No início do século XVIII, o território do concelho de Melgaço era bem diferente do atual. Era formado apenas pelas paróquias de Santa Maria da Porta (Vila), Roussas, S. Paio, Remoães, Paços, Chaviães e Cristoval. Devemos ter presente que na época Paderne e Fiães eram coutos dos respetivos conventos e por isso com jurisdição própria (o couto de Paderne incluía Cubalhão). Castro Laboreiro era concelho. Alvaredo, Penso, Gave, Lamas de Mouro e Parada do Monte pertenciam, à época, ao então concelho de Valadares.
No livro "Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal" (volume III), publicado em 1712, encontramos muitas informações sobre Melgaço e as suas paróquias, incluindo o número de habitantes estimado de cada uma delas:
"Três léguas acima de Monção para nascente, e uma da raia de Portugal e Galiza para o poente, está situada a vila de Melgaço, a quem os rios Minho e o pequeno Várzeas (Trancoso), que nele se mete da parte do oriente em ângulo reto dividem o seu termo do Reino da Galiza. A mais antiga notícia que achamos da sua fundação é que El Rey Dom Afonso Henriques a povoou no ano de 1179, fabricando nela uma grande fortaleza na parte em que estava outra chamada Minho. No ano de 1181, a 22 de Julho, deu o mesmo rei aos moradores desta vila, o lugar de Chaviães. Segunda memória é o título de bens e couto que El Rey Dom Sancho, o Primeiro, deu ao mosteiro de Longos Vales em Monção, estando na cidade do Porto no ano de 1197, do qual diz que fazia esta mercê pelo assinalado serviço que lhe fizera Dom Pedro Pires, Prior que então governava o Convento, em lhe fazer à sua custa a Torre e fortaleza de Melgaço e devia reforma-la. El Rey Dom Sancho, o Capelo, lhe deu grandes foros e privilégios, que confirmou seu irmão El Rey Dom Afonso, o Terceiro, no ano de 1262 mandando que nela houvesse trezentos e cinquenta vizinhos, permitindo-lhe que pudessem eleger um cavaleiro português para alcaide daquele castelo e que sendo pessoa benemérita, ele o confirmaria. El Rey Dom Dinis a enobreceu e cercou de novos muros, tudo forte para aqueles tempos, mas para os presentes fraquíssima, por ter penhascos, que lhe servem de batarias cobertas a tiro de clavina. Tem boas e férteis terras, pela maior parte todas, mas em particular o vale da Folia com grandes ventagens: dá muito pão e vinho, frutas, feijão, hortaliças e cebolas muy celebradas por doces e as melhores desta província, excelentes presuntos sem sal, caça do monte, e pescas do rio de boas lampreias, bons linhos, castanha, mel, gado e lacticínios. Tem cento e vinte e seis vizinhos muito nobres com casas e quintas honradas. São as melhores as dos Castros e Sousas, que por muitos anos foram alcaides mor desta vila, de quem descendem grandes fidalgos deste reino, os Araújos e Rosas. Estes têm duas sepulturas honoríficas na capela mor da Matriz, uma que venderam aos Castros, outra no corpo da igreja à parte esquerda junto do altar de Nossa Senhora. Nestas últimas guerras com Castela, deu famosos soldados, que ocuparam grandes postos. É da Casa de Bragança e tem juiz de fora, que também o é dos Orfãos e tem a mesma preeminência o Juiz da terra quando aquele falta, dois vereadores, Procurador do Concelho, eleição trienal do povo por pelouro, a que preside o ouvidor de Barcelos, escrivão da Câmara, três tabeleões, um escrivão dos Orfãos e outro das sizas: O alcaide mor tem de renda vinte e dois mil reis e uns carros de palha e lenha e pesqueiras no rio Minho, o qual apresenta alcaide carcereiro com vinte mil reis de renda, tudo data dos Duques.Tem Capitão Mor, que nomeia a Câmara, os Duques o confirmam e lhe passam a patente; quatro companhias de ordenanças, em que serve o mais antigo de Sargento Mor. Tem Casa da Misericórdia, Hospital e as freguesia seguintes:
- Santa Maria
da Porta, abadia da casa de Bragança e do Mosteiro de Fiães com alternativa
ordinária, rende duzentos mil réis. A um tiro de mosquete da praça está a Ermida de Nossa
Senhora da Orada, imagem de muita devoção pelos milagres que obra.
- Santa Maria
Madalena de Chaviães, abadia da mesma Casa, rende cento e cinquenta mil réis e
tem conto e trinta e sete vizinhos.
- Santa Ana
de Paços, vigararia que apresenta o Mosteiro de Paderne, rende oitenta mil
réis ao Vigário e para os frades cento e quarenta mil réis; tem cento e
sessenta vizinhos.
- S. Martinho
de Cristóval, abadia em que teve parte o Mosteiro de Fiães, hoje é toda do
Ordinário, rende duzentos e cinquenta mil réis, tem cento e cinquenta e nove
vizinhos. Aqui está a Ponte da Várzeas, que divide este Reino do da Galiza.
- Santa
Marinha de Roussas, abadia do padroado secular, que dizem foi dos senhores do Paço
de Roussas, do apelido de Besteiros, família tão antiga, como nobre, a quem o
tempo e pobreza tem atenuado de modo, que poucos lavradores o tomam hoje. Tem
por armas em campo azul uma torre firmada em pedras azuis e três bestas de
ouro, duas do lado da torre e uma em cima, timbre a mesma torre com uma besta
no alto. O Solar passou aos Castros e o padroado a Manuel Pereira, o Mil Homens
de alcunha, morador em Monção, cuja filha herdeira casou na Galiza. Rende a
Igreja ao abade duzentos mil réis e tem cento e cinquenta vizinhos.
- S. Paio é o
mesmo a que Sandoval chama Mosteiro de S. Paio de Paderne, haveria-o sido antes
dos mouros e a Infanta Dona Urraca, filha de El Rey Dom Fernando, o Magno,
dotou a metade do seu Padroado à Sé de Tui e a seu bispo Dom Jorge no ano de
1071 com o lugar de Prado, que ainda então não devia ser paróquia, e outros bens e vassalos. Em 13 de Abril de
1156 que vem a ser o ano de 1118, deu à mesma Sé e ao bispo Dom Afonso a quarta
parte da mesma igreja, Onega Fernandes, parece que sendo viúva, com filhos Paio Dias e Argenta Dias, que
confirmaram esta doação, a qual tomou o hábito de monja, entendemos que em
Paderne, e nesta mesma deu também o que lhe tocava e na de S. Martinho de
Valadares (Alvaredo). Ultimamente, a rainha Dona Teresa e seu filho Dom Afonso
Henriques da era de 1163 que é o ano de 1125 deram ao mesmo bispo esta igreja e
dizem na doação que lha dão inteira. Mas a meu ver, seria o quarto que nela
tinham com que lhe vinha a ficar in folidum. É abadia secular do Ordinário com
as duas anexas que se segue, tem a quarta parte dos dízimos, importa sessenta
mil réis, ao todo cem mil réis; o outro quarto a que chamam a renda do Castelo,
leva-a a Casa de Bragança e a metade a Mesa Arcebispal. Tem duzentos vizinhos.
- S. Lourenço
de Prado, vigararia anexa a S. Paio, que apresenta o abade dela, rende ao
vigário cinquenta mil réis, os dízimos vão na Matriz. Tem cento e quinze
vizinhos.
- S. João de
Remoães, vigararia do mesmo abade, a quem é anexa, rende ao vigário vinte e
cinco mil réis, os dízimos vão para a Matriz. Tem oitenta e dois vizinhos. Aqui
está a Juradia da Várzea sujeita a Melgaço, mas da freguesia do Mosteiro de
Paderne em terras de Valadares."
Extraído de: COSTA, António Carvalho da, (1712) - Corografia
portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal. Tomo III; Officina
de Valentim da Costa Deslandes, impressor de Sua Magestade; Lisboa.
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