sexta-feira, 9 de junho de 2017

A capela de Nossa Senhora de Guadalupe (Paderne - Melgaço): notas históricas e arquitetónicas


As referências históricas a esta capela são bastante escassas. As mais antigas datam de 1551 onde encontramos uma obrigação à fábrica da ermida de Nossa Senhora "d'Água do Lupo", assim designada na época, a favor de João Alves e sua mulher Isabel Leuvente, moradores na freguesia de Paderne, os quais erigiram uma capela no lugar de Crastos e pedem licença para lá se rezar missa.
Aparentemente a estrutura que suporta o sino foi construída em 1730 já que esta data se encontra lá inscrita. Nas Memórias Paroquiais de 1758, o prior de Paderne faz referência à capela de Nossa Senhora de Guadalupe no lugar de Crastos, “erguendo-se fora do lugar, num sítio mais alto, e tendo um altar onde estavam as imagens da Senhora, de Santo António e Santa Rita.
Num artigo do etnólogo José Leite de Vasconcelos, acerca de umas escavações arqueológicas no Castro da Cividade (Paderne) feitas em 1903, aparece referência a esta capela nestes termos “A Senhora de Guadalupe venera-se numa capelinha que fica perto do lugar de Crastos (a menos de um km), na freguesia de Paderne." O investigador na época ouviu esta quadra de um morador na Cividade:


Senhora d’ Agua de Lupe
Nem uma folha lhe destes:
Os Mouros da Cividade

Não faziam o que tu fizeste!

O autor prossegue: "O povo do Minho, sentimental como é, acrescenta: vinha o inimigo, isto é, os cristãos, em cima dos mouros e eles, coitadinhos, viraram-se para a senhora, sem os outros saberem, e pediram-lhe, mas em vão, que detivesse os contrários". Pelos vistos até os mouros tinham fé na Senhora de Guadalupe...

A capela apresenta um planta longitudinal de massa simples com sacristia adossada à fachada lateral esquerda. Os volumes são escalonados e coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na capela e de uma na sacristia, na continuidade da primeira, rematadas em beirada simples. As fachadas são construídas em cantaria aparente, terminadas em cornija e com os cunhais horizontalizados e coroados por pináculos piramidais com bola, sobre plintos paralelepipédicos. A fachada principal encontra-se voltada sudeste e termina em empena, com friso e cornija, truncada por estrutura sineira em arco de volta perfeita sobre pilares, albergando sino e rematada em empena, percorrida por sulco e com a data de 1730 inscrita. A mesma é rasgada por portal de verga sobre os pés direitos, encimado por fresta de capialço e ladeado, à esquerda, por uma outra. A fachada lateral esquerda é rasgada por porta de verga recta sobre os pés direitos e a oposta por fresta de capialço. A sacristia termina em meia empena e é cega. A fachada posterior com capela-mor é igualmente cega e terminada em empena, coroada por cruz latina de braços quadrangulares sobre plinto paralelepipédico, e a sacristia encontra-se rasgada por janela rectangular jacente, gradeada. O interior possui as paredes rebocadas e pintadas de branco. O coro-alto de betão acedido por escada disposta no lado do Evangelho e com guarda em falsos balaústres de madeira.


Informações extraídas de:
- CAPELA, José Viriato(2005) - As freguesias do distrito de Viana do Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758, Braga, Casa Museu de Monção.
- VASCONCELOS, J. L. de (1933) – Castros lusitanos I. Cividade de Paderne. in: Revista Archeólogo Português.

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