sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O mistério da existência do Mosteiro de S. Paio de Paderne


Um dos grandes mistérios para os historiadores interessados pela História melgacense é a existência do antiquíssimo Mosteiro de S. Paio, que, a ter existido, seria mais antigo do que o de Paderne e bem anterior à própria independência de Portugal. Contudo, as raras referências documentais e outras provas históricas colocam algumas reticências.
No livro "Corografia  portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal", de 1706, da autoria do Padre Carvalho da Costa, é defendido que terá existido um mosteiro em S. Paio e que ainda estaria ativo ainda no século XI. No mesmo livro, pode ler-se que "S. Payo é o mesmo que Sandoval chama Mosteiro de S. Payo de Paderne, haveria-o sido antes dos Mouros, e a Infanta Dona Urraca, filha del Rey Dom Fernando, o Magno, dotou a metade de seu Padroado à Sé de Tuy, e a seu Bispo Dom Jorge no anno de 1071 com o lugar de Prado, que ainda então não devia ser Parochia, e outros bens e vassalos. Em 13 de Abril da era de 1156 que vem a ser  o anno 1118, deu à mesma Sé, e ao Bispo Dom Afonso a quarta parte da mesma igreja Onega Fernandes, parece que sendo viúva e com filhos Payo Dias e Argenta Dias, que confirmaram esta doação, a qual tomou o hábito de Monja, entendemos que em Paderne, e nesta mesma deu também o que lhe tocava e na de S. Martinho de Valladares. Ultimamente, a Rainha Dona Theresa, e seu filho El Rey Dom Affonso Henriques da era de 1163 que é o anno de 1125 deram ao mesmo Bispo esta igreja e dizem na doação, que lha dão inteira. Mas a meu ver seria o quarto que nela tinham com que lhe vinha a ficar in folidum."
Há umas décadas atrás, um dos grandes defensores da existência do mosteiro de S. Paio era o saudoso Padre Bernardo Pintor, grande investigador da História da nossa região. Numa das suas obras, pode ler-se que "Pode haver quem julgue ser o Mosteiro de S. Salvador de Paderne o mesmo que o antigo S. Paio de Paderne, tendo havido transferência do mosteiro ou mudança do titular, mas tal não sucedeu. Eram dois mosteiros completamente distintos na mesma terra de Paderne, que coexistiram e a cujos territórios correspondem duas freguesias completamente independentes uma da outra através de todos os tempos.
Do mosteiro de S. Paio, que deve ser mais antigo, poucas notícias nos restam. Vimos que a infanta D. Urraca deu metade à Sé de Tui em 1071. Em 1118 D. Onega Fernandes fez à Sé de Tui «kartam donationis de quarta parte ecclesie Sancti Pelagii de Paterne», em reparação pelo sacrilégio do seu filho Paio Dias que não respeitou o lugar sagrado matando um homem na igreja de S. Tiago de Penso. Em 1125 D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, confirmou à Sé de Tui a antiga doação ou testamentum Regis Teodomiri em que se inclui «Ecclesiam Sancti Pelagii de Paterni», cedendo-lhe, naturalmente, a quarta parte restante.
Nestas duas escrituras chama-se a S. Paio Igreja em vez de Mosteiro, mas os entendidos sabem que estas denominações se equivalem muitas vezes.
Temos ainda notícias do mosteiro de S. Paio no ano de 1156. A diocese de Tui abrangia em Portugal o entre Minho e Lima. No sobredito ano o bispo D. Isidoro e os cónegos da sua Sé fizeram entre si partilha dos rendimentos eclesiásticos, e na meação dos cónegos ficou «Ultra Mineum in Valadares Monasterium S. Pelagii de Paterni cum omnibus Ecclesiis & pertinentiis suis».
Até quando S. Paio de Paderne foi mosteiro, não sei. É preciso conhecer-se bem a engrenagem antiga dos mosteiros para se saber quanto a sua vida dependia dos caprichos de seus herdeiros e de quantos deles se amparavam.
Perdura ainda a freguesia de S. Paio que oficialmente não tem outro nome. Muitos lhe chamam de Melgaço, em contraposição a Santa Maria da Porta da Vila de Melgaço, sendo assim nomeada também em documentos, mas o povo das redondezas ainda lhe chama S. Paio de Paderne. A sua igreja, distante da igreja da vila quase três quilómetros, dista menos de um da do Salvador de Paderne.
Convém lembrar que, embora as divisões civis e eclesiásticas se tenham acompanhado, nem sempre se têm correspondido.
Paderne estava na Terra de Valadares, concelho extinto há uns cem anos, que no eclesiástico fora um arcediago com assento na Sé de Tui. Dentro do julgado de Valadares, obedecendo a razões históricas que seria longo expor, formou-se o concelho de Melgaço com fortaleza construída, se não restaurada, por D. Afonso Henriques e foral outorgado pelo mesmo Rei. O perímetro atribuído a Melgaço, que não está demarcado no documento, mas deve ter seus fundamentos na étnica e tradição, abrangeu o território de S. Paio de Paderne e ainda do território de S. Salvador de Paderne o que estava fora dos limites consignados na carta de couto outorgada à abadessa D. Elvira em 1141. De S. Paio de Paderne desmembraram-se duas pequenas freguesias: uma é do Prado cujo germe nos aparece já na doação de D. Urraca em 1071, e a outra é Remoães. A igreja de S. Paio, que só vi uma vez em estudante e cuja traça ao tempo não fixei, era sui generis. Tinha duas naves, uma das quais mais alta e mais larga, separadas por arcarias longitudinais cada uma com seu altar-mor e sua parte principal de estilo românico com arquivoltas. Dizia-se no povo que a nave menor era a antiga paroquial de Prado.

Por acanhada e insuficiente para a vida da paróquia, foi reconstruída pelo falecido Padre Raimundo Prieto, seu último Abade colado já adentro da República, que inconscientemente praticou um crime de lesa-arte, mas teve o bom gosto de conservar um dos pórticos da frente e o melhor de seus altares de estilo renascença."



Fontes consultadas:

- COSTA, António Carvalho da, (1706) - Corografia  portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal, Lisboa; Officina de Valentim da Costa Deslandes, impressor de Sua Magestade, vol. I.
- PINTOR, Pe. Manuel António Bernardo (2005) - Obra Histórica. Edição do Rotary Club de Monção.

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