Minho
para a Galiza. Depois deste lugar dos Cazais vai esta freguesia de Cristóval
por junto do Minho até ao primeiro lugar que fica advertido que chamam
Cevide.”
O pároco refere-se igualmente às caraterísticas da igreja
e acrescenta que a “igreja desta
freguesia tem por orago S. Martinho, Bispo de Turão (Tours) e além do altar
principal da Capela Mor em que está o Sancto do Evangelho e da outra parte o
Santo Antão com o Sacrário do Santíssimo; no meio tem somente mais dois altares
no corpo da igreja encostados à parede de arco cruzeiro dela. Os altares são o
da parte do Evangelho é de Nossa Senhora da Apresentação e o da outra parte de
S. Sebastião, e não tem naves a igreja por pequena nem tem irmandades mais do
que a Confraria das Almas.”
Como praticamente todo o país, também S. Martinho de
Cristóval vivia sobretudo da agricultura em meados do século XVIII. O abade
refere que “o principal fruto desta
frequesia é o milhão e tem já bastante vinho mas inferior de latada e algumas
vinhas. Também tem bastante castanha, centeio e trigo mas pouco. Tem linho
bastante, algum miúdo e painço muito pouco; tem duas ortas de ortaliça e alguma
fruta.”
Apesar de pouco caudaloso, o rio Trancoso é importante
para as gentes de Cristóval, tanto para a rega como para a moagem. Assim, o
pároco deixa algumas referências nesse sentido: “Pelo andar do Nascente para o Norte entre esta freguesia e o o Reino
da Galiza corre o regato ou pequeno rio chamado Troncoso que é muito
precipitado com vários moinhos de pão
uns abaixo dos outros e uns da parte desta freguesia e outros da parte
do Reino da Galiza, e tanto para a Galiza como para esta freguesia se tiram
deste levadas para regar as terras, que são três as desta freguesias, uma mais
acima, outra mais abaixo e outra ainda mais abaixo. Deverão ser muito poucas as
suas ágoas que apenas chegam para moer um moinho em cada açude, em que
ordinariamente costuma haver dois para poderem moer de Inverno.”
O abade de Cristóval deixou-nos igualmente menção às
espécies de peixe que na época povoavam as águas do rio Minho e se apanhavam
nestes sítios. Assim, é mencionado que a paróquia tem “muitas pesqueiras de caçar peixes que no direito desta freguesia (…) e
o peixe que se costuma dar que é ordinariamente em Abril, Maio e Junho e mais
ou menos conforme os anos são salmões, lampreias, sáveis, também por todo o
tempo dá algum peixe miúdo como são trutas, mariscos, vogas e escalos e algumas
enguias. As pescarias são livres pelo rio enquanto as pesqueiras são de
herdeiros.”
Excelente!
ResponderEliminar