Com o golpe militar de 1936 em Espanha, vários pontos da raia foram
rapidamente controlados por tropas militares e polícias da PVDE (precursora da
PIDE) e da Guarda Fiscal, para precaver a possível fuga de galegos para
Portugal. A vigilância da fronteira desde o levantamento militar em Espanha foi
um assunto estratégico para os portugueses que não viram com bons olhos a
entrada ilegal de refugiados no seu território sobretudo se eram comunistas. O
número de militantes das organizações de esquerda galegas que entrou em
Portugal foi muito significativo entre Agosto e Dezembro de 1936, data em que a
fronteira terrestre entre Espanha e Portugal passou a estar controlada
definitivamente pelos militares golpistas.
Em finais de Julho de 1936, quando o território galego
passou para as mãos dos insurretos, os portugueses distribuíram as suas tropas
pelos postos fronteiriços como reforço da permanente e ativa vigilância dos
primeiros dias. A partir de então, para entrar legalmente em Portugal era
necessário estar provido duma carta do cônsul do respetivo país que garantisse,
quer não ser portador de ideias extremistas como também não ter antecedentes
penais. Os requisitos legais eram maiores caso os refugiados fossem
provenientes de áreas republicanas em Espanha, já que então havia que
acrescentar nomes de pessoas idóneas que os avalizassem, consequência do fervor
anticomunista que dominava Portugal. Lembramos que 1936 foi o ano da criação de
várias organizações de enquadramento de mulheres e jovens, mas sobretudo foi o
ano de inauguração da prisão do Tarrafal, construída na parte norte da ilha de
S. Tiago de Cabo Verde.
Logo nos primeiro dias do conflito bélico, ocorrem as
primeiras aparições de galegos em território português. Predominavam os
indocumentados, mas sobretudo pessoas conotadas com a esquerda. Das 22
passagens legais entre Galiza e Portugal, os galegos que fogem de Franco e da
repressão utilizam de forma oficial os postos fronteiriços de Caminha, Vila Nova
de Cerveira, Valença, Monção, Peso (Melgaço), e S. Gregório, todas ao longo do
rio Minho; Vila Verde de Raia, na estrada de Chaves-Orense e às vezes também
nos postos de Portela e Quintanhilha, na região de Bragança. Não era fácil
controlar o trânsito ilegal de
refugiados neste longo território fronteiriço entre os dois países. De facto, a
polícia política portuguesa estava seriamente preocupada pela passagem
clandestina de muitos galegos a Portugal, especialmente na raia seca, pelo que
em várias ocasiões a Direção da PVDE solicitou ao Ministério do Interior que se
realizassem batidas nas zonas montanhosas fronteiriças de Portugal, onde
permaneciam escondidos bastantes refugiados galegos.
Em finais do mês de Setembro de 1936, já havia quase 400
presos espanhóis registados em Portugal, a maioria repartidos entre o velho
forte militar, o Reduto Norte do Forte de Caxias, e a prisão debaixo do
controlo da PVDE em Bragança, um dos espaços geográficos do norte de Portugal
com maior presença de refugiados galegos. Entre esses refugiados detidos
estavam muitos dos que cruzavam a raia nos primeiros dias depois do golpe
militar. Manuel Pérez Rodriguez era um deles. Quando rebentou a guerra, tinha
vinte e três anos, todos passados na sua aldeia raiana de San Lourenço da Illa,
no concelho de Entrimo. O dia seguinte ao golpe fugiu para Portugal, junto com outros
quinze habitantes dos concelhos raianos da Baixa Límia. Saíram da sua aldeia,
da Illa, calcurrearam a serra granítica do Quinxo, junto a Olelas, e baixaram o
imponente desnível até ao rio Laboreiro para atravessar a raia e procurar a
salvação ao terror que suspeitaram que ia acontecer na Galiza.
Os dias seguintes, outros galegos fizeram o mesmo que
esses outros 16. Entre esses galegos que fugiam a Franco e da repressão,
predominavam civis de filiação republicana ou esquerdista, mas também havia
alguns militares, carabineiros e guardas civis, e a partir de 1937, reservistas
galegos que rejeitavam mobilizar-se para
o serviço militar ou para ir para as frentes de guerra.
Desconhecem-se com exatidão o número de galegos que escolheram
Portugal para fugir de Franco e da repressão. Só no primeiro semestre da guerra
civil, o número de refugiados espanhóis na freguesia de Castro Laboreiro, no
concelho de Melgaço, ainda que não fosse estável, era, segundo testemunhos
orais, uma cifra que se situava entre quatrocentas e oitocentas refugiados.
Aqui chegavam muitos galegos depois do início da guerra civil e posteriormente
vários grupos de asturianos escapados da caída da frente norte, onde
participavam como clientes ou como ativistas na rede de obtenção de documentos
que funcionava ao longo da fronteira.
Outros refugiados atravessaram a raia com documentação
falsa, na que utilizavam identidades de familiares falecidos de origem
brasileira ou argentina, em que os lugares de residência substituídos por
hospedarias ou por casas de portuguesas que os acolhiam, como a Quinta do
Hospital da freguesia de Ceivães, o Hotel Internacional de Monção, a Pensão
Internacional de Monção, a Casa do Emigrante de Ponte de Lima, e outros tantos.
Estes falsificadores provam que havia uma considerável rede de contactos em
território português para aqueles galegos que queriam aquela documentação para
circularem pelo país. A identidade como cidadão americano garantia um melhor
trânsito por Portugal sem temer serem detidos e sem esperarem demasiado o
embarque para a América do Sul. Essa rede completava-se com contactos nas
agências de emigração e mesmos em certos consulados de Portugal. O ministério
espanhol de Asuntos Exteriores queixou-se em mais de um ocasião pela atitude
dos seus cônsules que autorizavam o trânsito de espanhóis em Portugal sem
esperar a confirmação oficial dos governadores civis. Em todo o caso, estamos a
falar de passaportes falsificados e de documentação obtida de forma ilícita,
que deviam ter um custo final elevado. Em vários países europeus, os
passaportes portugueses chegavam a valer 70 000 francos, 2000 liras ou 3000
marcos durante os anos 30 quando os judeus em fuga de Hitler pretendiam vir
para Portugal.
Contudo, não devia ser fácil arranjar documentação para
circular por Portugal. Na branda da Seara, na freguesia de Castro Laboreiro,
esconderam-se vários refugiados galegos, camuflados nas fragas próximas, mas
protegidos por alguns dos castrejos daquelas serras agrestes, reincidentes em
acolher refugiados galegos. Entre estes, ocultava-se uma família inteira de
galegos à espera dessa desejada documentação: Eudosia Lorenzo Diz, antiga
professora em Lobeira, o seu filho pequeno
e seus pais e os seus pais, Agustin Lorenzo Puga, “O Masidário”, e
Basilia Diz González, que para não levantar suspeitas não vestiam o trje típico
dos castrejos, como se integravam nas suas habituais migrações anuais entre as
brandas e as inverneiras. A polícia portuguesa, que teve na sua mesa durante
bastantes meses uma ordem de busca e captura dos “Masidários”, recebeu
continuamente informações contraditórias da sua presença em diversas brandas e
inverneiras da freguesia, mesmo nos lugares fixos dos Ribeiros, de Cima e de
Baixo, por onde era cada vez mais frequente ver as quadrilhas de fugidos
galegos e asturianos. Finalmente, os “Masidário” seriam detidos no Posto da
PVDE em Maio de 1938 e expulsos pelo porto de Lisboa três meses depois rumo a
Casablanca (norte de África).
Nesse contexto de ambígua permissividade das autoridades
portuguesas, cresciam os grupos de refugiados galegos no norte de Portugal.
Desde Fevereiro de 1937 que escapara da sua aldeia raiana de Ferreiros por
rejeitar o o recrutamento militar, Xosé Fernandez Gonzalez, “O Riso”, e
estabeleceu-se no lugar do Ribeiro de Baixo (Castro Laboreiro), que distava uns
poucos quilómetros da sua casa e onde permaneciam escondidos alguns vizinhos do
seu concelho e desde finais de 1937 um grupo de asturianos que circulavam com
certa facilidade em toda a raia seca. “O Riso” converteu-se num dos elementos
de contacto entre estes grupos de refugiados e o Partido Comunista Espanhol,
sobretudo a partir do fim da guerra civil. Também quando terminou o conflito
bélico, Manuel Peréz Rodríguez, cruzou de novo a raia para instalar-se em
Portugal no Ribeiro de Baixo (Castro Laboreiro), onde os castrejos lhe
arranjaram uma casa e comida.
No fim da guerra civil, na Serra de Castro Laboreiro, o
Partido Comunista Espanhol mantinha um ponto de apoio de entrada em território
espanhol controlado por vários dos refugiados que ali operavam e que
tinham como base operações as já citadas
duas aldeias, o Bibeiro de Baixo e Ribeiro de Cima, muito próximas das aldeias
galegas de Pereira e Olelas…
(CONTINUA)
Extraído de: GALLARDO, Angel Rodriguéz (2007) - Refuxiados e Fuxidos nos Montes de Laboreiro. Cuaderno Arraiano, Verão 2007.
Je suis le " jeune " fils Paul " menor " d'Eudosia dans cette histoire datant de 1938 .
ResponderEliminarJe tiens à préciser que ce jeune enfant dans le Recit , devait être soit mon oncle Manuel Lorenzo = " Manolo Masidario " soit un enfant de circonstance que ma mere portait avec elle car il servait de stratagème pour compliquer la tâche des forces répressives .en effet une jeune mere avec un enfant jeune est toujours une situation plus compliquée à gérer pour la police aux frontières .... Extrait de la lettre de ma mere Eudosia : El 18 de Julio 1936, empezô la Guerra ". Ya empezô la persecucion ; los hombres se sentian perseguidos ,se escondian ; las esposas le llevaban la comida por la noche , Como la Guerra se prolongaba empezaron A atravesar la frontera DE Portugal ; alli tambien eran perseguidos por los guardinhas del presidente Salazar; se escondian en aquellas montanas,.
ALGUNOS ERAN DETENIDOS ,y ENTREGADOS A la guardia Civil Espanola ,UNOS ERAN FUSILADOS y otros MANDADOS al FRENTE ,SEGUN el HUMOR del que los recibia .Comme relaté l'affaire le sort d'un homme dépendait uniquement des afects d'un autre homme .
Dans cette affaire de Refugies clandestins complètement d'actualité( les lois actuelles ont en charge de traiter cette problématique ) , il est important de préciser que l'officier qui recevait la personne sans papiers avait un rôle très important pour le sort de ces malheureux " sans papiers indésirables et appelés " indocumentados "