Para conhecermos a freguesia de São Lourenço de Prado em meados do século XVIII, podemos recorrer à leitura do manuscrito das Memórias Paroquiais de 1758. Tal documento foi redigido em 6 de Maio desse ano pelo vigário Duarte Vaz Torres e no manuscrito podemos ler o seguinte:
“Informação da paroquia da freguezia de Prado
Esta freguezia, cujo orago he S. Lourenço martir, está situada no termo da villa de melgaço, comarca no secullar da ouvidoria de Barcellos por ser da Sereníssima Caza de Bragança e no eclesiástico da comarca de Valença do Minho, Arcebispado de Braga Primaz donde dista doze legoas e da Corte de Lisboa satenta e duas. Hé vigaiaria ad nuptum que aprezenta o abbade de São Paio com quem parte e rende para o vigário de coatro a oito mil réis de congrua, vinte alqueires e pão meado, dous de trigo e um almude de vinho, além do incerto do pé do altar. A igreja que está no meio da freguezia junto da estrada real que vai para a villa de Melgaço, tem três altares, o maior do dito orago em que está o Santíssimo, os colaterais, hum de Nossa Senhora do Rozario e o outro das Almas em que há confraria ou irmandade das mesmas. Foi erecta à paróquia esta freguezia no tempo do Senhor e venerável D. Frei Bartolomeu dos Mártires e está situada um hum valle fértil e mimozo capaz de dar produzir todo o género de fructos, mas pela sua estreiteza e pobreza dos moradores, a maior abundância de fructos hé milhão e vinho e linho. Descobre-se della a villa de Melgaço com quem parte pella parte do Norte a freguezia de Rouças, pelo Nacente a de São Paio e Paderne, pelo sul tudo athé o alto da serra do Pumedelo de que dista huma legoa e pelo Poente a freguezia de Remoaens com as quais sobredictas parte e mais della se descobre athé a Praça de Monção que dista três legoas. Pelo Minho abaixo também se descobre della a serra da Tranqueira, que hé do Reino da Galiza com sua freguezias e valles athé o rio Minho que divide os Reynos pela parte Norte a Poente. Tem de vezinhos, fogos e meios fogos, cento e cinquenta e dous. Tem pessoas velhas, moços e menores, quatrocentas devididas pelos lugares seguintes: Ferreiros, Cerdedo, Cotto, Santo Amaro onde está uma capela do mesmo pertencente à freguezia e nella há romagem a quinze de Janeiro; Brea, Raposos, Bouços, Bouça Nova, Trás do Coto, Barronda, Outeirão, Souto, Corte Nova, Serra onde há huma capella de Sãe Caetano de que hé administrador Luiz Caetano de Souza Gama, cappitam mor deste termo. Desta freguezia sahiram o Reverendo Doutor Frei António de Santa Maria dos Anjos Melgaço jubilado nos Reais Estudos de Mafra e seus irmans Frei Gaspar Da Virgem Maria, messionário do [Baratojo] e o padre Ignacio Santos da Companhia de Jesus, todos conhecidos pelas suas Letras.
Nos lemites desta freguezia se pesca no rio Minho com redes armadas em caneiros que para isso se fazem de pedra e redeiros nos meses de Fevereiro, Março, Abril e Maio, quantidades de lampreas, sabeis, salmoens, trutas e bogas, nos referidos lemites que serão a vigessima parte de uma legoa parum minusve. Corre arrebatado do Norte a Sul e Poente. A sua margem hé inculta povoada de castenheiros e carvalhos postos por arte por ser monte baldio pertencente à mesma freguezia. Tem barco de remos para a passagem de um Reyno para outro pertencendo a renda do barco a metade à Câmera de Melgaço e o outo senhoria da Galiza. A cauza porque se erigiu esta parochia consta por tradição ser a distância e ribeiros que mediavam a villa de Melgaço, onde os moradores iam ouvir missa. E a congrua acima dita se paga pela igreja de Melgaço que nesta freguezia cobra meios dízimos, o que milhor há-de constar no archivo de Braga, no tombo das igrejas. E não me consta mais de que por verdade mandei escrever esta aos seis de Maio de mil e settecentos e cincoenta e oito annos que assinei. O vigário Duarte Vaz Torres. Por confinar o lemite da freguezia de Prado com a da freguezia de São Paio e contudo em tudo vai na verdade a informação que dá o reverendo parocho a assignei. O Padre João Rodrigues, cura de São Paio, do mesmo modo. O vigário de Remoaens, o padre Gregório Salgado.”
Extraído de: IAN/TT, Memórias Paroquiais, Vol. 30, mem. 258, pp. 1933 a 1936.
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