A velha ermida da Orada terá sido construída pelos monges de Fiães, possivelmente com o fim de prestar assistência religiosa aos cultivadores das terras que lhes outorgou Dom Afonso Henriques em 24 de Outubro de 1173. Em tempos antigos, terá aqui existido uma pequena comunidade de frades.
Esta ermida foi construída face à velha estrada romana que vinha da orla marítima ao correr do Rio Minho. Passava junto da Vila de Melgaço e seguia para a Galiza pelas proximidades da velha estrada e cortava a raia na Ponte das Várzeas, nas proximidades de São Gregório.
Frente à ermida da Senhora da Orada havia uma arcaria coberta a que, na linguagem vulgar, se chama alpendre, cabido ou galilé, por baixo da qual passava a antiga estrada. Em fins do século XIX, quando se abriu a nova estrada para São Gregório, a arcaria frontal da igreja da Orada, que se vê na imagem, foi demolida. A sua existência é relatada por Frei Agostinho de Santa Maria, no seu livro “Santuário Mariano” (1712) onde se refere que “da Vila de Melgaço, vem uma estrada pública que vai para a Galiza e Castela, que passa junto ao átrio e casa da Senhora”. Pinho Leal, no Portugal Antigo e Moderno (1874), também menciona a estrada pública que, passando pelo átrio do Santuário, e se dirige à Galiza. José Augusto Vieira, no livro "Minho Pitoresco" (1886), é mais explícito ao referir-se que “O templo sob cujas arcarias passava a via pública.” Assim, não restam dúvidas de que a capela tinha o seu alpendre e por dentro dele passava a estrada.
A Senhora da Orada esteve na dependência do mosteiro de Fiães até à extinção das ordens religiosas em 1834. À Senhora da Orada, afluíam clamores de penitência de várias freguesias. A tal respeito, escreveu Frei Agostinho de Santa Maria: “A este santuário desde o Dia da Ascensão do Senhor até às portas do Espírito Santo, vão em romaria as mais das freguesias da Vila de Monção e as do seu termo a oferecer o resíduo do Círio Pascoal Pascal e acompanhar a procissão ao menos uma pessoa de cada casa com os seus párocos, e isto por voto que antigamente fizeram em tempo da grande peste de que ficou preservada a mesma Vila e as freguesias do seu termo, as quais fizeram o referido voto e também muitas freguesias do termo de Valadares, e todas as do termo de Melgaço vão em procissão à Senhora ao mesmo tempo, umas por devolução e outras por voto".
No primeiro quartel do século XX, ainda se realizavam os clamores das freguesias mais próximas desta Vila. Com várias intermitências, vieram a terminar durante o segundo quartel do século XX. De todos estes antigos clamores, houve um que ultrapassou a primeira metade do século XX, foi o de Riba de Mouro, freguesia do antigo Concelho de Valadares e agora de Monção.
Segundo PINTOR (1975), as freguesias de Melgaço realizavam os seus clamores na quinta-feira da Ascensão, dia santo de guarda e feriado municipal, enquanto que Riba de Mouro, por tradição, ia à Senhora da Orada na segunda-feira do Espírito Santo, com o seu clamor independente, a que se associava muita gente da Vila em festa de simpatia. Por esta altura, e no mesmo dia, realizava-se em Rouças a festa de Santa Rita, cujo santuário se desenvolveu em meados do século passado, atraindo o povo da Vila.
No dizer de PINTOR (1953), "Riba de Mouro começou em 1954 a fazer o clamor da Senhora da Orada no Santuário de Santo António de Val de Poldros, da mesma freguesia, continuando ainda a promovê-lo, embora em data diferente.
A peste a que se refere Frei Agostinho de Santa Maria deve ser uma das epidemias da segunda metade do século XVII. Três grandes epidemias grassaram em Lisboa e se estenderam ao país inteiro: a de 1568-69, que deu origem à Festa da Senhora da Saúde, que ainda se realizava, em meados do século passado, em Lisboa com caráter oficial; a de 1579 e a de 1598-99 que de novo se ateou no final de 1599 e se prolongou até 1602. De todas, a maior foi a primeira e a menor a segunda. Para se poder fazer uma pequena ideia do que foram estas epidemias, basta saber-se que na última foi montada em Lisboa, uma Casa e Saúde, ou seja, um hospital especial, por onde passaram 20 277 pessoas entre 25 de Julho de 1598 e 8 de Setembro de 1599, das quais se curaram 13 861 e faleceram 6 366. Devemos atender ao que seria Lisboa há perto de 400 anos, sem dúvida muito menor do que agora, e ao facto de muita gente se negar a recolher à Casa de Saúde, para se ajuizar da grande calamidade.
Assim, no dizer de PINTOR (1953), “...sabemos de como e quando os clamores deixaram de vir à Nossa Senhora da Orada, mas não sabemos da sua origem senão pela tradição que nos diz terem sido os mesmos instituídos em 1570, por ocasião da Peste Grande, pelas freguesias de Cristoval, Paços, Chaviães, Vila, Rouças, São Paio e Prado, únicas que então constituíam o termo de Melgaço, coutos de Fiães e Paderne e pela freguesia de Riba de Mouro, do termo de Valadares. Esta última vinha na segunda feira do Espírito Santo e as restantes no dia da Ascensão do Senhor. Com exceção da de Paderne, cujo clamor vinha formado desde o seu convento, e a de Fiães, que tinha o privilégio de ser a primeira a entrar por a capela ser da sua jurisdição, todas as demais concentravam-se no Senhor do Carvalho do Lobo [Santo Cristo], donde seguiam em procissão para a Senhora da Orada e ofereciam o resíduo do Círio Pascal a Nossa Senhora em ação de graças por Ela ter poupado o concelho aos estragos do terrível flagelo."
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