domingo, 12 de fevereiro de 2023

Melgaço, 1793 - Quando a rainha D. Maria I passou Carta de Brasão de Armas aos senhores da Casa do Rio do Porto


 

Em tempos antigos, existiam várias casas senhoriais na vila de Melgaço, quase todas elas desaparecidas, tais como a casa da Torre e a Casa do Campo da Feira. De todas essas antigas casas fidalgas, a única que ainda existe na vila sede de concelho é a Casa do Rio do Porto, a somar à também sobrevivente Casa da Calçada, nos arrabaldes da mesma. 

Foi em 12 de Setembro de 1793, que a rainha D. Maria I deu carta de armas ao Dr. João Manuel Gomes de Abreu Cunha Araújo, filho do também Doutor João António de Abreu Cunha Araújo e de D. Mariana Gomes Figueiroa, senhores da Casa do Rio do Porto. 

Na Carta de Brasão de Armas e Nobreza, podemos ler o seguinte: “D. Maria, Por Graça de Deos, Raynha de Portugal, e dos Algarves, daquém e dalém Mar em África, Senhora de Guine, e da Conquista Navegação do Commercio da Ethiopia, Arabia Pérsia, e da índia &. Faço saber aos que esta minha Carta de Brazão de Armas de Nobreza, e Fidalguia virem que João Manoel Gomes de Abreu Cunha de Araújo, Bacharel formado nos Sagrados Cânones pela Universidade de Coimbra e morador na sua Quinta do Rio do Porto, arrabaldes da Villa de Melgaço, me fez petição dizendo que pella sentença de justificação de sua Nobreza a ella junta proferida, e assignada pello meu Dezembargador Corregedor do Cível da Corte, e Caza da Suplicação o Doutor Francisco Joze Brandão subscripta por Matteus Gonçalves da Costa Escrivão do mesmo juizo, se mostrava que elle he Filho Legitimo do Doutor João António de Araújo e de sua mulher D. Mariana Gomes de Abreu; Neto pela parte Paterna de Bento da Cunha Araújo, e de sua mulher D. Maria Martins. Bisneto de Gonçalo da Cunha Araújo, e de sua mulher D. Catharina Esteves. Neto pela parte Materna de João Gomes de Abreu, e de sua mulher D. Maria Gomes de Figueiroa. Bisneto de Manoel Gomes de Abreu, e de sua mulher D. Jerónima de Castro. Os quaes seus Pays e Avós, que forão pessoas muito Nobres das famílias de Cunhas, Araújos, Gomes e Abreu, que neste Reyno são Fidalgos de Linhagem Cotta de Armas, e de Sollar conhecido e como taes se tratarão com Cavallos, Creados, e toda a mais ostentação própria da Nobreza, sem que em tempo algum cometessem Crime de Leza Magestade Divina ou Humana pello que Me pedia elle mesmo suplicante por Merce que para a memória de seus Progenitores se não perder e clareza de sua antiga Nobreza lhe mandasse dar Minha Carta de Brazão de Armas das ditas famílias para delias também uzar na forma que as trouxerão, e forão consedidas aos seus Progenitores. E vista por Mim a dita sua petição, sentença, e constar de tudo o referido, e que a elle como descendente das mencionadas famílias lhe pertence uzar, e gozar de suas Armas segundo o Meu Regimento, e Ordenação da Armaria lhe mandei passar esta Minha Carta de Brazão delias na forma que aqui são Brazonadas, Devizadas, e Illuminadas com Cores, e Metaes segundo se achão Registadas no Livro do Registo de Armas da Nobreza, e Fidalguia destes Meus Reynos que tem Portugal Meu Principal Rei de Armas. A saber: Hum Escudo esquartellado. No primeiro quartel as Armas dos Cunhas, que são em campo de ouro nove Cunhas, de azul postas em tres palias. No segundo quartel as dos Araújos, que são em campo de Prata huma aspa azul firmada no Escudo, e carregada de cinco bezantes de ouro. No terceiro quartel as dos Gomes, que são em campo azul hum Pelicano de ouro com tres filhos bebendo o sangue do mesmo, que está ferindo o peito. No quarto quartel as dos Abreu, que são em campo vermelho cinco cotos de azas de ouro com sangue nas cortaduras, a seu direito, postas em santor. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos Metaes, e Cores das Armas. Timbre dos Cunhas, que he hum grifo de ouro nascente, acunhado de azul, com as azas de azul, e cunhadas de ouro, e por differença huma brica vermelha com farpão de prata. O qual Escudo, e Armas poderá trazer e uzar tão somente o dito João Manoel Gomes de Abreu Cunha de Araújo assim como os trouxerão, e uzarão os ditos Nobres, e antigos Fidalgos seus Antepassados em tempo dos Senhores Reys Meus Antecessores, e com ellas poderá entrar em Batalha, Campos, Reptos, Escaramuças, e exercitar todos os mais actos lícitos da guerra, e da Pax. E assim mesmo as poderá trazer em seus Firmais, Aneis, Senetes, e Devizas, pollos em suas cazas, Capellas e mais Edifícios, e deixallos sobre sua própria Sepultura, e finalmente se poderá servir, honrar, gozar, aproveitar delias em todo, e por todo como a sua Nobreza convém. Com o que Quero e me Praz q haja elle todas as honras, Privilégios, Liberdades, Graças, Merces, Izençois, e Franquezas, que hão e devem haver os Fidalgos, e Nobres de Antiga Linhagem, e como sempre de todo uzarão e gozarão os ditos seus Antepassados; pelo que Mando aos Meus Dezembargadores, Corregedores, Provedores, Ouvidores, Juizes, e mais Justiças de Meus Reynos, e em especial aos Meus Reys de Armas, Arautos e Passavantes, e a quaisquer outros officiais, e pessoas, a quem esta Minha Carta for mostrada e o conhecimento della pertencer, que em tudo lha cumprão, e guardem, e fação inteiramente cumprir, e guardar como nella se contem, sem duvida nem embargo algum que em ella lhe seja posto, porque assim he Minha Merce. A Raynha Nossa Senhora o mandou por Joaquim Pereira Carosso, Escudeiro Cavalleiro de sua Caza Real, e seu Rey de Armas Portugal. Bernardo Jose Agostinho de Campos Escrivão da Nobreza destes Reynos e suas Conquistas, a fez em Lisboa aos doze dias do Mez de Setembro do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de Mil sete centos noventa e tres. E eu Bernardo Jose Agostinho de Campos, a fis e sobscrevi. 

Portugal Rey de Armas Principal  

Joaquim Per.a Carosso 

Reg.da no L.° do Reg.to dos Brazões 

de Armas da Nobreza e Fidalguia 

destes R.nos e suas Conq.tas AF. 288 

Lisboa, 17 de Setembro de 1793 

Bern.do Joze Agost.° de Campos". 

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