Melgaço é conhecido
desde fins do século XIX como terra de águas milagrosas. Das nascentes da
estância termal do Peso, nasce uma água com caraterísticas ímpares em Portugal,
especialmente no tratamento da diabetes e que foi descoberta há cerca de 130
anos.
Todavia, desde há várias séculos, há
referências a nascentes de águas com caraterísticas medicinais que os fregueses
sempre acreditaram que curavam determinadas doenças. Noutros artigos
anteriores, já aqui fiz referências às Caldas de Fiães e Paderne e outras
nascentes em outros pontos do concelho.
No século XVIII, temos as Memórias
Paroquias como uma das mais importantes fontes históricas para nos ajudar a
compreender como era Melgaço na época. Mas o que são as memórias Paroquiais de
1758?
Um aviso de 18 de Janeiro de 1758 do
Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo,
fazia remeter, através dos principais prelados, e para todos os párocos do
reino, os interrogatórios sobre as paróquias e povoações pedindo as suas
descrições geográficas, demográficas, históricas, económicas, e
administrativas, para além da questão dos estragos provocados pelo terramoto de
1 de Novembro de 1755. As respostas deveriam ser remetidas à Secretaria de
Estado dos Negócios do Reino. Desta forma, estas Memórias Paroquias
correspondem a um conjunto de respostas dadas a esse inquérito.
Um dos itens sobre os quais os párocos
eram questionados, era a existência ou não nas paróquias de nascentes de águas
curativas bem como as suas caraterísticas e prescrições.
Em Melgaço, vários párocos fazem
referências a nascentes nas suas memórias paróquias em 1758. Um deles é o
pároco de Castro Laboreiro que nos conta que na chamada Ribeira do Porto dos Asnos existe uma “(...)
água que tem virtude para curar as chagas, e forragem da boca nos meninos
lactantes, em que mais comumente se acha este dano”. Tais virtudes das águas desta ribeira são confirmadas no livro do
Padre Carvalho da Costa no seu livro “Corografia Portuguesa” (1706) quando este
afirma que “quando himos do Porto dos Asnos, ou Cavalleiros, passamos
outro limitado ribeiro, pelo qual foy a pé o Santo Arcebispo Dom Frey
Bertholameu dos Martyres a visitar aquella Igreja. Tem virtude esta água para
curar a boca lixosa às crianças e outras enfermidades”.
Por outro lado, o pároco de Penso, também
nos fala de uma fonte de nascente junto ao rio Minho que é conhecida há séculos
como a Fonte Santa. O sacerdote escreveu nas Memórias que “(...) se lhe chama por tradição antiga a Fonte Santa,
tem a água dela várias virtudes. Tem a água desta fonte um cheiro de enxofre
mas no sabor não tem mau gosto. É muito clara e muito fresca, somente o cheiro
de enxofre tem a circunstância que lançando-se na dita água alguma prata a põe
em breves instantes amarela como perfumada de ouro e logo se tira da água
esfregando-a com os dedos da mão se alimpa e fica como dantes limpa. Por donde
corre água da dita fonte deita um limo pelo rego da cor do mesmo eixofar”. O padre escreve ainda que a água emanada desta
fonte era indicada “(...) especialmente para queixas de destemperança
de fígado, lepra e outras mais queixas que procederam de humores quentes. Tem
mais a virtude que quem beber da água dela lhe abre a vontade de comer se tiver
fastio (...) e lavando alguma ferida com a água dela são especialmente se for
presidida deste […] do fígado tem sido muita gente que vem tomar banhos a ela
recuperando a saúde perdida de água milagrosa”.
Podemos ainda ler nas
Memórias Paroquiais de Chaviães, onde o vigário nos fala de umas águas que
nascem nas margens do rio Minho ou emergem no meio deste. O dito sacerdote
carateriza essas águas como “Salutíferas, medicinais, asidulas por
passarem por minerais de ferro (…) e costumam onde nasce, correr pouca água,
deixar por cima um lasso prateado com algumas feses douradas”. O
vigário fala-nos que estas águas “tem virtude eficaz para curar feridas
porque são um conjunto de várias águas e muitas delas são sulfúreas que nascem
pela borda do dito rio e outras nasceram no centro dele e pelas áreas de ouro”.
Ainda em relação às águas do rio Minho, o
vigário de Chaviães escreve nas Memórias Paroquiais que “hum célebre
médico castelhano, (…) D. Jozé Lavandera (…) fez nelas suas experiências e foi
maravilhado dellas, dizendo que tinham a mesma virtude que as de [Prixmoni?],
em Inglaterra”.
Como vemos, as crenças nos poderes
curativos das águas de diversas nascentes no nosso concelho de Melgaço é muito
mais antigo que o conhecimento das virtudes das águas do Peso…
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