Em Castro Laboreiro (Melgaço) |
Há
alguns anos atrás, Paul, um descendente de uma família de refugiados galegos que se
escondeu em Castro Laboreiro nos anos da repressão franquista na Galiza
(1936-39), veio conhecer as terras castrejas e os caminhos e os refúgios que a
sua mãe e avós percorreram. A sua mãe, Eudosia Diz, era uma jovem professora do
ensino primário que enquanto esteve escondida em terras de Castro Laboreiro,
ensinou algumas crianças castrejas a ler e a escrever.
Paul,
filho de Eudosia, veio encontrar uma dessas “crianças” castrejas, que conviveu
com a sua mãe e com ela aprendeu as primeiras letras, ainda viva, agora idosa,
de quem pôde ouvir algumas estórias desse tempo. Esta senhora castreja conta-lhe
como a sua família chegou a Castro Laboreiro, como fugiram da sua terra na
Galiza em Julho de 1936...
“Saem
da localidade de Sabariz (San Ginés – Lobeira) e dirigem-se para a fronteira
contígua a Castro Laboreiro. Vão em direção ao Monte do Quinxo. Ali passam uma
noite, abrigados num covil de lobos abandonado. Passam a fronteira atravessando
o rio Laboreiro na zona de Olelas no dia 20 de Julho de 1936, saltando pela
pedras.
Já
do lado português, em terras castrejas, seguem pelo monte, pelas proximidades
do Ribeiro de Baixo, Ribeiro de Cima, Entalada e por fim chegam à inverneira de
Alagoa. Contudo, são detetados e por isso tiveram que passar uns dois ou três
dias nas redondezas de Alagoa (Castro Laboreiro). Entretanto, a polícia
política, em conjunto com a Guarda Fiscal, prendem a uma rapariga e acreditaram
que tinham prendido a Eudosia Lorenzo. Tendo havio um engano na pessoa detida, são
obrigados a libertar a essa rapariga.
Depois
de três dias passados nas proximidades do rio Laboreiro, nas perto de Alagoa, Eudosia
e os pais vão abrigar-se na casa de um castrejo chamado José Fernandes, casado
com Maria Rosa Domingues. São os pais de Delfina Fernandes. Esta família de
castrejos organiza a casa para alojar esta família de galegos fugidos à
repressão franquista.
Os
pais de Eudosia, Agustin Lorenzo e Basilisa Diz dormem num palheiro e cozinham
na casa de cima. Eudosia vive na casa com os donos com Delfina, que conta à
data com 15 anos de idade, e com a sua irmã mais nova Constantina de 10 anos.
As raparigas dormem todas na mesma cama para não levantar suspeitas. Eram
frequentes as rusgas da polícia política (PVDE) e da Guarda Fiscal e entravam
nas casas à procura de galegos escondidos. Quando o número de camas é superior
ao de residentes na casa, isso levantava logo suspeitas.
Ali
passam o Inverno na Alagoa. Em final de Março, mudam-se para a Branda do
Rodeiro, graças à ajuda de uma família conhecida. A senhora Antónia da Dorna,
irmã de António Domingos Rendeiro, mais conhecido como “o Rendeiro”, recebe-os
na sua casa no Rodeiro (Castro Laboreiro).
Contudo,
no mês de Maio de 1938, Eudosia e a família são vítimas de uma denúncia por
parte de um castrejo não identificado. O denunciante estava disposto a dar
informações acerca da localização de Eudosia e família em troca de um perdão relativo
um processo judicial que tinha pendente devido ao facto de ter puxado de uma
arma numa rixa numa romaria.
Apesar
de estarem na posse de informações sobre a localização desta família de galegos,
o trabalho das autoridades portuguesa vai ser dificultado. O regedor de Castro
Laboreiro nega-se a acompanhar a polícia nas suas operações. A lei à época
obriga à presença de um representante da autoridade local.
A
captura de Eudosia e família vai-se produzir em 17 de Maio de 1938. Relatos de
quem presenciou o episódio contrariam o relatório oficial da detenção. Segundo testemunhas,
um agente da polícia política, numa operação de busca de galegos fugidos em Castro
Laboreiro, afundou totalmente a cabeça da filha mais nova do “Rendeiro” na água do rio para obrigá-la a confessar a
localização do esconderijo dos galegos.
Seriam
então descobertos na casa do “Rendeiro” por baixo de uma lareira na cozinha da
casa. Eudosia é a primeira a sair do buraco, pedindo clemência e rogando
humildemente que não maltratem mais o senhor António “Rendeiro”, que tinha sido
rudemente golpeado a pontapés. “Não matem o homem!”, terá clamado.
No
relatório de detenção da polícia política portuguesa (PVDE), pode ler-se que “No
Rodeiro, lugar que me foi indicado, como certo, o paradeiro de Eudosia e de
seus pais, foi-me bem difícil e só depois de muita persistência, chegar ao resultado
obtido. Tinha a informação de que estariam refugiados numa mina, no rio que
margina este lugar ou casa de António Domingos Rendeiro, num esconderijo perto
de uma lareira.
Tendo
começado pela busca à casa, ou seja uma daquelas que continham camas em número
muito superior às pessoas ali residentes, conforme informei V. Exa., no meu
relatório de 12 do corrente, nada encontrei de suspeito a não ser um pequeno
bilhete, com talho de letra de senhora que o Rendeiro me dizia ter sido escrito
por um amigo. Estes acareados, verifiquei ser falsa a sua declaração e como se
mantinha na sua formal negativa, de não conhecer ou possuir na sua casa
espanhóis refugiados, ficou este detido,
bem como sua irmã ali residente que se mantinha na mesma atitude.
Dirigi-me
então com estes para o rio, batendo todos os pontos onde se supunha estar a
mina. Mas foi um exausto trabalho que não surtiu resultado.
Nova
tentativa à casa do Rendeiro e baseando-me no ponto de informação, fiz retirar
de um canto da lareira, enormes atados de urzes e um pesadíssimo banco, tudo
isto assente sobre um chão de lages.
Ao
pedir um ferro ou martelão, para ver se, em algumas destas obtia oco, fui
surpreendido com o levantamento muito lento de uma destas, e de vozes que
imploravam clemência. Ali estavam como sepultados num túmulo, cobertos de
palha, Agustin Lorenzo Puga, Basilisa Diz e Eudosia Lorenzo Diz que a muito
custo, foram saindo, por um orifício relativamente pequeno, deixando ver nos
seus rostos traços de grande sofrimento. Os referidos são reclamados pela OS nº
338/37 de 4/12/37, a que já me referi nos meus ofícios nº 158/38 e confidencial
nº 13, respetivamente de 18 e 19 do corrente.
Devo
pois informar V. Exa., que ainda há, na serra de Castro Laboreiro e na Peneda,
grande número de refugiados espanhóis, sobre os quais aguardo a informação do
seu paradeiro certo, para proceder às respetivas capturas, salvo ordens de V.
Exa, em contrário.”
Detidos,
Eudosia e família foram obrigados a seguir a pé até à prisão de Melgaço, numa coluna de
presos, onde ficariam detidos durante largos meses. Após serem transferidos para
Lisboa, puderam finalmente abandonar o país num paquete em direção a Marrocos.
Nota - Um grande obrigado a Paul Feron Lorenzo pela partilha desta bonita história.
Je tiens à remercier l'ANTT ( archives nationales Portuguaises à Lisboa ) qui avec beaucoup d'élégance m'ont permis de récupérer -passé le délai de 75 ans - à travers 85 images JPG ,la memoire de ma mere et de mes grands parents au refuge de Castro .Laboreiro ,leur transfert à Lisbonne ,leur séjour d'une décade dans la capitale du Portugal par leur passage dans les geôles du dictateur et leur expulsion vers le Maroc où leur demande d'asile fut acceptée par l'intermédiaire du consul de France à Lisbonne .
ResponderEliminarVoir aussi ...meme histoire ...l'article : Castro Laboreiro,1938; a PVDE e à Guarda Fiscal em busca..
ResponderEliminarMerci aussi à l'auteur de ce magnifique blog .
Par un livre paru Recemment en Juillet 2016 a Entrimo ,de Roman Alonso - Saltando a Raia - Je viens d'apprendre que de's la fin de la guerre Civile en Espagne en 1939 ,un maquis " Dente de Ouro " bien organise' et structure' a l'image de ceux du Limousin en France ( Armee secrete A.S. franc-tireur partisan FTP ) ,d'obediance de la resistance tendance communiste etait mis en place par Victor Garcia alias Estanillo et divers noms d'emprunt ,Alias connu principalement pour une caracteristique physique : une dent en or " Dente de Ouro " ; il y avait aux Ribeiro de Baixo et de Cima ( Sierra de Castro Laboreiro ) toutes les caracteristiques de la "Resistance " - - cachettes,armes fusils- mitrailleurs ,Mauser et parabelum ,grenades de mains etc ...tout cela stocke' a l'endroit le plus inattendu dans la cachette - un cube secret - trouve' par Hasard en face de l'eglise ,dans la maison la plus insoupconnee celle du maire du village portugais des montagnes .Ce maquis aurait ete actif entre 1939 et 1943 et plus tard efface' par la " guerre froide " entre occident et pays de l'Est .Le dirigent principal ,le chef de la Resistance du lieu Victor Garcia aurait ete' " liquids'" par ses propres camarades en 1946 ..affaire des proces " Z " ou " Icare " " les films de Costa Gavras .Une nouvelle approche historique voit le jour ,a travers les affaires d'Allies Contre "nazis "et "fascistes "- dans le secret de la guerre des Espions pendant la 2e guerre mondiale pour expliquer cette guerre secrete qui n'avait rien a voir Avec la premiere phase de 1936-1939 ,les pacifiques refugies de la premiere heure ,persecutes et caches
ResponderEliminarUne illustration pour mieux comprendre l'histoire .Dans le film de 1942 " CASABLANCA "bien connu , on voit arriver un certain "VICTOR Laslo " epoux de Ingrid Bergman dans le film ) Cet homme ,un resistant tchecoslovaque est envoye' au MAROC depuis Marseille et Oran pour organiser la resistance et combattre le regime de Vichy ( du chef de l'etat francais Petain ) alors dans la " collaboration " Ainsi le major allemand ,le nazi Strasser fera tout pour arreter Victor en vain puisque le major sera execute a la fin du film par Rick le patron du cafe Americain ( Humphrey Bogart )afin de couvrir la fuite de Victor Laslo et de sa femme vers Lisbonne et l'amerique .Rick est lui meme protege' par le chef de la police de Casablanca ,le commissaire Renaut ; ils rejoindront la France Libre du general De Gaulle ." Le debut d'une grande amitie' " .Un rapprochement est possible a travers le personnage de Victor pour mieux comprendre le role des chefs de la resistance envoye's pour combattre le fascisme et le nazisme en Europe qui historiquement avait ete elimine' en Europe sauf dans les pays de la Peninsule Iberique ( a cause de la guerre froide entre Est et Ouest ).
ResponderEliminarUma de dezenas de histórias empolgantes, que infelizmente aconteceram com milhares de espanhóis, naquela que foi a guerra civil mais violenta e sangrenta da Europa entre 1936 1939
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