domingo, 25 de julho de 2021

Sabe a origem deste brasão, na vila de Melgaço?


Na vila de Melgaço, no solar onde hoje se encontra o Hotel “Solar do Castelo”, a parede voltada para o Largo da Misericórdia exibe um imponente brasão que ali se encontra há mais de 300 anos. 

A sua origem remonta ao início do século XVIII, época em que é atribuída Carta de Brasão de Armas a Domingos Coelho Novais Gomes de Abreu, facto que se concretizou em 30 de Abril de 1701. Mas quem foi este ilustre melgacense? 


Filho legítimo de Domingos Gomes de Abreu e D. Francisca Coelho, nasceu em Melgaço a 21 de Janeiro de 1668 e seguiu a carreira militar falecendo no posto de capitão de uma das companhias do terço do capitão-mor Pedro de Sousa Gama, fundador do morgado da Serra. Foi também fundador da Capela da Pastoriza, nas Carvalhiças. 

Segundo ESTEVES, A. (1989), fez-se armar cavaleiro da Ordem de Cristo em 31 de Dezembro 1698 na igreja da Senhora da Conceição em Lisboa e professou no ano seguinte aos 9 de Fevereiro, no convento de Tomar, nas mãos de Fr. Fernando de Morais, superior do referido convento, renunciando primeiro o ano e o dia do seu noviciado e aprovação. 

Frei Domingos Gomes de Abreu casou aos 28 de Novembro de 1700 em Lapela, termo da vila de Monção, com D. Isabel de Faria. 

No ano de 1701 aos 30 de Maio tomou posse da Feitoria Geral das Alfândegas da Província do Minho, tocante aos portos secos, molhados e vedados, cargo que exerceu por três anos. Em 1705 candidatou-se ao posto de sargento-mor das ordenanças da Vila de Melgaço e seu termo, cargo não remunerado, mas de grande prestígio, tendo sido, contudo, preterido por outro melgacense ilustre. Em 1706, era Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço. Foi também vereador da Câmara Municipal e Juiz pela Ordenação. Em 1707 foi-lhe passada a carta de propriedade de meirinho-mor de Monção, em virtude dos serviços que prestara à coroa portuguesa, sobretudo nas lutas que travara contra os galegos que tentavam invadir Melgaço e seu termo. 

 Devido a um voto que fez na prisão galega, onde fora torturado, aquando da Guerra de Sucessão de Espanha, por ter lá ido em missão de espionagem, por ordem do conde da Atalaia, Governador das Armas da Província do Minho, mandou erigir a capela da Senhora da Pastoriza, no sítio chamado “Coto da Pedreira”, lugar das Carvalhiças, freguesia da Vila (Santa Maria da Porta), cuja provisão lhe foi concedida em Melgaço a 6 de Junho de 1707 pelo arcebispo Rodrigo Moura Teles e a autorização para ocupar o sítio - «que era público e baldio» - despachada pelo Senado Municipal a 21 de Janeiro de 1713. A 19 de Março de 1724, perante o tabelião António Gomes de Abreu, e testemunhas, mandou lavrar a escritura da fábrica da dita capela, «nomeando-lhe e hipotecando-lhe a sua quinta chamada “o Louridal” (…); a horta de “Marrocos” (com uma boa mina de água); a metade das suas casas de morada nesta vila de Melgaço».  

E em 14 de Março de 1703 comprou a Maria Domingues, viúva e suas filhas e genro, Francisca de Magalhães e Maria de Magalhães, ambas solteiras, moradoras na vila e Águeda Domingues e marido Sebastião Fernandes, moradores no Telheiro, freguesia de Rouças, «a sua mettade do Moinho chamado da Ponte apedrinha que he telhado e preparado e aparelhado com seu pico assim e da maneira que elles vendedores o possuião e parte do nascente com terras de Domingos Esteves Sereiro e do poente com monte delas do monte de prado» por trinta mil réis em moedas de prata correntes no reino. 

Pouco depois, um ou dois meses decorridos, pelo conde da Atalaia, Governador das Armas da Província do Minho, foi Frei Domingos de Abreu enviado ao reino da Galiza a certo negócio de serviço de el-rei. 

Por razões, que hoje ignoramos, mas que é lícito filiar em questões da Guerra da Sucessão ao trono de Espanha em que el-rei D. Pedro II se envolveu em 1701, o Governador de Vigo prendeu este mensageiro do conde da Atalaia em sua casa e durante cinco dias o meteu nas minas do castelo do Crasto; dali o passou para o castelo de Santo António na Corunha e por fim para o cárcere real para lhe «darem questão de tormento». 

Foi nestes aflitivos transes que o familiar do Santo Ofício lembrando-se dos inumeráveis milagres feitos naqueles sítios pela Senhora da Pastoriza, cujo santuário e piedade dos galegos erguera a seis quilómetros da cidade no caminho de Finisterra; foi nesses transes bem dolorosos para seu espírito esclarecido, que o ilustre melgacense a invocou e lhe pediu amparo, prometendo-lhe levantar-lhe capela privativa na sua terra, no vistoso sítio do Coto da Pedreira, se aquela Virgem permitisse a ela voltar dentro de um ano. 

E como passados cinco meses e cinco dias em virtude de um decreto especial foi degredado para fora dos limites de Espanha, nunca mais esqueceu o seu voto e se mais cedo o não cumpriu, foi por andar ocupado na Guerra da Sucessão, que naqueles dias se desenrolaram neste termo. 

De facto, Frei Domingos Gomes de Abreu, português de lei, patriota exaltado, militar brioso e aguerrido, nunca permitiria que os galegos nos ofendessem impunemente e, por isso, durante esta guerra permaneceu sempre de ouvido à escuta, sempre pronto a fazer pagar caro aos vizinhos da fronteira os tormentos infligidos ao seu corpo e ao seu espírito nas longas e sombrias horas de cárcere. 

 

 

Fontes consultadas 

  • ESTEVES, Augusto C. (1989) - O meu livro das gerações melgacenses. Volume IEdição da Nora do AutorMelgaço. 

  • ROCHA, J. (2015) - Biografias - Domingos Coelho Novais Gomes de Abreu (em linha). 

sábado, 17 de julho de 2021

Quem foi Domingos Gomes de Abreu na História de Melgaço?

 


Na História de Melgaço, conhecemos vários ilustres da família Gomes de Abreu em várias gerações. Um deles é Domingos Gomes de Abreu, militar e figura de destaque na Guerra da Restauração, que foi morador na casa brasonada que se situa junto à igreja da Misericórdia de Melgaço. Foi igualmente avô de Domingos Gomes de Abreu, fundador da Capela da Pastoriza. 

Sobre ele, ESTEVES, A. (1989), conta-nos que era “filho legítimo de Maria Gomes de Abreu e marido Domingos da Assureira, foi militar brioso e valente, que numa das companhias de ordenanças da vila de Melgaço serviu com o posto de alferes desde 1675 a 1697, ou seja, durante vinte e dois anos e sete meses. 

Faleceu em 22 de Setembro de 1697 tendo sido nomeado um pouco antes capitão da sua companhia. A folha de serviços militares atesta a sua coragem e o seu patriotismo. É uma bonita página da história da nossa vila digna de recordar-se.  

Quando em 1662 durante a Guerra da Restauração, Don Baltazar Pantoja encontrou barrado o caminho de Braga no concelho de Arcos de Valdevez, aquele ilustre militar deixou o quartel de Giela e andando pelos fortes dos Pereiros e Mouriga veio parar aos montes de Lordelo aquartelando o exército em Barbeita entre Monção e o forte da Foz de Mouro; quando aí veio parar e pensou ocupar Melgaço nos começos de Outubro, o alferes Domingos Gomes de Abreu fazia parte da sua guarnição, que obrigou os inimigos a desistirem do projetado cerco, tão valorosamente pelejou. 

 Destemido mas prudente, corajoso mas sereno, fora o homem escolhido pelo governador da praça de Melgaço para prender Romão Valasquez, havido como traidor à coroa portuguesa e com risco da vida, nesse mesmo ano de 1661, um pouco acima do forte levantado junto da foz do rio Mouro, em vão atravessou o Minho a nado para fazer a referida prisão. 

 Em 1662 bateu-se com o inimigo no lugar de Valadares nuns paços vizinhos ao rio de S. Lourenço e atravessando outra vez o Minho, já na Galiza, perseguindo-o por entre penhascos até o render, aí prendeu o capitão João Esteves, outro traidor a Portugal. 

O seu brio, porém, andava ferido pelas proezas de Romão Valasquez e, por isso no ano seguinte, para o colher às mãos, fez-lhe uma emboscada junto ao forte da Ponte do Mouro e sendo o primeiro que o avistou, sobre ele correu até ao rio Mouro, em cujas águas Valasquez se afogou.  

Em seguida foi à Galiza, ao lugar de Padrenda, tomar língua de uma tropa de cavalos, conseguindo trazer consigo três soldados com montadas e armas e ao lugar de Queirão, a cujo saque assistiu e onde, no ano seguinte, 1664, pelejou valentemente. 

Foi como mercê por estes serviços, que seu filho primogénito recebeu o hábito de Cristo em 28 de Agosto de 1698. 

Casou com D. Francisca Coelho, viúva de Jerónimo Teixeira e filha de Francisco da Rosa e esposa D. Maria Coelho, naturais da vila de Melgaço, neta materna de Gonçalo Afonso Coelho e de sua esposa D. Violante Novais, também oriundos desta vila. 

Gonçalo Afonso Coelho e Francisco da Rosa exerceram no termo altas funções como vereadores da Câmara e juízes mais velhos pela ordenação fazendo também parte de algumas mesas da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço. 

Foi seu filho Domingos Coelho Novais Gomes de Abreu que, em 30 de Abril de 1701, lhe foi concedido a Carta de Brasão de Armas, e cujo brasão ainda hoje se exibe na parede da casa em frente à igreja Misericórdia nesta vila de Melgaço. 

 


 

Fonte consultada: ESTEVES, Augusto C. (1989) - O meu livro das gerações melgacenses. Volume IEdição da Nora do AutorMelgaço. 

sábado, 10 de julho de 2021

Castro Laboreiro (Melgaço) em reportagem da RTP (1985)



Em 1985, por altura das eleições legislativas, a RTP esteve em Castro Laboreiro e fez uma pequena reportagem a respeito das expetativas dos castrejos em relação às eleições, realizando uma série de pequenas entrevistas a pessoas da terra.
Talvez conheça algumas das pessoas...


sábado, 3 de julho de 2021

Como era Parada do Monte (Melgaço) em meados do século XVIII?

 


Para conhecermos a vidas nas nossas freguesias em meados do século XVIII, as Memórias Paroquiais são das fontes históricas mais ricas. Viajamos até Parada do Monte, no atual concelho de Melgaço, até ao ano de 1758. Como seria viver em Parada nessa época? O padre Francisco de Caldas Bacellardeixou-nos muitas e variadas informações num docuemnto lavrado a 28 de Abril desse mesmo ano.

Então, conta-nos que “Fica esta terra na provincia do Minho, pertence ao Arcebispado de Braga Primax; à comarqua de Vallença do Minho, ao termo de Valladares. (...) He esta terra do Sereníssimo Senhor Infante de Portugal Dom Pedro, que Deos goarde."

O pároco de Parada escreve que, nessa época, a freguesia tinha “cento oitenta e nove Vezinhos; e tem quinhentas, e vinte e duas pessoas entre grandes e pequenos”. 

Acrescenta ainda que Parada do Monte “Está situada em hum valle cercado de monte; e não se descobre della povoação alguma, somente parte da freguezia de Sam Thomé de Cousso, que dista desta terra quasi meya legoa”. 

Parada pertencia, nessa época, ao termo de Valadares “que dista desta terra hua grande legoacomprehende doze lugares: a saber Cortegada, Cazal, Tabollado, Chão do BezerroLagarteira, Paço, Cotto do Paço, Pereiral, Carrascal, Trigueyra, Aldea Grande, Cotto Santto; e tem todos estes lugares cento, oitenta e nove Vezinhos.”(...) 

Está a paroquia dentro dos lugares, e já fica ditto no numero cinco coantos lugares tem, e como se chamam.” 

O pároco refere ainda que “o seu orago he Sam Mamede martir; tem tres altares: altar mayor, aonde esta collocado o Santissimo Sacramento, e está no trono da tribuna o meninno Jezus, e de fora da tribuna aos cantos está o orago, esta Santto António; e Sam Bento; e nos outros dois altares coleterais do corpo da igreja em hum delles está nossa Senhora may de nosso senhor jezus christo; e no outro esta a mesma may de Deos com o titullo de nossa Senhora do Carmo, e tambem estâ o martir Sam Sebastião” Escreve ainda que na freguesia “não há senão a irmandade das almas santas do purgatorio.” 

Parocho he Vigario collado, e he da aprezentação da Reitoria matris de Sam Pedro de Riba de Mouro. A Renda, que tem são doze mil reis; doze fanegas de pão; doze cabaços de vinho, e dois alqueires de trigo pera hostias, que lhe paga o colhedor dos fruttos desta terra; e tem mais de cada fregues cazado hum alqueire de pão, e sendo veuvos meyo, e solteiros hum coarto.” (...) 

O padre escreve ainda que a paróquia de Parada do Monte “tem hua Ermida do gloriozo Sam Marcos Evangelista, esta fora do lugar e pertence aos freguezes (...)  Não acode a ella nenhuma romagem, somente no dia do gloriozo santo, que se lhe faz a dita festa 

Refere-se ainda que “ofruttos, que os moradores recolhem em mayor abundancia he milho grosso vulgarmente chamado milho maiz”. 

Esta terra tem juis ordinario na Villa de Valladares daqui hua grande legoatem tres Vereadores, dois almotaceis, meyrinhoporteyro, e bastantes oficiais menores chamados coadrilheyrostambem tem Bachareisjuiz dos orfaons, e bastantes escrivains, hum dos orfaons, e os mais do publico."

O pároco escreve que Parada, na época, “não tem feira esta terra, nem consta que a houvesse, em tempo algum; (…) Tambem não tem correyo esta terra, e se serve do correyo da villa de Monção, que dista desta terra por sima de duas legoas, e chega na coarta feira da semana, e alguas vezes de vespora coarta de tarde torna partir, e constame, que há quem vay procurar as cartas a Monção pera Valladares, tambem pera Melgaço, porem o correyo proprio na passa de Monção”. (…) 

O padre conta-nos que havia “nesta terra bastantes fontes, e lagoas, porem não consta, que as suas agoas tenhão algua especial qualidade(…) Não he terra murada, nem praça da armas, nem há nella, nem no seu destritto castello, nem torre alguma (…) Não padeceo esta terra ruina algua no terremoto de 1755." 

O padre faz também uma caraterização do meio natural das terras onde assenta esta freguesia: “Chamas-se esta Serra a Serra de Terreyros emcoanto ao destritto desta freguezia (…) Terá d[e] comprimento hua legoa, e outra de largura pouco mais ou menos, principia em terreyros e acaba no Cham das Poças. (…) Os nomes principais dos braços desta Serra, são primeyramente emcoanto ao destritto desta freguezia: o primeiro braço he terreiros aonde principia, ao depois he o greço; o chedeiro; Piorneda; a costa do boton, e acaba na cham das poças, e ao direito mais finda emcoanto aos limites desta terra, no sitio chamado Medoiraespartauga, isto tudo de poente ao nacente e pera Sul principia hum braço defronte desta freguezia dois tiros de balla chamado a cabeça de vaqua, outro braço he Para de ouretta, e vay descahir a costa das Rãns perto da bouça dos homensdestritto do concelho de Soajo (…) 

Em relação aos cursos de água, o pároco escreve que neles existiam engenhos como moinhos ou pisões, estes últimos para o produção de artigos em burel: “nacem dois Rios nesta Serra nos limites desta freguezia, hum delles chamado Mourilhão que nace por baixo da Serra de Terreyros, este tem moinhos de moer pão; e tem duas cazas de pizoins, chamadas, nesta terra, de folloins; cada caza tem duas rodas, e nellas se apizoam os bureis para mantas de cama, vestiairos dos labradores e tambem se aprizoam ou folloam outros metais órdidos de estopa; e tecidos de lam, de que se fazem manteos pera as molheres, e calçoins pera os homens, e vestias pera meninos, os peixes, que cria são truttas: corre todo o ano caudalozamente com curso arebatado por meyo de grandes matos, e fragoins; tem dois pontilhoins sem serem de cantaria: hum esta no sitio chamado a Canda, e outro chamado Mourilhão; este Rio corre pera o Rio Mouro, de quem se fallara nos interrogatorios do Rio; e fenece junto da ponte de Estadella; ha outro rio mais pequeno, que nace perto da costa do botom chamado sítio as regadas; também he caudalloso, e corre arebatadamente e domina esta freguezia, tem moinhos de moer pão no tempo de inverno; tem coatro pontes desde que entra na fregueziahua he a ponte de Barrageiro, outra a ponte Acerdeira, outra a ponte do Porto do Rio, esta he de cantaria, outra he a ponte de Sam Marcos; não tem nenhum genero de peixe, e corre pera o Mourilhão, e fenece no sítio chamado Braços. (…) 

Os lugares, que tem esta serra são os seguintes Cobello, que esta por baixo de Terreiros, Mourim, que esta por baixo do greço, digo do Chedeiro, FitouroTrabaços, que está por baixo da Cham das Poças: todos agoas vertentes pera esta freguezia e com grande distância de huns a outros, não mora gente nelles, somente no tempo de verão coando não ha neves as cazas são cubertas de colmo, e chamam-se a estes lugares brandas. (…) 

Ha no destritto desta serra fontes bastantes, e não consta que que as agoas tenhão raras propriedades, somente sim serem muito frias, por serem agoas brabas. (…) 

Não ha na serra minas de metais nem de canteiros de pedras, nem de outros metais de estimação. (…) 

Não consta que esta serra tenha ervas medicinais algumas; e as plantas de que he povoada, são em primeyro lugar Urzes, Piornos, Carqueyjas, Carramelhas, todos digo tojos, giestas, e em algumas paragens carvalhossalgueiros nos vallesbidos, sangrinhos, azevinhos; cultivasse esta serra nos lugares que ficão dittos no número 5 chamados brandas, e nos seus arredores, e o frutto, que dá em mais abundância he centeyo, algum milho miudo, e pouco linho, e muita erva no verão de que fazem os labradores feno para darem de inverno aos gados. (…) 

Não há na serra igreja, nem mosteyro algum, nem imagens millagrozas, emcoanto ao destritto desta freguezia. (…) 

Em relação ao clima desta terra, o padre escreve que “a qualidade de seu temperamenttohe ser fria demaziadamente; e no tempo de inverno quazi sempre tem neve em alguns cabeços. (…) 

O pároco destaca também, “a criação de gados, que tem esta serra he no tempo de verão trazerem nella os labradores os seus Bois de noute e de dia dois, ou tres mezes, e as bacas, e bezerros andão tambem na serra de dia, e a noute vão procura-los, e recolhem-nos nos lugares das brandas, que ficão dittos, e o mesmo fazem ao gado miudo de cabras, e ovelhas; os animais perniciosos que tem são lobos, que sucede muitas vezes verem-se seis e sette juntos, e ordinariamente dois, e tres, que no tempo das neves andão de noute pellas portas dos principais lugares da freguezia, e matão muitos cães, e come-nos e se ficar algum gado fora não lhe escapa; e ha outros animais chamados jabalizes vulgarmente veados, ou porcos montezes, que somente fazem mal aos milhos no tempo que tem gramdestes, matam muitos os moradores pera comerem, e he muito bom comer assim elles forão cassados; tambem ha cabras bravas, a quem chamam corços, são grandes, e os machos tem galhos na cabeça; estes não fazem mal a nada, e a carne destes animais he como vitellatambem alguns se matam, porem há menos, que os porcos bravos; há tambem lebres nos altos, e coelhos nos baixos, mas pouco mal se lhe faz pella terra ser muito impedida com espessos matos, e muitas pedras, e grandes rochedos infinittostambem há algumâs rapozasgattos bravos, foinhas, ou gardunhas, e touroiñs. As aves que tem a serra são ageas reais, butros, bufos, que andão de noute, ratoeirosalvellos, açores, gabiaiñs, perdizes, rollas no tempo de verão. (…) 

O pároco ainda se refere ao rio Mouro que atravessa a freguesia, nestes termos: “Chama-se o rio desta terra o rio Mouro, tem dois nacimentos na freguezia de S. João Batista de Lamas de Mouro, hum chamasse a portella do Lagarto, e outro chamasse buzenlle, e juntão-se porbaixo da freguezia de lamas dous tiros de valla. (…) Nace caudalloso, e corre todo o ano. (…) Entra nelle hum rio chamado do Portto atrabaços, que devide esta freguezia e a de Lamas de Mouro e nace no sittio chamado espartauga e não fis menção delle em seu lugar, tambem he caudalloso, e corre todo o ano, não me consta que tenha peixes, nem tem moinhos, nem folloiñs, por ficar muitto distante desta freguezia, e corre por terra brava e impedida de matos, e fragoedos, este entra no rio Mouro perto do Porto acamba, tambem das felgueiras ou dos fojos. (…) He este rio Mouro de cursso arebattado etoda a sua distancia desde o seu nacimento athe botar fora dos limites desta freguezia, somente em hum sitio chamado agras de Mouro corre quieto hum tiro de mosquete (…) Corre este rio de nacente a poente, e fica desta freguezia da parte do norte. (…) Não cria mais peixes, que trutas desde a freguezia da Gavea pera sima, porque pera baixo da Gavea tambem cria bogas, e algumas anguias. (…) Não há nelle pescaria alguma somente no tempo do verão alguns rapazes cação algumas trutas poucas, e pequenas, mas gostosas. (…) As pescarias são libres, e não me consta que sejam de nenhum senhor particullar. (…). Não tem este rio no distritto desta freguezia margens, que se cultivem, porque tudo são fragas, rochedos, nem tem arvoredo de frutto, nem silvestre. (…) Não consta, que as suas agoas tenhão algua particullar virtude. (…) Consta-me que sempre teve o seu nome, nem sey que o tenha diferente em outras partes. (…) Morre este rio no Minho, e entra nelle a ponte do Mouro. (…) Tem bastantes reprezas, levadas, e açudes, mas não lhe impedem o ser navegavel, porque não he capaz disso.(…) Tem no destritto desta freguezia huma ponte de cantaria ha poucos anos, que antes era de pau em o sitio chamado Minhoteira, sitio horrendo, e medonho. (…) Não ha neste rio outro engenho algum, senão moinhos, mas poucos. (…) Não consta que em tempo algum se tirasse ouro de suas áreas. (…) Uzão os labradores libremente de suas agoas pera cultivar os campos, sem pensão alguma. (…) Terá o rio desde o seu principio athe aonde acaba tres legoas, e meya pouco mais, ou menos; As povoaçõins por donde passa desde o seu nacimento, he esta fregueziahe a freguezia de Santa Maria da Gaveahe a freguezia de Sam Pedro de Riba de Mouro, he a freguezia do Salvador de Tangil, he a freguezia de Sam Cosme de Podame, he a freguezia de Sam Payo de Segude, he a freguezia do Salvador de Ceivaiñs. (…) Não ha outra couza notavel mais, que há no rio abaixo desta freguezia huma ponte de pau chamada de Estordella; há em Riba de Mouro outra ponte de cantaria de dois arcos: chamasse a ponte da Veiga, e abaixo desta ha outras duas de pau; há na freguezia de Tangil hua ponte de cantaria de tres arcos; e há a ponte de Mouro aonde fenece o rio.  

Francisco de Caldas Bacellar Vigario collado desta Parochial Igreja de Sam Mamede de Parada do, Monte do termo da villa de Valladarescomarqua de Vallença do Minho, Arcebispado de Braga Primaz.  

Faço Certto em como tudo, o que disse a Respeitto dos interrogattorios, que a esta vão juntos assim da terra, como da serra, e dos rios, he verdade, e aSim o affirmo in sacris – 

Parada do Monte, e de Abril = 28 de 1758."




Extraído de:

1758.Abril.28 – Parada do Monte. Memória paroquial da freguesia de S. Mamede de Parada do Monte, escrita pelo Vigário Francisco de Caldas Bacelar, arquivada no Dicionário Geográfico do Reino de Portugal organizado pelo oratoriano Padre Luís Cardoso. 


Lisboa, IAN/TT - Dicionário Geográfico do Reino de Portugal, Vol. 27, Memória n.º 58, fls. 383-388.