Após
a implantação da República a 5 de Outubro de 1910, muitos
opositores ao novo regime político refugiaram-se no norte do país
onde a simpatia para com a Monarquia era um pouco maior. Nas
fronteiras do Minho e Trás os Montes, a perseguição aos
monárquicos estendeu-se por vários anos. Alguns refugiaram-se na
Galiza, havendo boatos que estariam a preparar uma invasão para
restabelecer a Monarquia. As fronteiras de São Gregório e Castro Laboreiro eram dois
pontos onde se suspeitava que os opositores ao regime republicano
pudessem atravessar a fronteira.
Bem
sintomática é uma reportagem publicada na revista “Ilustração
Portugueza”, na edição de 3 de Julho de 1911, intitulada
“No Paíz dos conspiradores”, referindo-se assim à fronteira do
rio Minho entre S. Gregório (Melgaço) e Caminha, que inclui várias
fotografias de S. Gregório.
Excerto da fotoreportagem "No Paíz dos Conspiradores", in: "Ilustração Portugueza", edição de 3 de Julho de 1911. |
Havia
jornais e outras publicações que referiam Melgaço como sendo um
dos pontos fronteiriços onde havia células de resistentes à
República e que articulavam com os monárquicos refugiados na
Galiza. Havia por aqui, segundo algumas fontes, depósitos de armas
escondidas. Isso
é-nos mostrado numa
publicação da época afeta aos republicanos, “O Carbonário”, na sua edição de 2 de
Julho de 1911, onde
é citado o
depoimento de um tal Botelho de Sousa que terá conhecimento de
apreensões de armas na Galiza para serem passadas para Portugal e
outro armamento que terá mesmo conseguido passar a fronteira. Essa
apreensão teria sido feita por republicanos espanhóis. O mesmo
Botelho de Sousa refere que “se
não fosse a sua vigilância aturada, todo esse armamento tinha
passado a fronteira, como estou convencido que passaram outras
remessas numerosas, que a esta hora estão acoitadas em logar
seguro”.
Então, o jornalista pergunta: “Em
que região?” Botelho
de Sousa esclarece: “Em
várias... Mas, estou convencido de que, se procurarem em Suajo, Peso
de Melgaço e Monsão, lá encontrarão alguma cousa...”.
Nesta
altura, a caça aos inimigos da República também passou por
Melgaço. Como se vê, havia boatos na imprensa que nas Termas do
Peso se encontravam indivíduos afetos à causa monárquica que
importava neutralizar. No “Jornal do Commercio”, na sua edição
de 20 de Maio de 1911, podemos ler uma notícia da prisão de um
suposto monárquico no Hotel Ranhada. A notícia diz o seguinte: “No
Hotel Ranhada do Peso, foram presos por uma força da Guarda Fiscal,
comandada pelo Tenente Lebre, e conduzidos à administração do
concelho, José Bentes Pereira, grande capitalista portuense, e seu
sobrinho, quintanista de Direito da Universidade de Coimbra.
Deu
lugar à prisão daqueles dois cavalheiros a singular ideia de que
conspiravam contra as instituições actuais.
Após
troca de telegramas entre o administrador do concelho e o governador
civil de Viana do Castelo, foram aqueles cavalheiros postos
em liberdade, ficando assim estabelecida a certeza de que a sua
estadia nas Águas do Peso em nada se prendia com conspiratas.
Alguns
dos senhores republicanos são mais papistas que o Papa. Em todos,
ainda nas pessoas mais inofensivas, vêem conspiradores e daí os
vexames que lhes infligiram, que afinal resultam em verdadeiros
fiascos.
José
Bentes Pereira, um homem da mais alta consideração, chegou já a
sua casa do Bom Jesus do Monte”.
Estes
boatos que apontavam para uma conspiração ao regime republicano e
uma invasão a partir das fronteiras do Minho nunca se concretizaram. Algumas destas notícias fazem parte de uma intensa propaganda do novo regime republicano contra os partidários do causa monárquica. As únicas incursões monárquicas realizaram-se
a partir da fronteira transmontana entre Chaves e Bragança entre
1911 e 1912.
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