Foi
no último quarto do século XIX que foram descobertas as
propriedades curativas das Águas de Melgaço. Logo em
1884, ano da descoberta das
águas, houve um requerimento pedindo o aproveitamento e
exploração das “águas
alcalino-gasosas”, sendo em 1885 o início do processo
de engarrafamento. Tal
é feito, numa primeira fase,
numa casinha
de madeira, construída para abrigo e comodidade dos aquistas na
nascente. A
partir de 1888, esta água, já conhecida por tratar doenças do foro
digestivo e a diabetes,
passou a ser engarrafada no
próprio local
e exportada em garrafa para vários pontos de Portugal e do mundo,
nomeadamente para Espanha,
as antigas
colónias
portuguesas e o Brasil. Podemos
comprovar que no
jornal galego, “Crónica de Pontevedra”, na sua edição de 31 de
Agosto de 1888, onde
se lê
que as Águas de Melgaço eram engarrafadas
e vendidas
em várias farmácias ou drogarias galegas em Baiona, Vigo ou
Gondomar. O engarrafamento era realizado pelo farmacêutico Domingos
Ferreira de Araújo, proprietário da farmácia “Ferreira de
Araújo”, que ficava na vila de Melgaço. Ele próprio as
certificava e garantia a sua qualidade. Podemos ver tal informação
neste recorte do jornal:
“De
utilidad
Aguas
ferruginosas-alcalino-litiníferas de Melgazo, Alto Minho (Portugal).
Segun el análisis de estas aguas, reconocido por el Doctor D.
Antonio Casares, distinguido quimico de Santiago, se vé claramente
que son muy útiles en las dispepsias y otros padecimentos del
estomago, en las afecciones del higado, vegiga, etc., sustituyendo
por esto com ventaja á las de Mondariz.
Se
venden embotelladas recientemente por el farmaceutico de Melgazo D.
Domingos Ferreira de Araujo, en las farmacias de los Srés.
Espinosa, en Gondomar, y del Rio Gimenez, en Bayona, y en la
Drogueria de los Sres. Bermejo Perez y Puente, en Vigo.
Estas
botellas llevan el nombre impresso del farmaceutico de Melgazo, para
evitar falsificaciones.”
Por esta altura, as Águas de Melgaço eram já vendidas para todo o país em grandes quantidades havendo entrepostos de distribuição em todas as grandes cidades do país. Neste anúncio publicado no jornal melgacense "Espada do Norte", na sua edição de 29 de Dezembro de 1892, podemos ler sobre as suas caraterísticas e prescrições, além e informação do seu ponto de distribuição na cidade do Porto na época. Temos também a informação que era vendida em todas as farmácias.
A
confiança nas Águas de Melgaço era que, até alguns dos médicos
mais respeitados da época, através de estudos e análises químicas
da água, faziam propaganda, para que os doentes tratassem seus
problemas no banho ou no consumo direto. Como diz Edmundo Lopes
(1949), as águas do Peso (Melgaço), “são, na verdade,
excelentes agentes medicamentosos. Nenhuma conhecemos que exerçam em
mais alto grau uma acção nitidamente específica sobre o
metabolismo hidrocarbonado e certas formas de hepatismo”. Eram
indicadas para o tratamento do “diabetes, padecimentos de estômago,
intestinos, fígado, rins e bexiga”, como aparece anunciado no
Jornal “Diario Illustrado”, na sua edição de 2 de Agosto de
1902, em Lisboa.
A água de Melgaço podia ser bebida simples ou então misturada com leite ou vinho. Podemos ver num anúncio do jornal "Diário Illustrado", na sua edição de 24 de Abril de 1908, onde se publicita um Vinho Verde Branco que dizem ser o ideal para misturar com as Águas de Melgaço:
Na viragem do século, uns anos antes, mais concretamente, em
Setembro de 1899, é publicado um anúncio no Diário de Notícias
que é hoje de grande interesse relativo às Águas de Melgaço e aos
Hotéis do Peso. Por essa altura, o Porto e outras cidades portuguesas estavam a
sofrer um surto de peste bubónica que estava a provocar elevada
mortalidade, estando Melgaço a salvo desta epidemia. Então, os
donos dos hotéis do Peso mandam publicar o seguinte anúncio:
“Águas
de Melgaço
Em
vista da satisfação com que os aquistas de Lisboa e outros pontos
do país aqui se demoram, reputando esta estância como um verdadeiro
sanatório que é, os proprietários do Hotel do Peso resolveram
conservá-lo aberto até meado do mês de outubro, servindo como
lugar de refúgio aos receosos de contágios
“ (Diário
de Notícias,
12/09/1899).
Desde a viragem do século XIX para o século XX, a exportação das Águas de Melgaço para o Brasil cresce de uma forma muito significativa. Tal pode ser comprovado na quantidade de publicidade que encontramos em variada imprensa de diferentes regiões de Brasil dos quais selecionei alguns que aqui se partilham:
- Anúncio das Águas de Melgaço no "Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro) na edição de 29 de Janeiro de 1911:
- Anúncio das Águas de Melgaço e Vidago no "Correio da Manhã" (Rio de Janeiro) na edição de 16 de Maio de 1911:
- Anúncio das Águas de Melgaço no "Jornal do Commercio" (Rio de Janeiro) na edição de 25 de Março de 1912:
- Anúncio das Águas de Melgaço no "O Imparcial" (Rio de Janeiro) na edição de 29 de Abril de 1915:
- Anúncio que faz referência à oferta de uma caixa de Águas de Melgaço para um sorteio de beneficência no jornal "O Estado do Pará" (Pará) na edição de 5 de Dezembro de 1915. No anúncio, cita-se que no estado do Pará (Brasil), o consumo das nossas águas era muito significativo:
- Um outro anúncio que faz referência à oferta de uma outra caixa de Águas de Melgaço por parte de uma firma chamada Pires Teixeira & Cia. para um sorteio de beneficência no jornal "O Estado do Pará" (Pará) na edição de 5 de Dezembro de 1915:
- Anúncio das Águas de Melgaço no jornal "A Noite" (Manaus) na edição de 5 de Agosto de 1916:
- Anúncio das Águas de Melgaço no jornal "O Imparcial" (Rio de Janeiro) na edição de 3 de Agosto de 1917. Aqui chama-se à atenção que esta água é eficaz nas doenças de rins além da diabetes:
- Anúncio das Águas de Melgaço no jornal "A Província" (Recife) na edição de 15 de Janeiro de 1921:
- Anúncio das Águas de Melgaço no jornal "Diário do Pernambuco" (Pernambuco) na edição de 11 de Maio de 1915:
Além da forte aposta na exportação para o mercado brasileiro, as Águas de Melgaço eram também vendidas para as antigas colónias, algo que se pode comprovar pela presença assídua na publicidade de publicações como a "Portugal Colonial", distribuída nos antigos territórios ultramarinos. Aqui se apresenta um extrato de um anúncio das Águas de Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas. O slogan publicitário das Águas de Melgaço apresentado é o conhecido "A salvação dos diabéticos" (in: Portugal Colonial, edição de Junho/Julho de 1932):
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