Em 1846, vivam-se tempos de muita tensão, especialmente no norte do país, onde as ondas de choque da revolta da Maria da Fonte se faziam sentir. A relação entre as populações e as autoridades do Estado encontram-se muito degradadas e o ambiente é de cortar à faca. ESTEVES (1959), num texto publicado no "Notícias de Melgaço" de 13 de Dezembro de 1959, fala-nos de um episódio na feira de Paderne ocorrido mais de cem anos antes: "Na verdade, em 1846, quando aqui neste concelho se arrastava ainda a revolta popular de Maria da Fonte assoprada pelos miguelistas, vieram à feira de Paderne de 18 de Julho os aduanas de Monção e sem qualquer facto o justificar… fuzilaram o povo, matando com as suas balas certeiras pelo menos um homem, João Manuel Fernandes, casado, do lugar de Cabreiros, da freguesia de Rouças, um dos pacatos e sossegados feirantes. Embora logo se levantasse protestos contra a selvajaria dos aduanas, estes foram continuando no exercício do cargo. Houve contudo um homem que pediu o castigo dos mesmos ao Ministro da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino, José da Silva Passos – o subdirector da alfândega de Valença e director interino do círculo das alfândegas terrestres de Valença, António Marinho Fetal. E a prova está no seu ofício de 28 de Novembro seguinte, por assim se exprimir: “...que na alfândega de Valença ainda se conservavam dois guardas, João Manuel da Assumpção e António José da Cunha; os quais não convinha que continuassem ao serviço por terem ido em Julho de 1846 a Melgaço fuzilar o povo, propondo que fossem substituídos por José Bento Xavier e António Joaquim Brazão“. E acrescentava: “... que na alfândega de Vila Nova de Cerveira estava um guarda a cavalo, José Guilherme Vaz, que tomou parte nos fuzilamentos de Melgaço e que propõe a sua substituição por Bento José Pereira."
Fomos procurar o rasto de informação da morte do tal João Manuel Fernandes, de Cabreiros, Rouças. No livro dos óbitos da freguesia, no seu assento de óbito, o padre deixou escrito: João Manuel Fernandes, cazado do lugar de Cabreiros desta freguezia de Santa Marinha de Rouças falleceu repentinamente com hum tiro aos dezoito dias do mês de Julho do anno de mil oitocentos e quarenta e seis e foi sepultado na Igreja Matriz..."
Fontes consultadas:
- SILVA, Armando M. & ROCHA, J. (Recolha) (2002) - Obras Completas: Augusto César Esteves. Volume I Tomo I. Edição Câmara Municipal de Melgaço. - Notícias de Melgaço, de 13/12/1959.
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