sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Melgaço no "Paíz dos Conspiradores" (1911)




Após a implantação da República a 5 de Outubro de 1910, muitos opositores ao novo regime político refugiaram-se no norte do país onde a simpatia para com a Monarquia era um pouco maior. Nas fronteiras do Minho e Trás os Montes, a perseguição aos monárquicos estendeu-se por vários anos. Alguns refugiaram-se na Galiza, havendo boatos que estariam a preparar uma invasão para restabelecer a Monarquia. As fronteiras de São Gregório e Castro Laboreiro eram dois pontos onde se suspeitava que os opositores ao regime republicano pudessem atravessar a fronteira.
Bem sintomática é uma reportagem publicada na revista “Ilustração Portugueza”, na edição de 3 de Julho de 1911, intitulada “No Paíz dos conspiradores”, referindo-se assim à fronteira do rio Minho entre S. Gregório (Melgaço) e Caminha, que inclui várias fotografias de S. Gregório.

Excerto da fotoreportagem "No Paíz dos Conspiradores",
in: "Ilustração Portugueza", edição de 3 de Julho de 1911.

Havia jornais e outras publicações que referiam Melgaço como sendo um dos pontos fronteiriços onde havia células de resistentes à República e que articulavam com os monárquicos refugiados na Galiza. Havia por aqui, segundo algumas fontes, depósitos de armas escondidas. Isso é-nos mostrado numa publicação da época afeta aos republicanos, “O Carbonário”, na sua edição de 2 de Julho de 1911, onde é citado o depoimento de um tal Botelho de Sousa que terá conhecimento de apreensões de armas na Galiza para serem passadas para Portugal e outro armamento que terá mesmo conseguido passar a fronteira. Essa apreensão teria sido feita por republicanos espanhóis. O mesmo Botelho de Sousa refere que se não fosse a sua vigilância aturada, todo esse armamento tinha passado a fronteira, como estou convencido que passaram outras remessas numerosas, que a esta hora estão acoitadas em logar seguro”. Então, o jornalista pergunta: “Em que região?” Botelho de Sousa esclarece: Em várias... Mas, estou convencido de que, se procurarem em Suajo, Peso de Melgaço e Monsão, lá encontrarão alguma cousa...”.
Nesta altura, a caça aos inimigos da República também passou por Melgaço. Como se vê, havia boatos na imprensa que nas Termas do Peso se encontravam indivíduos afetos à causa monárquica que importava neutralizar. No “Jornal do Commercio”, na sua edição de 20 de Maio de 1911, podemos ler uma notícia da prisão de um suposto monárquico no Hotel Ranhada. A notícia diz o seguinte: “No Hotel Ranhada do Peso, foram presos por uma força da Guarda Fiscal, comandada pelo Tenente Lebre, e conduzidos à administração do concelho, José Bentes Pereira, grande capitalista portuense, e seu sobrinho, quintanista de Direito da Universidade de Coimbra.
Deu lugar à prisão daqueles dois cavalheiros a singular ideia de que conspiravam contra as instituições actuais.
Após troca de telegramas entre o administrador do concelho e o governador civil de Viana do Castelo, foram aqueles cavalheiros postos em liberdade, ficando assim estabelecida a certeza de que a sua estadia nas Águas do Peso em nada se prendia com conspiratas.
Alguns dos senhores republicanos são mais papistas que o Papa. Em todos, ainda nas pessoas mais inofensivas, vêem conspiradores e daí os vexames que lhes infligiram, que afinal resultam em verdadeiros fiascos.
José Bentes Pereira, um homem da mais alta consideração, chegou já a sua casa do Bom Jesus do Monte”.


Estes boatos que apontavam para uma conspiração ao regime republicano e uma invasão a partir das fronteiras do Minho nunca se concretizaram. Algumas destas notícias fazem parte de uma intensa propaganda do novo regime republicano contra os partidários do causa monárquica. As únicas incursões monárquicas realizaram-se a partir da fronteira transmontana entre Chaves e Bragança entre 1911 e 1912.

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